segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Educação precisa de respostas?



Há um empenho muito grande em procurar respostas para a educação vide a campanha do grupo RBS intitulada "A Educação Precisa de Respostas" (foto). Não seria mais eficaz  produzir questionamentos e problematizações sobre a escola? Abri-la, vasculhar seus meandros e segredos? Dificilmente questionamos a instituição, suas regras, suas normas e seus valores: questões intocáveis. Ouvimos repetidamente: “ todos dentro da escola, em tempo integral, desde a primeira infância”.Dificilmente duvidamos do seu ordenamento, do seu processo. Só olhamos os resultados. Procuramos os culpados pelo insucesso: os pais, os alunos, os professores ou os governos; jamais a lógica e a rotina estrutural da instituição escolar.



            Normalmente confundimos ensino com educação. São ordenamentos diferentes, quase excludentes. Ensino diz respeito à instrução, informação de saberes e fazeres de algo ou alguém que já fez, concluiu, acumulou e precisa ser transmitido e assimilado por alguém que não sabe, não concluiu e nem acumulou.      Educação diz respeito à processualidade, dialogicidade, construção humana, desenvolvimento de potências, de afetos, autonomização, comunicação e convivência democrática. 

            Tem se evidenciado difícil a possibilidade de ensinar e educar num mesmo ato, ao mesmo tempo. Ensinar é uma ação hierárquica, monológica, desigual, fechada, com resultados e respostas únicas. Educar é ação horizontal, dialógica, inconclusa, emancipatória, aberta ao devir dos sujeitos.

            A escola sempre foi, até então, promotora de ensino e instrução. Toda sua estrutura de tempo, espaços de poder, relações interpessoais, lembram as estruturas dos quartéis e das fábricas, cujas características podem ser descritas como a de que todos devem assimilar os mesmos conteúdos, ao mesmo tempo, num mesmo espaço e num só ritmo; incentivo à competição, individualismo, inatividade, com restrição às manifestações (falas), mera coincidência com a “ordem unida”, desconsiderando as diferenças, as necessidades e peculiaridades dos sujeitos concretos.  Mensalmente aplicam-se provas, testes, trabalhos para medir e testar a qualidade da “matéria prima” que precisa ser beneficiada. Muros cada vez mais altos, para ninguém fugir, câmaras de vídeos pelos corredores, salas e banheiros, auxiliares de disciplina, vigilantes nos pátios, práticas de confinamento. Enfim, uma máquina engendrada na tentativa, cada vez mais difícil, de domesticação de corpos, mentes e desejos de crianças e jovens.  



            Certamente, na escola de resultados e  respostas, na proposta dos governos e parte da sociedade, é conveniente não questionar essa “caixa preta” pois ela está moldada para formar cidadãos obedientes, submetidos a um padrão de consumo e de comportamento e  pouco críticos e criativos, bem ao gosto do sistema econômico e social que vivemos.
             Os jovens e as crianças se recusam a serem ensinados desta forma, o que pode ser considerado uma saudável resistência. Pouca aprendizagem, repetência, evasão e indisciplina são alguns sintomas deste mal estar epidêmico nos alunos e professores de nossas escolas.

            Educação não faz crescer o PIB, educação faz crescer o FIB (Felicidade Interna Bruta). O Ensino fazia crescer o PIB, já não faz mais, pois a realidade mostra que o PIB cresceu. Apesar da crise na educação escolar, somos o 6º no ranking mundial, mas o 88º no ensino. Crescimento econômico não depende mais, necessariamente, do ensino.

 A produtividade do trabalho depende, cada vez mais, das pessoas entrarem no circuito de comunicação com redes e grupos disseminados em toda a sociedade. É o “Intelecto Geral” (Marx) socializado em toda a sociedade e plugado pela enorme capacidade de aprendizagem que todas as pessoas têm. A sociedade é pedagógica, ensina, educa, porque somos eternos aprendizes, apesar da escola.
            O ensino fazia crescer o PIB quando o ritmo da escola e do seu ensino era adequado ao modo de produção da sociedade industrial. Atualmente há um descompasso entre a lentidão da estrutura de ensino e a velocidade do conhecimento na sociedade da comunicação e do conhecimento, chamada também de sociedade pós-industrial. Defasagem também entre os valores da escola: competição, sucesso pessoal, individualismo, repetição de conhecimento acumulado, entre outros e os valores e habilidades  do trabalho e da produção no mundo contemporâneo, quais sejam: cooperação, comunicação, trabalho em rede, produção de sentido e de afetos e capacidades inventivas.


Sendo a escola um espaço de encontro de pessoas, ela pode sim se constituir num espaço de potencialização dos sujeitos, desde que suas portas se abram para o mundo, suas rotinas e práticas se dinamizem e funcionem de forma horizontal, circular, na conversação, no diálogo, nos desafios problematizadores, que instigam a pesquisa, a aprendizagem inventiva, a comunicação, os afetos, a busca de reinvenção de si e dos modos de produzir e de conviver com a natureza.

7 comentários:

  1. Sempre tão concisas e contundentes as intervenções de vocês queridos amigos! Obrigada por compartilharem essa reflexão.
    Estou vivendo a crise dos 21 anos na docência, me sinto cada vez mais sozinha nessa busca por uma educação que converse com a vida dos sujeitos e encontre sentidos em seus currículos produzindo vida e não aprisionamento.
    Tenho receio de sucumbir antes de chegar aos 25, 30, 40 anos de docência e, por mais que acredite que é possível fazer algo mais significativo e próximo a promoção da vida na educação temo não ter forças para sobreviver as intempéries do cotidiano que são cada vez mais cruéis com quem insiste em andar na contramão da história fazendo o contraponto dessa sociedade da produção e do trabalho pelo resgate do sujeito e sua dignidade.
    Abraço carinhoso para vocês, sigamos lutando.

    ResponderExcluir
  2. Oi amiga, baixa do youtub o filma Educação Proibida. Vais gostar muito. Foi o filme de maior bilheteria na Argentina nos últimos tempos. Não desanimes, tem muito que fazer ainda e apesar das estruturas, somos potências humanas capazes de realizar processos emancipatórios. Acontecem coisas maravilhosas nas atividades de muitos professores e de muitas escolas. Eu gostaria de ainda estar na ativa. Acho que faria muito melhor o que fiz. Continuo lendo, estudando mas o tempo passa e meu tempo vai se esgotando. Tens tempo ainda, continue na luta. Vale a pena. Te amo guria!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo carinho e pela força amiga, certamente não pararei de lutar por uma educação emancipatória, amorosa e humanizadora enquanto estiver respirando e podendo falar... Tu és um exemplo de luta e de prática para todos e todas nós. Também te amo muito!

      Excluir
  3. Muito se avançaria se um grupo de mestres em cada escola pudesse se reunir e partilhar angústias e alegrias, rompendo com centenárias estruras e relaçoes que a escola vive.,tirando o fardo da missão civilizatória dos ombros e assumindo o fardoda vida das crianças e jovens.

    ResponderExcluir
  4. Com o PT no poder, não iremos a lugar nenhum NUNCA!

    ResponderExcluir
  5. Prezado anônimo, já estive em cargo público do PT e me esforcei muito, muito mesmo para mudar algumas coisas. Também carrego algumas frustrações com TODOS os governos que já tivemos, inclusive com o atual, mas não creio que as transformações necessárias venham pela mudança de governo ou pelas vias institucionais, de cima para baixo, virão do protagonismo dos sujeitos, na potencia da invenção de si e do mundo, nas ações, nos fazeres dos sujeitos, as vezes sabotando o sistema, mas sempre na conversação, na afetação grupal, na cooperação. Quero observar que um bom governo, que valorize os professores, que democratize as instituições e as relações, pode ajudar muito. Hoje não estou em nehum cargo público, mas continuo muito interessada no tema da educação. Abraços e obrigada por ler o que escrevi.

    ResponderExcluir
  6. APOIADO TEREZA!!!!! :D
    Concordo plenamente com sua posição.

    ResponderExcluir