domingo, 28 de outubro de 2012

“PARTO NORMAL? Não acredito!”



De tanto ouvir expressões de espanto sobre o fato de minha filha Lúcia (foto) ter parido o Antônio de parto normal, fui investigar o assunto.



Parto Normal -Normalmente interpretamos como normal algo que é muito adotado e reconhecido por todos, por ser rotineiro. Trazendo isso como premissa, na questão dos partos, no Brasil, parto normal significa parto por cesariana porque é a forma mais adotada para trazer à luz os bebês. Portanto, no Brasil, o parto normal é a cesariana, o parto vaginal deixou de ser o normal, tornou-se exceção.

Qual a realidade brasileira em relação aos partos?
De acordo com a OMC (Organização Mundial da Saúde) o Brasil é o país campeão mundial no uso das cesarianas. Segundo essa órgão, as pesquisas mostram que em torno de 15% das gestantes realmente necessitam de cesarianas devido a algum tipo de complicação, com a mãe ou com o bebê, tais como o posicionamento do bebê no útero ou a falta de dilatação na mãe, para a passagem da criança, além de outras complicações de saúde em que é recomendado a cesariana, pelo bem do bebê e da mãe.
É um ótimo recurso da medicina; o problema é que de exceção a cesariana passou à regra  geral.
Há países na América Latina em que a cesariana é um acontecimento, causa espanto, pela sua raridade. É o caso do Uruguai.
No Brasil as regiões Sul e Sudeste são as que apresentam os mais altos índices de cesarianas, superando os 50%. Há hospitais particulares onde os índices chegam a 100% dos partos e na maioria dos hospitais particulares os índices superam os 70%. As pesquisas mostram que quanto maior o nível de renda, maior o índice de cesarianas pré-agendadas, em que a gestante não espera entrar em trabalho de parto e não chega a sentir nenhum tipo de manifestação dolorosa anunciando a hora do bebê nascer. A hora é determinada pelos médicos assessorados pelos ultrasons.



Os estados em que o percentual de cesáreas é menor são o Acre e Amapá. Esses estados ajudam a puxar para baixo o percentual de cesarianas do país, fazendo com que fique em torno de 50%, ainda assim o maior do mundo.
Consegui com uma médica, que obteve diretamente da fonte, a informação sobre o percentual real de partos naturais (vaginais) realizados no Hospital de Caridade de Santa Maria. De janeiro à metade de setembro deste ano, o percentual chegou a 1,3% dos partos realizados nesse hospital.
Percebemos isso no curto espaço de tempo em que minha filha esteve no referido hospital para parir o Antônio. No quarto coletivo em que baixou por uma noite, havia mais duas parturientes, tomando soro com medicação para pararem as contrações e realizarem cesarianas. Conversando com elas sobre as razões, o argumento era de que o parto por cesariana seria melhor para elas e para os bebês, segundo suas obstetras. Pura produção de medo.


Produção do medo:
Medo da dor;
Medo de o bebê passar da hora;
Medo de não ter quem atenda o parto normal, em caso de demora;
Medo de ficar com a vagina deformada e ser rejeitada, posteriormente, pelos companheiros;
Medo que o bebê sofra durante o parto;

Enfim, são muitas as formas de instigar o medo nas pobres mães. Nesse sentido, parece que nos últimos 30 anos não houve evolução. Vivi isso no passado. Ouvi os mesmos argumentos que minha filha ouviu, senti as mesmas dúvidas e medos que ela sentiu e não teve forma: fui forçada às cesarianas, frustração que carrego comigo e indignação também. Isso teve muitas consequências na minha vida.

Os médicos não oferecem a tranquilidade que a mãe necessita e procura no momento de maior temor e fragilidade de sua vida. Momento em que você precisa confiar, em que você não quer o risco para a vida do seu bebê e para a sua própria  vida. 

O que as gestantes ouvem de médicos e outras pessoas durante esse período pré-nascimento de seus filhos?
“Não posso ficar tantas horas do teu lado, esperando o parto normal”;
“Isso vai te custar caro, pois o plano de saúde não remunera esse tempo”;
“Anestesia só é coberta pelo SUS para as cesarianas”;
“É difícil parto natural, as mulheres não suportam a dor”;
“É arriscado para o bebê, ele pode passar da hora e entrar em sofrimento e ficar com problemas”;
“Não faço parto normal, só faço cesariana”!

Foi isso que ouvi, foi isso que a Lúcia ouviu, de diversos médicos, até encontrar um que concordou em esperar o parto natural. Além disso, os obstetras sabem que não há ambiente adequado e nem preparação adequada que incentivem e facilitem os partos naturais. A própria formação médica é precária nesse sentido, segundo relato que obtive de uma médica.
 





Riscos e custos
De acordo com informações que obtive em diversos blogs, pude concluir que:
- Os riscos de mortalidade materna são 4 vezes maiores no parto por cesárea do que no parto vaginal. No Brasil, campeão em cesáreas, morrem, de parto, 1 mulher por minuto.
- As cesarianas custam mais caro ao SUS, pelo tempo maior de internação da mãe e porque exige maiores cuidados com os bebês, principalmente nas cesáreas em que a mãe não entra em trabalho de parto, há, comprovadamente, complicações respiratórias no recém-nascido.

E o medo da dor?
Esse medo tem sido alimentado.Durante milênios as mulheres deram à luz, quando não havia procedimentos cirúrgicos. Havia sabedoria no lidar com a dor.
Comprovadamente a imersão na água relaxa e reduz a dor. Esse é um exemplo de um recurso muito utilizado pelas mães indígenas e que a cultura médica ocidental pouco utiliza.

Desumanizaram, burocratizaram e brutalizaram os partos:
Jogam as mulheres numa cama dura, deitada de costas, constrangida pela presença de estranhos, sem conforto, com medo, totalmente insegura.
Os obstetras não orientam as mulheres em relação ao preparo anterior ao parto: exercícios (ilustração), ginásticas, hidroginásticas, exercícios respiratórios, etc.



Nas cesarianas não tem dor?
Têm muitas dores, diferentes, talvez menos intensas, mas muito mais prolongadas, acompanhadas de outros tantos desconfortos: vômitos, dificuldade para urinar, para evacuar,  mobilidade reduzida, além de outras possibilidades de complicações que as cirurgias trazem.

Vantagens das cesarianas?
As cesarianas são ótimas para evitar mortes de complicações em parturientes que não poderiam parir naturalmente seus filhos.
Mas atualmente seu uso abusivo certamente atende muito mais às agendas dos médicos, que gastam menos tempo com os partos e podem atender um número bem maior de mulheres.
Creio que poderiam ser organizadas equipes de enfermagem, instalando ambientes com recursos que oferecessem maior conforto para aliviar a dor, como banheiras de água, por exemplo, além de investimento significativo na formação médica que alterasse os atuais paradigmas. Obviamente teria que alterar a política de remuneração aos profissionais e investir muito mais na estrutura necessária às mudanças no tratamento destinado às formas de se acolher as novas vidas humanas, que continuam nascendo.

Pergunta:
 Por que o Sistema de Saúde não providencia esses recursos para incentivar os partos naturais, que são mais baratos ao SUS e trazem maiores benefícios à mãe e aos bebês?
É a pergunta que incomoda e nos leva a pensar que a resposta esteja relacionada às mesmas causas que historicamente sujeitaram as mulheres e as crianças à violência e ao desrespeito.



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Educação precisa de respostas?



Há um empenho muito grande em procurar respostas para a educação vide a campanha do grupo RBS intitulada "A Educação Precisa de Respostas" (foto). Não seria mais eficaz  produzir questionamentos e problematizações sobre a escola? Abri-la, vasculhar seus meandros e segredos? Dificilmente questionamos a instituição, suas regras, suas normas e seus valores: questões intocáveis. Ouvimos repetidamente: “ todos dentro da escola, em tempo integral, desde a primeira infância”.Dificilmente duvidamos do seu ordenamento, do seu processo. Só olhamos os resultados. Procuramos os culpados pelo insucesso: os pais, os alunos, os professores ou os governos; jamais a lógica e a rotina estrutural da instituição escolar.



            Normalmente confundimos ensino com educação. São ordenamentos diferentes, quase excludentes. Ensino diz respeito à instrução, informação de saberes e fazeres de algo ou alguém que já fez, concluiu, acumulou e precisa ser transmitido e assimilado por alguém que não sabe, não concluiu e nem acumulou.      Educação diz respeito à processualidade, dialogicidade, construção humana, desenvolvimento de potências, de afetos, autonomização, comunicação e convivência democrática. 

            Tem se evidenciado difícil a possibilidade de ensinar e educar num mesmo ato, ao mesmo tempo. Ensinar é uma ação hierárquica, monológica, desigual, fechada, com resultados e respostas únicas. Educar é ação horizontal, dialógica, inconclusa, emancipatória, aberta ao devir dos sujeitos.

            A escola sempre foi, até então, promotora de ensino e instrução. Toda sua estrutura de tempo, espaços de poder, relações interpessoais, lembram as estruturas dos quartéis e das fábricas, cujas características podem ser descritas como a de que todos devem assimilar os mesmos conteúdos, ao mesmo tempo, num mesmo espaço e num só ritmo; incentivo à competição, individualismo, inatividade, com restrição às manifestações (falas), mera coincidência com a “ordem unida”, desconsiderando as diferenças, as necessidades e peculiaridades dos sujeitos concretos.  Mensalmente aplicam-se provas, testes, trabalhos para medir e testar a qualidade da “matéria prima” que precisa ser beneficiada. Muros cada vez mais altos, para ninguém fugir, câmaras de vídeos pelos corredores, salas e banheiros, auxiliares de disciplina, vigilantes nos pátios, práticas de confinamento. Enfim, uma máquina engendrada na tentativa, cada vez mais difícil, de domesticação de corpos, mentes e desejos de crianças e jovens.  



            Certamente, na escola de resultados e  respostas, na proposta dos governos e parte da sociedade, é conveniente não questionar essa “caixa preta” pois ela está moldada para formar cidadãos obedientes, submetidos a um padrão de consumo e de comportamento e  pouco críticos e criativos, bem ao gosto do sistema econômico e social que vivemos.
             Os jovens e as crianças se recusam a serem ensinados desta forma, o que pode ser considerado uma saudável resistência. Pouca aprendizagem, repetência, evasão e indisciplina são alguns sintomas deste mal estar epidêmico nos alunos e professores de nossas escolas.

            Educação não faz crescer o PIB, educação faz crescer o FIB (Felicidade Interna Bruta). O Ensino fazia crescer o PIB, já não faz mais, pois a realidade mostra que o PIB cresceu. Apesar da crise na educação escolar, somos o 6º no ranking mundial, mas o 88º no ensino. Crescimento econômico não depende mais, necessariamente, do ensino.

 A produtividade do trabalho depende, cada vez mais, das pessoas entrarem no circuito de comunicação com redes e grupos disseminados em toda a sociedade. É o “Intelecto Geral” (Marx) socializado em toda a sociedade e plugado pela enorme capacidade de aprendizagem que todas as pessoas têm. A sociedade é pedagógica, ensina, educa, porque somos eternos aprendizes, apesar da escola.
            O ensino fazia crescer o PIB quando o ritmo da escola e do seu ensino era adequado ao modo de produção da sociedade industrial. Atualmente há um descompasso entre a lentidão da estrutura de ensino e a velocidade do conhecimento na sociedade da comunicação e do conhecimento, chamada também de sociedade pós-industrial. Defasagem também entre os valores da escola: competição, sucesso pessoal, individualismo, repetição de conhecimento acumulado, entre outros e os valores e habilidades  do trabalho e da produção no mundo contemporâneo, quais sejam: cooperação, comunicação, trabalho em rede, produção de sentido e de afetos e capacidades inventivas.


Sendo a escola um espaço de encontro de pessoas, ela pode sim se constituir num espaço de potencialização dos sujeitos, desde que suas portas se abram para o mundo, suas rotinas e práticas se dinamizem e funcionem de forma horizontal, circular, na conversação, no diálogo, nos desafios problematizadores, que instigam a pesquisa, a aprendizagem inventiva, a comunicação, os afetos, a busca de reinvenção de si e dos modos de produzir e de conviver com a natureza.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ANTONIO: Meu primeiro neto

Dia 17 de setembro nasceu, de parto normal, o Antonio Dalmaso Palma, filho da nossa filha Lúcia e de Leonardo Retamoso Palma. 
O nome é muito simples, ter filho e ser avó é algo muuuuito comum. Acontece com todo mundo, mas embora tudo faça parte do cotidiano da vida, eu preciso falar de minha alegria, gosto de falar dela, de dizer a todo mundo o quanto estou e estamos todos muito felizes, em nossa familia. Abençoada filha que nos presenteou com esse neto. É maravilhoso ver a vida se renovar e ter entre nós um novo rostinho.

Já não é mais tão comum o parto vaginal. A Lúcia insistiu, foi muito corajosa e apesar das dúvidas do seu obstetra, a Lúcia o pariu, em meio a dores, é claro, receios e coragem. Ficou em casa até as dores apertarem e acontecerem de 4 em 4 minutos.Só então  eu a levei ao hospital  as 21 horas e  as 22:45 o Antonio nasceu, pesando 3 Kg. e 564g. e medindo 53 cm. Um bebezão! Eu, a Alice e o Leonardo ficamos com a Lúcia durante todo o trabalho de parto, só foi para a sala de obstetrícia, quando o Antoniio começava a apontar. Foi muito emocionante! A Lúcia foi maravilhosa!


Senti uma emoção tão grande, comparável às que senti quando do nascimento dos meus filhos.
É difícil poder escrever sobre o que senti e continuo sentindo ao ver a carinha do meu neto, ao ver a Lúcia e o Leonardo lidarem com o filho, ao ver a Lúcia amamentar. 
E como ela insistiu para amamentar! Demorou quase 10 dias para que o leite viessa o suficiente. Me doía ver o guri insistindo tanto e engolindo aos pouquinhos. E ele fez tudo certinho: pegou bem o peito, puxava (apojava como um terneirinho novo). Ao contrário do que me parece mais comum, o leite vir no terceiro dia, em volume grande que chega a empedrar no peito, com a Lúcia ele foi aumentando aos poucos. 

O Antonio perdeu peso nos primeiros dias, o que é normal, mas depois ia adquirindo peso, aos poucos. Hoje a Lúcia tem bastante leite, meu netinho está satisfeito, está engordando muito bem e é muito bonzinho. Muito saudável e calminho!

Ia dizendo que é difícil escrever sobre emoções. Eu não sei fazer isso. Só sei que sinto uma alegria enorme, misturada com uma certa preocupação de mãe (avó) que me faz telefonar todos os dias para saber se dormiu, se mamou bem, etc.
O Irineu e eu nos disponibilizamos a ajudar, mas com o prudência necessária para  não sermos invasivos.
A gente inventa umas desculpas para estar perto: fazer almoço pra todos, passar as roupinhas, dar carona ao pediatra, ajudar no banho, entre outras. No entanto queremos que a Lúcia sinta que estamos solidários para ajudar, respeitando a caminhada que eles farão para criar esse filho, com amor e cuidados.


Cada vez que olho para o Antonio eu me lembro daquela canção que eu cantava para os meus filhos: "  meu coração, não sei porque, bate feliz, quando te vê!..."
Sinto alegria em ver a alegria dos outros meus filhos com o sobrinho. Basta olhar o facebook para constatar e me comoveram muito as manifestações dos amigos e amigas que vibraram com todos nós.

Junto com a alegria vem também as preocupações: como a Lúcia fará para trabalhar? Quem vai cuidar do Antonio? Que idade é conveniente colocar na escola? Como educar, de forma que ele não se transforme num reizinho? A Lúcia fala que o exemplo de vida é o mais importante. Também acho, mas sei que não é tão simples.
É muito bom ser avó! É bom também ver a alegria do vovô Irineu! O Antonio já ocupou, definitivamente, meu coração.