segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Macondo Circus


Nesta Semana, estou comprometida com as atividades do Macondo Circus: um evento cultural, que surgiu a sete anos para divulgar Bandas de Rock, principalmente. Hoje, na sétima edição, ampliou muito as atividades musicais e culturais, constituindo-se numa semana em que, como diz no folder: " o palco onde as artes se encontram".

E não só as artes: plásticas, musicais, teatrais, grafiteiros, poesia, performance, cinema, etc., mas também diversas atividades de discussões.
Hoje, por exemplo, no SESC tem o que a coordenação chama de Cartografias da Cultura, que na verdade é uma discussão sobre "como viver juntos", com a presença de psicólogos, artistas, professores, ativistas sociais e público interessado.
Serão dias de oficinas e shows.

Minha colaboração é dar carona para os artistas que chegam de Buenos Aires, Recife, Porto Alegre e outros lugares. Pego na rodoviária, levo pro hotel, pros bares, pros eventos e vou conversando. O que me encanta é que esse povo vem, sem cachê, vem para se juntar a outros artistas, mostrar seu trabalho, trocar experiências e participar de todas as atividades.Isso torna o encontro mais rico. Com pouquíssimos recursos o festival vai acontecendo (a abertura foi ontem, muito legal) na base da colaboração, da coragem e comprometimento, de algumas pessoas, com a cultura e com a arte. São ativistas culturais e sociais.

Claro que tem os momentos no Macondo Bar, para uma cervejinha, música, dança, namoro...faz parte e é bom. Lá nós não temos ido, afinal somos um comportado casal na terceira idade.
Mas hoje nós vamos no Macondo Bar porque vai ter uma atividade que tem um nome pomposo: Mostra Internacional de Hipnose Audiovisiual, com artista de Recife. Até as 22 horas e aí tenho que dar carona pros artistas até o Hotel Morotin, lá fora. E encerro minhas atividades. Estou contente de poder colaborar.

sábado, 20 de novembro de 2010

De quem é a culpa?

Racismo, xenofobismo, fascismo...me escandalizam e me dão asco. Explico:
Dia 17 do corrente, no Jornal do Almoço da RBS de Santa Catarina, um jornalista comentava o elevado número de acidentes com mortes, ocorridas nas estradas brasileiras, no último feriadão. Forneceu os números e passou a palavra para um pseudo jornalista analisar a notícia.
Reproduzo aqui as infelizes frases do comentarista denominado LUIZ CARLOS PRATES.

De quem é a culpa dos trágicos acidentes? O comentarista energúmeno, entre outras barbaridades afirmou:

"O responsável é este governo espúrio que popularizou o crédito, oportunizando que qualquer miserável, que nunca leu um livro, mora apertado numa gaiola que chamam de apartamento, sem a menor qualidade de vida, casado, num tolera a mulher e ela não o suporta também, aí, para se distrair, pega o carro, bota a familia pra dentro, e sai a viajar. Carro velho, casal que não se tolera, a correr pelas estradas, sem as menores condições, para descarregar frustrações... dá nisso!"

É intolerável, a explícita manifestação de preconceito. Somado a isso, no mesmo dia, o jornal da Record divulga a carta homofóbica do reitor da Universidade MQuenzie, de São Paulo e a agressão (tentativa de homicídio) de alguns jovens, gratuitamente, contra um homosexual.

São manifestações de violência e de intolerância contra os seres humanos: ódio de classe, de opção sexual e de modo de vida. E esses incitadores à violência, ao pensamento segregador e fascista, não são gente sem instrução, sem informação, pobres. São comunicadores, educadores, gente que tem tudo, tem acesso às melhores escolas.

Isso parece estar crescendo e se escancarando, ultimamente. É preciso que educadores, autoridades, familias, se posicionem contra esse tipo de conduta.
O assalto à minha filha, que teve a mochila roubada por dois motoqueiros, me deixa menos preocupada e menos escandalizada, porque não mexe com a subjetividade e a formação de milhares de telespectadores, como pretendeu a RBS de Sta. Catarina. O que me consolou é que ouvi muitas manifestações de repúdio ao energúmeno Luiz Carlos Prates, que no mínimo, devia ser demitido da emissora, se realmente ela não compactua com esse tipo de pensamento.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Viver dá trabalho

Meu blog anda mais lento. Algumas coisas em compasso de espera, amadurecendo na minha cabeça, outras coisas não me envolvo e não gosto de comentar. Exemplo: Romarias, acidentes, doenças...
Mas a vida é feita disso também e todos somos afetados pelo modo de vida contemporâneo: a violência, por exemplo. Todos os dias alguém nos relata assaltos, sustos, medos...e a gente sente, de verdade, quando isso acontece com as pessoas que nos são próximas, com familiares. Aconteceu com uma filha nossa ( que foi assaltada). Mas ela está bem, é corajosa e está tomando as providências para cancelar cartões, readquirir docomentos, etc.

Estamos aí, enfrentando a vida: hoje o Irineu fez cirurgia de cataratas em um dos olhos, o outro já havia feito. Foi tudo bem. Os olhos são preciosos e não dá para descuidar. Vai um dinheirão: hospital, lente, anestesista, médicos...Mas creio que é um dinheiro bem aplicado. Estou contente porque correu tudo muito bem.

Também estamos ajudando na preparação de um grande seminário de educação e esta semana começamos a nos envolver no Macondo Circus. Vou ser uma das motoristas, a serviço dos músicos,o que muito me honra.

Vou ter pouco tempo pra escrever, mas na medida do possível vou comparecendo, dizendo que fico muito feliz quando alguém faz algum comentário. Aceito críticas e sugestões. Mesmo quando é algum anônimo, eu considero muito os comentários.

É isso, por hoje, vou levar o Irineu à clínica para o médico orientar os cuidados com a cirurgia: tem uma porção de colírios para serem ministrados. Cuidar do meu companheiro é fundamental e eu o faço com dedicação. Fui, abraços!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

REUNI EM SILVEIRA MARTINS

Tenho falado do Campus da UFSM em Silveira Martins neste blog e vou continuar falando, porque estou indignada com o que está acontecendo no referido Campus.

Lá foram aprovados cursos de tecnólogos pelo MEC e pelo Conselho Universitário, porque se tratavam de cursos compatíveis com as necessidades da região central e visando alavancar o desenvolvimento endógeno, a partir dos Sistemas Locais de Produção, com objetivo de geração de renda, para uma região que tem perdido renda e população. Houve muita pressão da comunidade da região para que esse Campus fosse aprovado.

Tenho ouvido e lido contestações ao REUNI, principalmente sob a alegação de que o governo estaria aproveitando estruturas físicas e recursos humanos existentes e com isso precarizando os cursos existentes nas universidades e que não investe dinheiro novo suficiente nos novos cursos do REUNI.
Pode ser que isso efetivamente aconteça e creio que, nesse caso, a comunidade universitária tem todo direito de pressionar.

No entanto o que acontece em Silveira não é isso.
Os cursos de Silveira estão correndo sério risco e a continuidade do Campus, a meu ver, também. Mas não porque o governo não tenha fornecido as condições exigidas.
Tenho informação fidedigna porque fiz parte do processo de discussão com a comunidade e de mobilização pela criação daquele Campus e venho acompanhando cada passo, cada acontecimento.

Na verdade houve um grande esforço inicial, coordenado por uma equipe, inclusive pelo professor Jorge Cunha, quando era pró-reitor de graduação, no sentido de garantir plenas condições de funcionamento e de projeto pedagógico pertinente aos objetivos.
Construído o Projeto Pedagógico, abriu-se concurso, com avaliações adequadas ao cumprimento do Projeto Pedagógico. Exigiu-se o melhor: doutourado.
Elaborou-se o projeto do prédio e instalações em área destinada para o Campus. O Edital de Licitação foi realizado e suspenso pelo atual reitor Felipe Muller.

Em resumo: O terreno está lá, a verba para construção do prédio foi destinada para outras finalidades, os professores (doutores) não estão cumprinco com o projeto pedagógico, faltam equipamentos para laboratório e a maior parte dos funcionários concursados para o Campus assumirão em Santa Maria.Os projetos de pesquisa, ensino e extensão previstos, não estão acontecendo. Muitos alunos já se evadem, em decorrência de expectativas frustradas.

Portanto, o governo Federal fez sua parte: liberou recursos para o prédio e equipamentos, professores e funcionários reivindicados, aprovou os projetos, etc.
Quem descaracterizou e desfigurou o Campus? A reitoria e a atual direção e coordenação pedagógica.
Ah, esqueci de dizer que não haverá vestibular em janeiro e nem em maio como estava previsto. Folga para os professores com dedicação exclusiva. Doutores que haviam se comprometido com a proposta pedagógica e que agora, acham-se no direito de não cumpri-la. Professores, que não se fazem presentes nos eventos do Campus da Universidade na comunidade, como ocorreu na seção solene da Camara de Vereadores, em comemoração aos 50 anos da UFSM. Professores e alunos que não lutam pela Unidade, ausentes e indiferentes.

E a comunidade? Parece-me que está sendo "enrolada" pela direção da Unidade. Lamentável! Por essas e outras que, talvez, o REUNI fique desmoralizado. Talvez, de fato, outros municípios da região lutassem e valorizassem mais essa, que deveria ter sido uma grande conquista!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PONTO DE CULTURA


Sábado, dia 6, estive em Caçapava do Sul-RS, num encontro de professores.
Fazia parte da programação do encontro um "relato de experiência". O referido relato foi uma agradável surpresa. Lá, na periferia de Caçapava do Sul está operando, a todo vapor, um Ponto de Cultura.

Caçapava tem, pelo menos, dois CTGs (Centro de Tradições Gaúchas). Um deles, fundado e freqüentado praticamente por uma comunidade negra: CTG Clareira da Mata. Aí está funcionando um Ponto de Cultura, aliás, transformou-se nisso.

A partir do desejo de mães, que reclamavam ser o CTG um lugar em que só os homens tinham atividades ( jogo de bochas e de cartas), algumas pessoas passaram a pensar em movimentar o CTG, ampliando-lhe as possibilidades. As mães falavam em atividades para toda a família e, de preferência, que a família pudesse compartilhar.
Foi aí que duas professoras negras (que segundo dizem não são do Movimento Negro mas são Negras em Movimento)ouviram falar nos Pontos de Cultura do MINC. Informaram-se, fizeram Projeto para o Ministério da Cultura, foi aprovado, vieram os recursos.

As professoras, que haviam feito pesquisa na comunidade sobre os desejos e necessidades, buscaram parcerias e iniciaram o trabalho. Inicialmente com danças gaúchas com jovens e crianças e Coral para as mães. Depois, sempre a partir da demanda, foram melhorando as atividades e ampliando: Biblioteca - ponto de Leitura - ; Encontro de Raízes Gaúchas; Artesanato - em couro, tecido, palha e madeira, inclusive redescobrindo o artesanato em couro crú, já conhecido por antigos moradores, denominado de Guasqueiro, muito procurado e aceito, inclusive pelos jovens.

Ampliaram para culinária gaúcha (Receitas no Ponto) e o mais procurado pelos jovens: comunicador de rádio. Nesse último, eles se preparam para produzir programas de rádio e encenar lendas da região, estilo das antigas novelas de rádio. Fora isso tem ainda música, teatro e outras atividades pontuais. Algumas oficinas os alunos só podem participar se apresentarem boas notas e freqüencia na escola. Questionável isso, mas eles acham válido.

Não é preciso nem dizer que algumas pessoas já produzem renda, a partir da ampliação da culinária e artesanato. Claro que junto vem aquele discurso de "retirar os jovens das ruas, dos perigos, do crack", etc. Falo discurso porque não sei se isso é, realmente, uma realidade da comunidade em questão.
Segundo as professoras, existem ainda muitas outras demandas da comunidade, mas não conseguem dar conta. São infinitas possibilidades! Nos encantou o entusiasmo!

Tomara que o próximo governo acerte na escolha do ministro ou ministra da Cultura e que se aperfeiçoe, ainda mais, esse processo de democratização dos recursos, para possibilitar muitas outras atividades populares de cultura.

Ao final do relato fiquei me perguntando: Por que só fora dos espaços institucionais da escola, é possível realizar atividades de interesse, livres de notas, de hierarquias, de conteúdos homogênesos, da fragmentação dos tempos? Por que as atividades que dão prazer, quase nunca, são possíveis na escola? Quantos Projetos e "experiências pedagógicas" são realizadas fora da escola ou no turno inverso ao das aulas? Já ouvi muitos relatos! É como se paralelo à escola as comunidades estivessem inventando outras formas prazerosas e criativas de realizar educação. Quando vamos ter coragem de "explodir ou implodir" a escola tradicional e transformar num espaço em que as gentes gostam de estar?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A LUTA CONTINUA...

A Constituição de 1988 foi um dos maiores acontecimentos da história do Brasil. Por que?

PRIMEIRO, porque foi precedida por um amplo processo de protagonismo e participação, que começou com a eleição da Assembléia Constituinte e com as mobilizações, de quase todos os segmentos da sociedade, para produzir sugestões de políticas públicas para os constituintes e não só produzir, mas mobilizar e fazer pressão nos constituintes.

SEGUNDO, porque o povo brasileiro saía de mais de duas décadas de ditadura. Havia, de um lado, setores ávidos por participação e por outro, ainda receio e aversão a qualquer processo democrático.

Claro que houve muita mobilização corporativista, como por exemplo, dos advogados, que tiveram suas prerrogativas muito ampliadas na Constituição de 88.

Antes da atual constituição, não havia Ministério Público, nem SUS (Sistema Único de Saúde), nem a obrigatoriedade de um percentual orçamentário para saúde e para educação, nas três esferas da administração pública, como conhecemos hoje. Além disso, o provimento de cargos públicos não era realizado mediante concurso público, mas por indicação de quem estava nos governos.
A obrigatoriedade do concurso público veio atender a um preceito constitucional da nova constituição. O Art. 37 determina que a Administração Pública, nas três esferas, deve se guiar pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

A Const. 88 também, determinou a função social da terra e a Reforma Agrária, como necessidade social. Antes da nova constituição não havia aposentadoria para as trabalhadoras rurais e para os trabalhadores rurais, a aposentadoria era de meio salário mínimo.

Fizemos grandes mobilizações, reuniões, assembléias, vigílias em Brasília. Eu e o Irineu participamos ativamente em três frentes: luta por conquistas referentes aos trabalhadores rurais, da agricultura familiar: aposentadoria integral de um salário mínimo para homens e mulheres, reforma agrária, seguro agrícola, crédito subsidiado.
Na luta pela saúde pública, gratuita, integral, de relevância social, com obrigatoriedade de valor mínimo orçado, nas três esferas. Na educação: pelo reconhecimento das carreiras, com planos de carreira, básico profissional, concursos públicos, recursos orçamentários, etc. Difícil relatar todas as dimensões das conquistas: foram muitas! E nós sentimos o prazer de ver nossas lutas e reivindicações contempladas na Nova Constituição. Conquistas que para as novas gerações, hoje, parecem tão naturais, como se sempre tivesse sido assim.

Na Lei obtivemos uma constituição, que muitos cientistas políticos e sociais, chegaram a dizer que era quase socialista, claro que preservando a propriedade privada, como intocável. Mas foi chamada de Constituição Cidadã. No entanto, era preciso atuar nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas Municipais, para regulamentação da Constituição Federal, de forma que, efetivamente, as conquistas se efetivassem.

Por isso nos jogamos na luta institucional, no processo eleitoral, disputando espaço com as elites.
Dizíamos que precisávamos ter um pé no Parlamento e outro no Movimento.
Creio que acabamos por enfraquecer o Movimento e apostar mais na luta institucional. Nesse processo de ocupar o Estado ( que é uma máquina que possui mecanismos corrompedores), muitos enlamearam as mãos. É um risco constante.

Continua sendo importante a luta pela implementação dos preceitos da constituição de 88 e mais do que nunca, continua sendo importante a luta de base. No entanto, com as alterações no processo produtivo, as lutas de base mudaram seu perfil. O Movimento Popular está em outros espaços, que ainda não conseguimos identificar com clareza e entender. Precisamos avançar e a luta continua: contra a corrupção, pela democratização do Estado, das riquezas, da comunicação. Luta por acesso e uso dos meios de produção, que se constituem, principalmente, no trabalho vivo: no conhecimento, na comunicação, na corporalidade: a VIDA, COMO UM TODO, FOI POSTA A PRODUZIR.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"MULHER PODE"


Me comoveu a imagem de uma jovem mulher negra, sacudindo a bandeira de Dilma, na festa da eleição em Brasilia, respondendo a um repórter:"estou feliz, porque acredito que se a mulher pode fazer tripla jornada de trabalho, trabalhar fora de casa e ainda cozinhar, lavar, passar, administrar a casa, criar e cuidar dos filhos, dos idosos... pode também cuidar do Brasil" (Mais ou menos isso ela falou). Disse tudo.

O campo popular inovou na eleição de Dilma. Provou que fazer política, na democracia, não significa, sempre, seguir carreira política eleitoral. Dilma disse: "minha trajetória é de servidora pública, servidora do povo". É um caminho que não foi o da disputa, é legítimo e é uma alternativa viável. A eleição de Dilma é, também, a eleição da superação do preconceito. Dilma é muitas de nós. Faz-me sentir eleita junto com ela.

Ela tem a minha idade e a trajetória semelhante a de milhares de pessoas de minha geração.
Quero pedir licença aos meus leitores para contar um pouco dessa trajetória, parte dela.
Dilma e nós (eu e muitos) lutamos contra a ditadura e por transformações sociais, políticas e econômicas deste país. Cada um de um jeito. Ela, corajosamente, na clandestinidade, porque era proibido a manifestação direta. Eu (e muitos) buscamos o caminho da luta dentro das pastorais (estudantil, operária, da terra). A ditadura tolerava a Igreja, porque parte dela apoiou o Golpe Militar, por medo do comunismo, que a guerra fria havia demonizado.

A Igreja Progressista, resistiu a ditadura, abrigou militantes (Frei Beto e Frei Tito foram presos e torturados, junto com outros tantos).
Em Sta. Maria fundamos a Pastoral Universitária ( o MUSM: Movimento Universitário de Santa Maria). A sede era ali na Professor Braga, onde hoje funcionam algumas pastorais e o restaurante Scharong.
Fazíamos acampamentos, acolhida aos bixos da universidade, campanhas do agasalho e reflexões. Para cantar as músicas do Geraldo Vandré e Chico Buarque, nos escondíamos no porão da sede do MUSM.

Claro, todos fomos fichados no DOPS (órgão de espionagem e repressão da ditadura). Convivíamos com os "ratos" que passavam informações ao DOPS: eles tinham tudo documentado a nosso respeito: o que falávamos, nossos planejamentos...tudo. Era triste quando descobríamos que pessoas da nossa mais absoluta confiança, eram delatores! Alguns andam por aí até hoje. Alguns se arrependeram e choraram muito.

Isso teve efeitos na vida de cada um de nós. Eu fui indicada para dar aulas na UFSM, depois de formada (aquela época não havia concurso). Minhas notas em Estatística e Análise de Balanço me credenciavam para isso. A professora que me indicou só me informou depois: "não dá Tereza, tu tá fichada por causa do MUSM".
Depois fiz uma prova de seleção para o Banco do Brasil. Gabaritei. Meu nome não apareceu na lista, fui saber e de novo obtive essa informação: "não pode, tu pertences ao MUSM".

Casamos, fomos morar em Ibirubá, de lá reunimos um grupo (que eram do MUSM): um padre, um casal de engenheiros, duas professoras e nós e fomos morar em comunidade na Vila Jardim. Lá fomos trabalhar em educação popular, seguindo Paulo Freire. Quase dez anos de movimento comunitário e pastoral social. (seguindo a Conferência Episcopal de Puebla, que havia definido como linha pastoral a "opção preferencial pelos pobres").
Fundamos associação, lutamos por água, luz, canalização do esgoto, transporte coletivo, abertura de ruas, creches, alfabetização de adultos...ajudamos fundar os Direitos Humanos, em Porto Alegre. Participamos do Movimento Contra a Carestia (Mov. da Panela Vazia). Fugimos da polícia, claro que fomos fichados novamente.

Iniciava o período de distenção política e começavam os primeiros processos eleitorais. Só tinha Arena (partido da ditadura) e MDB, que era oposição. Em Porto Alegre o prefeito era indicado, era sempre o João Dib. Ah como incomodamos o Dib! Fazíamos teatro popular, seguindo Augusto Boal, para preparar nossas reivindicações. Ensaiávamos o que a gente ia dizer e responder ao prefeito. Armávamos as nossas defesas.

Ainda em Porto Alegre ajudamos na mobilização pela libertação do Lula da prisão e ajudamos a fundar o PT. Participamos da primeira lista de filiações. Enquanto isso íamos criando os filhos. A Lúcia havia nascido em Ibirubá, depois vieram a Silvana e o Pedro, ainda em Porto Alegre.
Tínhamos também nossa luta como educadores: na escola, por eleições diretas, por dinheiro para manter as escolas. Fizemos a primeira grande greve do período da Ditadura Militar. Foi barra, quase passamos fome. Resistimos e obtivemos muitas conquistas e aquelas greves foram potentes instrumentos de luta contra a ditadura.

Quase dez anos depois nos mudamos para o interior de Restinga Seca. Era o início das mobilizações para elaboração da Constituição de 1988. Isso foi outra luta popular fundamental. Fica pra outro dia. Em Restinga fomos presenteados com mais uma filha: a Alice.
Por tudo isso é que me sinto eleita junto com Dilma.
Outro dia vou escrever sobre as contradições da luta institucional e os embates que o movimento popular e sindical vão ter, provavelmente, com Dilma.