quarta-feira, 8 de maio de 2013

O LAGO TITICACA

Na Bolívia procuramos uma agência de turismo para realizarmos alguns passeios em direção ao Lago Titicaca. Acertamos na agência. Pagamos o necessário para ter direito a viagens de ônibus, hospedagens e um guia especial. Mas pagamos barato. Tudo para ir à Ilha do Sol na parte Boliviana do Titicaca e nas Ilhas Flutuantes no lado Peruano do Titicaca.
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O guia era um boliviano que se criou às margens do Titicaca. Estudou Economia na UFSM e voltou à Bolívia. Falava diversas línguas e tinha um razoável conhecimento da América do Sul e muito conhecedor da Bolívia e do Perú. Sabia conversar em um bom português a história dos povos andinos, seus costumes e suas divindades.

Saimos da Bolívia em direção à cidade de Copacabana, e lá visitamos uma belíssima Igreja, que foi toda revestida de prata (de Potosi) e muito ouro. Foi muito saqueada mas ainda mantinha 50% de prata e ouro. Copacabana boliviana é um porto de embarque para as ilhas do Titicaca, entre elas uma das mais belas: a Ilha do Sol.  Viajamos pelo lago, belíssimo, até a ilha. Bem habitada, subimos os morros e contemplamos a belíssima paisagem. Vimos o sistema de cultivo de batatas e outras plantas nos patamares construídos nos montes, herança dos Incas, que herdaram de seus ancestrais os processos de construção de terraços e de irrigação na agricultura.Uma subida muito íngreme e sofremos por causa das alturas. Esse passeio foi dos mais difíceis, mas valeu a pena pela beleza e originalidade do que fomos conhecendo em relação aos moradores da ilha.


Fomos cruzando com as cholas, com as mulas carregadas, conversando sobre os modos de vida, até chegar ao templo do Deus Sol. Uma construção muito antiga, já em ruínas, mas ainda de pé e entramos nas suas cavernas e o guia ia explicando o sentido de cada sala.

Retornamos de lancha, olhando o lago e sua imensidão. O mais alto lago do mundo. A informação é que o lago tem, aproximadamente 176 Km de largura e 267 Km de extensão. Muito profundo.
De Copacabana (que deu origem à Copacabana brasileira, segundo o nosso guia) viajamos a Puno, no Perú. Posamos em Puno e no outro dia rumamos para as Ilhas flutuantes. Fomos observando as plantações de batatas, as criações de animais (gado, lhamas, burros) e constatando o papel das mulheres, que estão em todos os setores produtivos: nas plantações, na lida com os animais, sempre carregando fardos enormes nas costas, além dos filhos que levam sempre junto.


Muitas situações de pobreza e de descuido ambiental, aparentemente.
No caminho de La Paz até Copacabana, avistamos os assentamentos da reforma agrária, realizada por Evo Morales.  Casinhas muito simples, feitas de barro, mas no meio das plantações e da criação de animais.
Passamos por grupos que cantavam e dançavam. Muitas pessoas nas ruas, pois era feriado e eram dias de carnaval boliviano.

Voltando ao Perú: Em Puno observamos que os modos de vestir e o biotipo humano não diferem em nada em relação à Bolívia. O custo dos alimentos bem mais caro que na Bolívia.
Chegamos às Ilhas Flutuantes ainda de manhã. Retornamos à tarde.

Os moradores das Ilhas formam uma grande comunidade, têm prefeitura própria, que administra através de Conselhos. Cada pequena ilha tem um grupo de 4 ou 5 familias em torno de 20 a 30 pessoas por ilha, coordenado por um dos moradores, escolhido pela comunidade. Os líderes de cada pequena comunidade formam o Conselho de administração.

Na pequena ilha, eles moram, fazem hortas, artesanato, cuidam das roupas, recebem os turistas e criam os filhos. Possuem um sistema de captação de energia solar, com a qual aquecem água e geram energia para terem televisão em suas pequenas casas feitas de Totora, sobre a água, a uma profundidade de 40 ou mais metros. Andam nos barcos feitos da palha colhida na própria ilha, denominada de TOTORA.

Possuem lugares comuns da comunidade, como a escola de educação básica, nas próprias ilhas, mercados e outras repartições necessárias aos cuidados com saúde, segurança, etc.
Muito de sua renda vem do turismo e eles se especializam para agradar, atrair e conviver com os turistas, dos quais captam parte de sua renda.
Foi um convívio interessante. Andamos nos barcos de Totora: maravilhoso!
O que vimos é quase impensável na nossa cultura!


Foi o último passeio da viagem. Voltamos à Bolívia e iniciamos o processo de volta ao Brasil.
De La Paz à Santa Cruz de La Sierra, de avião. De Santa Cruz a Corumbá (Brasil) de ônibus. De Corumbá a Dourados no Mato Grosso do Sul e de Dourados a Santa Maria, de ônibus. Passamos pelo pantanal, bastante desmatado, mas ainda selvagem. Muitas fazendas de gado.
Mas ao pantanal, é preciso viagem com mais tempo para, de fato, poder conhecer. Só cruzamos de ônibus. Foi interessante. Cansamos um pouco mas chegamos bem.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

O QUE VIMOS EM LA PAZ

Caminhamos muito em La Paz e também andamos de táxi e de ônibus. Fomos a Igrejas, Mercado Público, feiras de artesanato, restaurantes, bares e lojas. Caminhamos pelas ruas, de dia e de noite. Vimos os antigos ônibus ( da década de 1950) e que andam abundantemente pelas ruas, enfeitadíssimos, com flores e bandeiras.  Fotografamos, conversamos com populares, principalmente com mulheres. Isso exigiu muito cuidado e sensibilidade, por causa da diferença de idiomas, da diferença cultural e porque precisávamos cativar a confiança das pessoas para poder perguntar, comentar e também falar do Brasil.Pessoalmente percebi uma dissimulada desconfiança da população em relação aos turistas. Eles se preservam muito.



Pelos noticiários da televisão a gente se situava sobre os problemas, conquistas, lutas cotidianas da população. Vimos, por exemplo, manifestações de mulheres (cholas) falando e preparando mobilização sobre a violência contra as mulheres. Uma delas falou na televisão: "vergonha, mas as estatísticas mostram que mais da metade das agressões sofridas pelas mulheres acontecem dentro do lar e os agressores são homens fardados, isto é: militares. Na rua percebemos cartazes com os dizeres: "quem ama não maltrata". Slogan que existe inclusive no Brasil, o que nos fez pensar que há uma certa articulação internacional de luta das mulheres.


Vimos, também, uma manifestação da população, próxima ao  Palácio do Executivo. Era em solidariedade aos soldados bolivianos presos pelo governo chileno. Problemas com fronteira. Há uma certa tensão entre os dois países porque a Bolívia colocou na sua pauta de luta política, a recuperação de um território que lhe pertencia e que dava acesso ao mar e que foi tomado à força pelo Chile.

La Paz, por ser capital, é cosmopolita.
Jantamos em restaurante com comida italiana, preparado pelas cholas. Muitas falam inglês e entendem bem o Português.
Vimos lojas com roupas modernas, bem feitas, para turistas. A população boliviana usa muito suas roupas típicas, principalmente as mulheres.
Nos homens a gente percebe nos detalhes: dos adornos, das mantas e gorros.
Mesmo estando em fevereiro, vestíamos roupas de inverno. A temperatura variava de 5 a 15 graus e em alguns dias chegou a 23 graus.


Visitamos o Museu da Coca em La Paz. O museu conta a história da coca, inclusive o processo invasor e usurpador que o Ocidente praticou em relação a essa planta. Conta sobre todas as tentativas de criminalizá-la. Conseguiram deixar um rastro de preconceito e informações distorcidas sobre seu uso. Mesmo assim ela faz parte do cotidiano da população e as folhas são vendidas livremente nas feiras.
Tomamos café e licor de coca. Muito bom e não sentimos nada de diferente.

Compramos artesanato que é muito barato, muito colorido e fala da cultura indígena, de seus deuses: do solo, subsolo, do ar e da água. Fala das Lhamas, da totora, do lago Titicaca.
Fala do Deus Puma (da terra), da deusa Pachamama (cobra de dentro da terra), da águia, que é do céu. Fala do Deus Sol, da deusa Lua, são muitos, muitos e estão nos bordados, nas mantas. São parte da vida do povo boliviano, que resistiu e resiste ao Imperialismo.


Para os padrões elitizados La Paz é anárquica, descuidada, sem os padrões de higiene do denominado Primeiro Mundo, mas as coisas não são tão determinadas, tão "certinhas". Há vida, ousadia, criatividade, liberdade, possibilidades de manifestações de expressões da diversidade. Isso está determinado na legislação boliviana ao considerar legal e oficial toda a variedade de idiomas das nações indígenas. A Bolívia é Plurinacional, constitucionalmente falando e isso é percebido no cotidiano.