quarta-feira, 8 de maio de 2013

O LAGO TITICACA

Na Bolívia procuramos uma agência de turismo para realizarmos alguns passeios em direção ao Lago Titicaca. Acertamos na agência. Pagamos o necessário para ter direito a viagens de ônibus, hospedagens e um guia especial. Mas pagamos barato. Tudo para ir à Ilha do Sol na parte Boliviana do Titicaca e nas Ilhas Flutuantes no lado Peruano do Titicaca.
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O guia era um boliviano que se criou às margens do Titicaca. Estudou Economia na UFSM e voltou à Bolívia. Falava diversas línguas e tinha um razoável conhecimento da América do Sul e muito conhecedor da Bolívia e do Perú. Sabia conversar em um bom português a história dos povos andinos, seus costumes e suas divindades.

Saimos da Bolívia em direção à cidade de Copacabana, e lá visitamos uma belíssima Igreja, que foi toda revestida de prata (de Potosi) e muito ouro. Foi muito saqueada mas ainda mantinha 50% de prata e ouro. Copacabana boliviana é um porto de embarque para as ilhas do Titicaca, entre elas uma das mais belas: a Ilha do Sol.  Viajamos pelo lago, belíssimo, até a ilha. Bem habitada, subimos os morros e contemplamos a belíssima paisagem. Vimos o sistema de cultivo de batatas e outras plantas nos patamares construídos nos montes, herança dos Incas, que herdaram de seus ancestrais os processos de construção de terraços e de irrigação na agricultura.Uma subida muito íngreme e sofremos por causa das alturas. Esse passeio foi dos mais difíceis, mas valeu a pena pela beleza e originalidade do que fomos conhecendo em relação aos moradores da ilha.


Fomos cruzando com as cholas, com as mulas carregadas, conversando sobre os modos de vida, até chegar ao templo do Deus Sol. Uma construção muito antiga, já em ruínas, mas ainda de pé e entramos nas suas cavernas e o guia ia explicando o sentido de cada sala.

Retornamos de lancha, olhando o lago e sua imensidão. O mais alto lago do mundo. A informação é que o lago tem, aproximadamente 176 Km de largura e 267 Km de extensão. Muito profundo.
De Copacabana (que deu origem à Copacabana brasileira, segundo o nosso guia) viajamos a Puno, no Perú. Posamos em Puno e no outro dia rumamos para as Ilhas flutuantes. Fomos observando as plantações de batatas, as criações de animais (gado, lhamas, burros) e constatando o papel das mulheres, que estão em todos os setores produtivos: nas plantações, na lida com os animais, sempre carregando fardos enormes nas costas, além dos filhos que levam sempre junto.


Muitas situações de pobreza e de descuido ambiental, aparentemente.
No caminho de La Paz até Copacabana, avistamos os assentamentos da reforma agrária, realizada por Evo Morales.  Casinhas muito simples, feitas de barro, mas no meio das plantações e da criação de animais.
Passamos por grupos que cantavam e dançavam. Muitas pessoas nas ruas, pois era feriado e eram dias de carnaval boliviano.

Voltando ao Perú: Em Puno observamos que os modos de vestir e o biotipo humano não diferem em nada em relação à Bolívia. O custo dos alimentos bem mais caro que na Bolívia.
Chegamos às Ilhas Flutuantes ainda de manhã. Retornamos à tarde.

Os moradores das Ilhas formam uma grande comunidade, têm prefeitura própria, que administra através de Conselhos. Cada pequena ilha tem um grupo de 4 ou 5 familias em torno de 20 a 30 pessoas por ilha, coordenado por um dos moradores, escolhido pela comunidade. Os líderes de cada pequena comunidade formam o Conselho de administração.

Na pequena ilha, eles moram, fazem hortas, artesanato, cuidam das roupas, recebem os turistas e criam os filhos. Possuem um sistema de captação de energia solar, com a qual aquecem água e geram energia para terem televisão em suas pequenas casas feitas de Totora, sobre a água, a uma profundidade de 40 ou mais metros. Andam nos barcos feitos da palha colhida na própria ilha, denominada de TOTORA.

Possuem lugares comuns da comunidade, como a escola de educação básica, nas próprias ilhas, mercados e outras repartições necessárias aos cuidados com saúde, segurança, etc.
Muito de sua renda vem do turismo e eles se especializam para agradar, atrair e conviver com os turistas, dos quais captam parte de sua renda.
Foi um convívio interessante. Andamos nos barcos de Totora: maravilhoso!
O que vimos é quase impensável na nossa cultura!


Foi o último passeio da viagem. Voltamos à Bolívia e iniciamos o processo de volta ao Brasil.
De La Paz à Santa Cruz de La Sierra, de avião. De Santa Cruz a Corumbá (Brasil) de ônibus. De Corumbá a Dourados no Mato Grosso do Sul e de Dourados a Santa Maria, de ônibus. Passamos pelo pantanal, bastante desmatado, mas ainda selvagem. Muitas fazendas de gado.
Mas ao pantanal, é preciso viagem com mais tempo para, de fato, poder conhecer. Só cruzamos de ônibus. Foi interessante. Cansamos um pouco mas chegamos bem.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

O QUE VIMOS EM LA PAZ

Caminhamos muito em La Paz e também andamos de táxi e de ônibus. Fomos a Igrejas, Mercado Público, feiras de artesanato, restaurantes, bares e lojas. Caminhamos pelas ruas, de dia e de noite. Vimos os antigos ônibus ( da década de 1950) e que andam abundantemente pelas ruas, enfeitadíssimos, com flores e bandeiras.  Fotografamos, conversamos com populares, principalmente com mulheres. Isso exigiu muito cuidado e sensibilidade, por causa da diferença de idiomas, da diferença cultural e porque precisávamos cativar a confiança das pessoas para poder perguntar, comentar e também falar do Brasil.Pessoalmente percebi uma dissimulada desconfiança da população em relação aos turistas. Eles se preservam muito.



Pelos noticiários da televisão a gente se situava sobre os problemas, conquistas, lutas cotidianas da população. Vimos, por exemplo, manifestações de mulheres (cholas) falando e preparando mobilização sobre a violência contra as mulheres. Uma delas falou na televisão: "vergonha, mas as estatísticas mostram que mais da metade das agressões sofridas pelas mulheres acontecem dentro do lar e os agressores são homens fardados, isto é: militares. Na rua percebemos cartazes com os dizeres: "quem ama não maltrata". Slogan que existe inclusive no Brasil, o que nos fez pensar que há uma certa articulação internacional de luta das mulheres.


Vimos, também, uma manifestação da população, próxima ao  Palácio do Executivo. Era em solidariedade aos soldados bolivianos presos pelo governo chileno. Problemas com fronteira. Há uma certa tensão entre os dois países porque a Bolívia colocou na sua pauta de luta política, a recuperação de um território que lhe pertencia e que dava acesso ao mar e que foi tomado à força pelo Chile.

La Paz, por ser capital, é cosmopolita.
Jantamos em restaurante com comida italiana, preparado pelas cholas. Muitas falam inglês e entendem bem o Português.
Vimos lojas com roupas modernas, bem feitas, para turistas. A população boliviana usa muito suas roupas típicas, principalmente as mulheres.
Nos homens a gente percebe nos detalhes: dos adornos, das mantas e gorros.
Mesmo estando em fevereiro, vestíamos roupas de inverno. A temperatura variava de 5 a 15 graus e em alguns dias chegou a 23 graus.


Visitamos o Museu da Coca em La Paz. O museu conta a história da coca, inclusive o processo invasor e usurpador que o Ocidente praticou em relação a essa planta. Conta sobre todas as tentativas de criminalizá-la. Conseguiram deixar um rastro de preconceito e informações distorcidas sobre seu uso. Mesmo assim ela faz parte do cotidiano da população e as folhas são vendidas livremente nas feiras.
Tomamos café e licor de coca. Muito bom e não sentimos nada de diferente.

Compramos artesanato que é muito barato, muito colorido e fala da cultura indígena, de seus deuses: do solo, subsolo, do ar e da água. Fala das Lhamas, da totora, do lago Titicaca.
Fala do Deus Puma (da terra), da deusa Pachamama (cobra de dentro da terra), da águia, que é do céu. Fala do Deus Sol, da deusa Lua, são muitos, muitos e estão nos bordados, nas mantas. São parte da vida do povo boliviano, que resistiu e resiste ao Imperialismo.


Para os padrões elitizados La Paz é anárquica, descuidada, sem os padrões de higiene do denominado Primeiro Mundo, mas as coisas não são tão determinadas, tão "certinhas". Há vida, ousadia, criatividade, liberdade, possibilidades de manifestações de expressões da diversidade. Isso está determinado na legislação boliviana ao considerar legal e oficial toda a variedade de idiomas das nações indígenas. A Bolívia é Plurinacional, constitucionalmente falando e isso é percebido no cotidiano.

sábado, 27 de abril de 2013

VIAJANDO PARA BOLÍVIA E PERU

Dia 13 de fevereiro de 2013, voamos rumo a La Paz (Bolívia). Fizemos escala em Iquique e depois Arica, regiões áridas. Os aeroportos ficam à beira do Pacífico, só areia. De Iquique a Arica 30 minutos de viagem.
Em Arica descemos para acertar a entrada na Bolívia.
Chegamos as 13 horas no aeroporto de El Alto, a 20 Km de La Paz, a 4.000 m acima do nível do mar. Já no solo boliviano, sentimos imediatamente os efeitos das alturas ao começar a andar pelo aeroporto.
De imediato trocamos reais por dólares e em La Paz por Bolivianos. Com um real compra-se três bolivianos.Para os brasileiros o custo de vida da Bolívia é muito barato.

Ficamos surpreendidos ao entrar em La Paz. A sensação é de estranhamento. Desde Iquique a gente só vê areia, pouca vegetação verde. A região é desértica. A riqueza é o mineral (cobre, gás, etc.).
Na viagem alguém já nos informou que a Bolívia perdeu território muito rico, junto com a saída para o mar, para o Chile, numa invasão muito covarde, num momento de grande fragilidade por parte da Bolívia. Os bolivianos continuam lutando para recuperar uma saída para o mar, pois é o único país das américas que não tem acesso ao mar.

La Paz é um mar ondulado de casas baixas, de tijolos, sem reboco, e tão imensa que a gente perde de vista. As construções seguem as ondulações das terras, em escadas, sem nenhum planejamento. Se vê  poucas ruas bem traçadas, com sinaleiras e avenidas  organizadas. A maioria de suas ruas são meio anárquicas, misturando gente ônibus antigos, carros (poucos) e muita, muita gente pelas ruas.
La Paz é indígena, como toda Bolívia.

A população, os carros, andam tranquilamente, misturando-se perigosamente (mas não vimos nenhum acidente). Sabem se cuidar e se respeitar. Muitas tendas e pessoas nas ruas vendendo de tudo: comida, frutas, chás, roupas, artesanato, artigos religiosos..


As mulheres (cholas) usam roupas típicas (saias com armação, chales, chapéus, gorros) e não é para turista ver. É o cotidiano, quase todas usam essa indumentária que tornam todas com quadris largos, parecem todas meio gordas. Andam com imensas trochas de mercadorias nas costas, são carregadoras de cargas, e com os filhos presos às costas. São as mulheres que carregam pesos, vimos poucos homens carregando volumes.


Fomos aio Mercado das Bruxas, (ruas inteiras) onde vendem os artigos religiosos, mas outras coisas também, chás, xaropes, lenha, milho, vidrinhos, pacotinhos, estatuetas, objetos mil, que não compreendemos e os fetos de lhama, secos, com olhos, pelos e tudo. Meio sinistro. Soubemos que é para fazer ofertas religiosas à deusa  Pachamama. Algo impensável na nossa cultura.


Os bolivianos são educados, atenciosos, mas não adulam turista. Não sorriem facilmente para os turistas. Não gostam de serem fotografados. Fiz fotos, mas não ostensivas e em alguns locais para fotografar eu pedia licença.
Ficamos num hotel 3 estrelas, bem no centro de a Paz, a poucas quadras do Mercado Central e dos palácios do Governo. Nesses locais, La Paz é organizada, bonita, com ruas bem sinalizadas. A praça em frente ao palácio do Executivo está sempre cheia de gente, o palácio muito próximo, sem guardas ostensivos. É lugar de manifestações. Muita, muita pomba. O povo curte ser fotografado com as pombas. As Cholas vendem milho moído em pequenos saquinhos para as pessoas oferecerem às pombas e poderem se aproximar, tocá-las e serem fotografados com elas.

No alto da praça e do Palácio tremulam as bandeiras bolivianas. Falei AS porque são duas. Uma é a bandeira de origem espanhola, a outra indígena (plurinacional). Na Constituição e nas placas eles escreveram: República democrática plurinacional da Bolívia. E também consideram oficiais, além do espanho,l as línguas indígenas, em igualdade de direitos. E, de fato, são muitas as nações indígenas.
Estes são a Bolívia, e apesar de toda invasão cultural ocidental capitalista eles não abandonaram sua cultura. Isso a gente vê nas vestes, no modo de viver.

Assim que chegamos tivemos que comprar remédio e folhas de coca (que lá é legal) para enfrentar os efeitos das alturas. Compramos das Cholas que nos venderam junto uma pasta de menta que a gente enrolava nas folhas de coca e is mascando devagar. Não alucina ninguém. É muito bom e necessário. Quando a gente descuida vem a dor de cabeça, as palpitações no coração. Teve um dia que passei mal.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

ANDANDO COM O POVO CHILENO

Uma vez que tivemos que permanecer no Chile por mais alguns dias do que o planejado, resolvemos caminhar nos bairros do Chile (periferia de Santiago) , andar de trem e visitar outras cidades próximas.
Fomos a pé até a Estação Central de trens. Compramos passagem para São Fernando, cidade que dista uns 150Km de Santiago e uma das mais atingidas pelo terremoto de 2011.
A Estação é linda, um prédio antigo, com obras de arte pelos corredores. Tocava música clássica no interior da estação e ficamos assombrados com a quantidade de lojas, lancherias, e povo circulando na e ao redor da Estação Central.


Ao andar íamos conversando com as pessoas, descobrimos que o salário mínimo chileno equivale ao nosso. Vimos muitos vendedores ambulantes, vendedores de frutas na rua.Muita "economia informal". Muitos mendigos também, a maioria velhos..
Normalmente a população é gentil, simpática, prestativa, educada no trânsito, alegre e sempre com crianças e bebês no meio da confusão.

No entanto, observamos que os vendedores de frutas nas ruas mostram-se impacientes, assim como senti uma certa desconfiança por parte de alguns vendedores de artesanato indígenas.
Andamos muito de metrô, de trem e de ônibus interurbano e muito mais ainda a pé.
Percebemos que os chilenos construíram muitos túneis e estações subterrâneas para trens e mesmo para carros e ônibus.
Na periferia de Santiago, ao longo da grande Av. Liberdade, que desemboca no centro, há um enorme movimento de populares de todas as etnias, e se pode ver muitas lojas chinesas, japonesas, tailandesas, peruanas, etc. Tem até Avenida Brasil. Muita, muita pichação (quase 100% das fachadas). Parece que os chilenos não se incomodam com isso. No interior das lojas, a decoração principal é a grafitagem, que é muito linda.
Os preços da periferia também são altos, principalmente a comida.


SÃO FERNANDO
Fomos a São Fernando, de trem. Uma cidadezinha de uns 50.000 habitantes. Nos surpreendeu a quantidade de gente que viaja de trem. Estes são bons. Duas horas de viagem. Região agrícola. Vimos ao longo de toda a viagem plantações de frutas( parreiras, pessegueiros, pereiras, macieiras, et ). e vimos plantações de milho e sorgo.
Fomos "hablando" sobre o Chile com chilenos. Falamos sobre educação, saúde, economia.
Conversamos com imigrantes da República Dominicana (negros), que buscam trabalho e fugir da pobreza.

São Fernando é uma cidade de casas baixas (não vimos nenhum prédio alto). Casas feias, com raras exceções, com alguns prédios antigos (esses são bonitos). Muitas construções danificadas pelo terremoto, como a maior Igreja, toda rachada, interditada.
Como em Santiago, os restaurantes são verdadeiras tocas, cavernas labirínticas (os populares, é claro), feias, escuras e não muito limpas, mas foi onde conseguimos comer com fartura e barato. Comemos, pela primeira vez o feijão e arroz chileno: um mingau, mas gostoso. Usam pouco sal. Sempre pouca carne e pouca verdura.Não usam toalhas nas mesas e quando usam, são de plástico e de mau aspecto.


Também em São Fernando vimos e ouvimos artistas (músicos) de rua, com música chilena, tocando e vendendo seus CDs. Compramos um.

Durante os 9 dias que vivemos no Chile vimos alguns problemas também: revolta dos carcereiros, alguns protestos e reivindicações salariais, algumas manifestações de rua, acidente em que morreram 14 jovens, a maioria da cidade de Rancágua (passamos de trem pela cidade). Esse acidente provocou muita comoção e manifestações de rua por todo o Chile. Pelo visto acidentes por lá são mais raros que aqui.

A enchente no Atacama também teve diversos reflexos em Santiago em relação ao abastecimento de água e transporte de mercadorias.
Os chilenos fumam muito e naqueles dias o Congresso aprovou uma lei anti-fumo mais rigorosa, proibindo fumar em locais públicos (bares, restaurantes e teatros).

Tornamos a visitar a Casa Londres 38 Espaço de Memórias. Perguntamos sobre a situação do Chile. Relato de alguns chilenos: pouca luta social, soluções personalistas e corporativistas. Querem consumir. Setores mais produtivos, que geram crescimento, como o cobre, o vinho, a construção civil, são majoritariamente privados, bem como a educação e inclusive a básica. Também a saúde, a assistência social e aposentadorias  são privadas.
As pessoas, na medida que melhoram de renda, buscam o privado, que segundo relato de um professor, não são melhores que os públicos. A escola é um exemplo, tanto pública quanto privada "resumem-se em transmissão e cópia".

A economia familiar rural foi desmantelada e por isso a tristeza dos vendedores de frutas, quase todos antigos pequenos proprietários e agora empregados mal pagos. A maioria das frutas são para exportação. A população fica com os refugos e se puder comprar. Toda a vida "está mercantilizada" (palavra dos chilenos).
A alternativa apontada pelas esquerdas é estatal. A Frente Popular (da ex Presidente Michele) não produziu mudanças significativas.
Hospitais e postos de saúde são pouquíssimos. Não há SAMU,  UPA ou algo semelhante por lá. Soubemos que no Chile não tem sistema como o nosso SUS. Pronto atendimento e seguridade social são pagos.
Assistimos a uma mobilização contra a proposta de ampliar para 65 anos a idade mínima para a aposentadoria das mulheres. Proposta da maior seguradora social privada.
Um professor chileno, idoso, nos disse:" quem manda no Chile são 3 setores: o Estado (com suas forças repressoras), o empresariado e a Igreja.
De fato, a quantidade de igrejas e de museus da Igreja Católica é impressionante. Nos altares principais das Igrejas, junto aos santos fica a bandeira chilena, demonstrando essa conjugação de poderes.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

MAIS SOBRE O CHILE

Procuramos visitar os museus porque eles costumam testemunhar a história.
Muitos museus estavam fechados para reforma. Mas a gigantesca Catedral Metropolitana, que fica na principal praça no centro de Santiago estava aberta. É escandalosamente bela e grande. Uma grande obra de arte, de ostentação. Sempre aberta aos populares que chegavam, acendiam velas, descansavam e saiam. Fazem, inclusive, velório dentro da catedral, costume que percebemos em outras igrejas que visitamos.

Igrejas de portas abertas. A catedral possui 5 grandes corredores, cada um deles é uma Igreja dentro da Catedral. Sempre sob o som de cantos gregorianos, com luminosidade discreta e incenso criam um ar nostálgico, misterioso e reflexivo. Bem no centro entre as grandes colunas há um altar central com 4 lados, incrivelmente belo. Na porta das igrejas, e da Catedral também, sempre tem mendigos e a maioria velhos.  Os chilenos são muito religiosos.

Saindo da Catedral a gente está na praça e nas ruas. Ruas com amplas calçadas, sem demarcação do que seja calçada ou rua, não há degraus.
 Nos atrapalhamos um pouco porque trafegam carros e pensamos que era um grande calçadão. Na praça central há, sempre, muitos artistas de rua, cantores, pintores, muita gente circulando, com crianças. Gente que se banha no chafariz.


Nos chamou a atenção as raras pessoas utilizando celulares ou tablets  bem como vimos pouquíssimas motocicletas. Isso em toda parte do Chile, que andamos.
A população usa muito o metrô, que tem estações muito próximas, as paradas são muito bem sinalizadas e no subsolo das estações há outra cidade em termos de lojas, cafeterias, bares, etc.
A gente andava e perguntava. Percebemos os jardins sempre verdes, embora  fosse um período de estiagem. Tudo irrigado.
Constatamos a importância das geleiras. A água para abastecer as cidades e as plantações vem das geleiras.
Chove pouco. De dia a temperatura atingia até 30 graus, mas à noite a temperatura caia bastante. Não era necessário ar condicionado e nem ventilador para dormir. Não vimos mosquitos, nem moscas e nem outros insetos.

Santiago é um centro financeiro e turístico, por isso as lojas e comércio existentes objetivam atender esse tipo de demanda: gastronomia inclusive. Mas nós não gostamos muito da comida. Comem muito frango (polo) e batatas (papas).Há nas ruas muitas bancas de frutas e nas mercearias a gente encontrava queijo de cabra, barato. Para nossa janta a gente fazia lanches, com frutas e quijos. O pão não era bom. Meus pães fariam sucesso por lá!

Fomos à cordilheira ver os locais onde, no inverno é só gelo, tem estação de esqui. Lá há luxuosos hotéis, restaurantes. Tomamos um requintado lanche lá nas alturas. Caro! Subimos e descemos as 40 curvas assustadoras ao longo dos 3.200 mts. acima do nível do mar. A cordilheira é linda, mesmo sem o gelo.

Nas ruas do centro de Santiago há banheiros públicos em quantidade. Muitas floreiras com petúnias. Bem agradável.
Na rua Ahumada ficam as agências de Câmbio: muitas e a gente tem que procurar porque há diferença entre os valores de uma em relação a outra.

Também fomos assistir a apresentações de danças típicas, agendado pela Turistik e jantamos. Essa janta sim, mostrou que os chilenos sabem cozinhar. Claro que comemos salmão, que é farto e barato por lá. Depois da janta teve baile. Constatamos, mais uma vez, que os chilenos dançam bem e que ouvem muita música brasileira, principalmente axé.Têm gingado latino. Gostam das músicas de Ivete Sangalo e Claudia Leite. Cantavam em português e dançavam. E todo mundo vai para o salão e dançam juntos e separados. São muito animados.
Achei curioso que quando a banda fazia intervalo um animador que falava 4 idiomas, fazia animação com aeróbica. E o povo saracoteava muito. Muito animados mesmo!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

SOBRE O CHILE

Conversando com professores e populares, aprendemos muitas coisas sobre o Chile.
A economia chilena baseia-se na exploração do cobre, do turismo, da produção de frutas e de vinho.
A concentração das terras é muito grande e os setores públicos produtivos foram praticamente todos privatizados. A pobreza é grande. Apesar da grande produção de vinho, a população bebe, em média, uma gota de vinho diária, por pessoa. Os chilenos gostam  de uma bebida denominada PISCO: destilada, forte, parecida com a nossa graspa.

Descobrimos que 70% dos turistas chilenos são brasileiros. Mesmo assim muitos não falam e têm dificuldade de entender o português. Muitos falam inglês.
No país inteiro as universidades foram privatizadas e mesmo as públicas, como a Universidade do Chile, precisam ser pagas. Isso tem  motivado grandes mobilizações de estudantes e de professores.

Em relação ao trânsito, em Santiago é bem organizado, com semáforos em cada esquina. As vias são largas e bem conservadas.Há metrô para toda parte de Santiago, e de boa qualidade. Andamos muito de metrô.

Santiago tem muitos prédios antigos, de belíssima arquitetura. Muitos edifícios cujas paredes são forradas de gramíneas coloridas, parecem árvores gigantes. Muitas plantações em sacadas e terraços.
Os morros, dentro de Santiago são muito arborizados, transformados em espaços turísticos, em parques, em mirantes, santuários, museus, grutas, locais de rezas. Entre eles destaca-se o Morro Santa Lúcia, antigo mosteiro, bem no centro e o Bairro Bela Vista, com mercado de artesanato de ótima qualidade, parque de diversões para populares, ótima gastronomia, danceterias, oficinas que transformam em jóias a pedra LAPISLAZULI, uma pedra azul que só existe no Chile e no Afganistão.
Uma noite fomos dançar a Kumbia e a Salsa. As danceterias funcionam todas as noites e os prédios são todos grafitados. Fomos muito bem recebidos, nos comunicamos com casais que nos ensinaram dançar a salsa. Conversamos com professores da Universidade do Chile, trocamos  informações sobre filmes e livros.
 Um desses professores foi  aluno de Maturana, autor conhecido e lido por nós. Perguntaram muito sobre o Brasil. Têm uma grande admiração sobre o Lula.
Em decorrência do sinistro na Kiss, em Santa Maria, soubemos que nas boates houve adaptações para melhorar saídas e sinalizá-las. Isso nos informaram na boate em que estivemos.

Diariamente as calçadas enchem-se de gente que almoça, janta na rua e fica ocupando as ruas, conversando e tomando suas bebidas.Nesse bairro fica a casa de moradia que foi do poeta Pablo Neruda, hoje um museu, ponto turístico obrigatório.

Visitamos as feiras populares e nelas encontramos os índios MAPUCHES que fazem um belíssimo artesanato. São muito organizados e críticos do sistema político e econômico do Chile.  Ouvimos relato de sua luta principal: serem reconhecidos como uma nação. Eles usam o slogan: "Nem chilenos, nem argentinos: mapuches"! Na sua luta, enfrentam a violência policial e dizem:"não somos terroristas! Queremos liberdade, queremos nosso território e nossa cultura".

Em Santiago quase não se vê negros e de acordo com o prof. Ivan, não houve tráfico de escravos negros. Os europeus, que chegaram ao Chile, escravizaram os indígenas, principalmente o povo Mapuche.

Na rua Londres, a rua em que fica o nosso Hostel, visitamos o museu da tortura. Hoje uma fundação. A casa foi o local de interrogatório e tortura em Santiago  Visitamos suas salas macabras. Conversamos com os atendentes que iam nos mostrando e contando. O local é aproveitado para abrigar reuniões de mobilizações populares. Na calçada em frente à casa, há muitas lajotas com os nomes de torturados e desaparecidos gravados, de modo que os transeuntes podem ler os nomes, preservando a memória histórica. Impossível não notar. O que me chamou a atenção é que a maioria tinha menos de 30 anos.
Conversando fomos obtendo informações sobre a realidade atual do Chile, sobre as lutas atuais, principalmente a dos estudantes, pelo ensino público e gratuito. Respondemos, também, muitas perguntas sobre o Brasil, principalmente sobre o ensino público.

Ficamos dez dias no Chile, viajando, perguntando e por isso temos muito a falar sobre ele. Sobre o norte do Chile. O Chile sem gelo, pois nossa viajem foi no forte do verão. Meses que não chovia e tudo estava verde. Segredo? Tudo irrigado via canais que herdaram dos indígenas. Estes deixaram um enorme legado ao atual Chile.





VELHOS VIAJANDO PELA AMÉRICA DO SUL

Primeira viagem. Pretendemos conhecer toda América do Sul e Brasil, que conhecemos pouco.

Eu, o Irineu e uma prima (Veronice) saímos a viajar pelo Chile, Bolívia e Perú, por conta, sem agência.
Saímos dia 4 de fevereiro. Chegamos no Chile às 20h. A viagem já é uma boa experiência. No aeroporto de São Paulo  tive de jogar no lixo o hidratante e o shampoo porque tinha mais que 120 gr. No mais, é a experiência de trocar dinheiro, falar espanhol ou nos fazer entender em português. Viagem linda, sem turbulência.
A visão da Cordilheira dos Andes é lindíssima, mesmo sem a neve. É a Cordilheira que separa o território da Argentina do do Chile. Quando se vê a cordilheira sabe-se que se está chegando em Santiago do Chile.
Pegamos uma lotação que custou o equivalente a 20,00 cada um  e percorremos os 20 km até Hostel que havíamos reservado pela Internet.
O Hostel fica na rua Paris Londres, no centro de Santiago. Uma rua romântica, que foi habitada por imigrantes europeus, com casas antigas e belas. Próxima à Igreja São Francisco, um dos pontos turísticos que a gente encontra nos catálogos. Construída em 1560 conserva ainda as pedras e estrutura original.



PLANO DE VIAGEM INICIAL
Pensávamos em ficar de 4/2 a 7/2 em Santiago. Dia 8/2 iríamos a La Serena e de lá a Calama e de Calama a São Pedro do Atacama, mais ou menos 150km de Calama. No deserto de Atacama conheceríamos o Vale de La Luna, o Vale da Muerte, El Tatio (os gêises e as lavas vulcânicas) e iríamos nos banhar  nas águas mornas e outros atrativos.
 De São Pedro, rumaríamos à Bolívia: Copacabana, às margens do Lago Titicaca e daí para as ilhas flutuantes ( já no Peru). Voltaríamos à Bolívia e aí iríamos conhecer os salares, depois a Santa Cruz de La Sierra e descendo em direção ao Brasil, via pantanal (Corumbá, Campo Grande, Dourados) e de ônibus a Santa Maria.

REALIDADE
Tudo estava acontecendo como prevíamos. Compramos passagem para La Serena e na véspera descobrimos que nevou e que chovia torrencialmente ( o que não acontecia a décadas) no deserto do Atacama. Vimos pela televisão que os turistas estavam ilhados, sem poder sair de São Pedro. Muitos turistas haviam saído de Santiago, que estava muito quente (para eles, porque era bem menos quente do que no Brasil) e acamparam em São Pedro do Atacama  Já estávamos preocupados com hospedagem e aí vimos pela televisão que a situação estava catastrófica em São Pedro. A chuva derrubou barreiras, inundou casas e hotéis, interrompeu o tráfego e, enfim, não tínhamos como ir a São Pedro.
Pensamos: vamos conhecer mais a Bolívia e o Perú. No entanto, só conseguimos voo para La Paz (Bolívia) para daí a 6 dias. Até lá tínhamos que permanecer no Chile.

 No Chile também era sentido o efeito das chuvaradas na Cordilheira. O barro desceu às barragens e por conta disso, ficamos sem água por um dia inteiro e então  nenhum restaurante ou lancheria abriu as portas. Comemos lanches e frutas no Hostel, comprados nas bancas de rua.

PASSEIOS NO CHILE
Logo que chegamos fomos à praça central de Santiago, que fica entre os palácios oficiais. Aí está o povo e certamente encontraríamos as informações que pretendíamos: casa de câmbio, empresas de turismo que nos levassem a conhecer Santiago e arredores. Após algumas informações concluímos que a empresa Turistik era o que precisávamos. E, de fato,são muito profissionais. Iniciamos circulando pela grande Santiago para ver o tradicional: palácios, praça de Las Armas, Catedral, Mercado Central, Palácio de La Moneda, Museu Nacional, Avenida Brasil, Rua Maturana, Estação Ferroviária Central, Estação Rodoviária, etc.
Para o dia seguinte marcamos um passeio a Val Paraíso e Viña Del Mar.

Val Paraíso e Viña Del Mar
O guia era ótimo e foi fornecendo informações sobre a história, a economia, os costumes do povo chileno. Passamos pelos vales dos vinhedos, das plantações de frutas (cítricos, abacate, maçã, pêssego, etc.) tudo com irrigação através de canais que coletam e conservam a água que vem das geleiras. Ainda aproveitando os canais do tempo dos Incas, claro que ampliados.
O Chile importa bananas, manga, abacaxi, o resto eles produzem. Frutas boas e baratas. Conhecemos a vegetação local (escassa e baixa, diferente do Brasil). Constatamos o ótimo estado das rodovias.
Valparaísio é uma cidade histórica, uma das mais antigas do Chile. É um importante centro universitário com vibrantes atividades culturais. Cidade com belíssimas construções antigas, luxuosas outrora, quando Valparaíso era o porto onde chegavam e saiam os navios que vinham e iam à Europa. Navios que aportavam no Pacífico. (Relato do Guia).
Posteriormente, com a abertura do Canal do Panamá, Valparaíso empobreceu, perdeu renda e os ricos foram se abrigar em Viña Del Mar e lá construíram seus luxuosos refúgios.

Valparaíso chama a atenção pela beleza, por sua curiosa arquitetura, toda encravada nos morros, em 3, 4 andares, respeitando a geografia. Essa característica fez com que a população construisse elevadores mecânicos (hoje tem alguns elétricos) para se deslocarem de baixo para cima e vice-versa.
Valparaíso foi declarada patrimônio da humanidade por respeitar a geografia, isto é: as casas adaptarem-se aos morros, sem escavações ou terraplanagens que destruíssem a configuração da natureza.

As casas são muito coloridas e isso se deve à tradição de identificar em cada rua, o local de residência de cada família  pela cor das casas. Junto com isso o costume da boa vizinhança  de se emprestarem pertences e mantimentos. Hoje perde-se essa característica e alguma casas estão à venda e valem milhões pela beleza e pelo valor turístico, graças à beleza arquitetônica. Chama a atenção em Val Paraíso ( e também em Santiago) o abundante uso do grafite nas fachadas, muito coloridos. Há pichações  mas a grafitagem é  predominante.

Em Valparaíso está a Casa Sebastiana, residência de veraneio do poeta Pablo Neruda, toda grafitada.
É em Val Paraíso que funciona o Congresso Nacional do Chile, a 120 Km de Santiago.

Já Viña del Mar é uma praiazinha  fria, profunda (imprópria para banhos). Casas lindas, castelos quase dentro do Mar. Passeios de Vitorias (carruagens francesas). Não tem a importância histórica de Valparaíso.
Apreciamos o delicioso almoço à beira mar, cujo cardápio era de frutos do mar. Retornamos já noite.
Outro dia continuo o relato. Vou escrever sobre a economia e costumes do povo chileno.