sexta-feira, 26 de abril de 2013

ANDANDO COM O POVO CHILENO

Uma vez que tivemos que permanecer no Chile por mais alguns dias do que o planejado, resolvemos caminhar nos bairros do Chile (periferia de Santiago) , andar de trem e visitar outras cidades próximas.
Fomos a pé até a Estação Central de trens. Compramos passagem para São Fernando, cidade que dista uns 150Km de Santiago e uma das mais atingidas pelo terremoto de 2011.
A Estação é linda, um prédio antigo, com obras de arte pelos corredores. Tocava música clássica no interior da estação e ficamos assombrados com a quantidade de lojas, lancherias, e povo circulando na e ao redor da Estação Central.


Ao andar íamos conversando com as pessoas, descobrimos que o salário mínimo chileno equivale ao nosso. Vimos muitos vendedores ambulantes, vendedores de frutas na rua.Muita "economia informal". Muitos mendigos também, a maioria velhos..
Normalmente a população é gentil, simpática, prestativa, educada no trânsito, alegre e sempre com crianças e bebês no meio da confusão.

No entanto, observamos que os vendedores de frutas nas ruas mostram-se impacientes, assim como senti uma certa desconfiança por parte de alguns vendedores de artesanato indígenas.
Andamos muito de metrô, de trem e de ônibus interurbano e muito mais ainda a pé.
Percebemos que os chilenos construíram muitos túneis e estações subterrâneas para trens e mesmo para carros e ônibus.
Na periferia de Santiago, ao longo da grande Av. Liberdade, que desemboca no centro, há um enorme movimento de populares de todas as etnias, e se pode ver muitas lojas chinesas, japonesas, tailandesas, peruanas, etc. Tem até Avenida Brasil. Muita, muita pichação (quase 100% das fachadas). Parece que os chilenos não se incomodam com isso. No interior das lojas, a decoração principal é a grafitagem, que é muito linda.
Os preços da periferia também são altos, principalmente a comida.


SÃO FERNANDO
Fomos a São Fernando, de trem. Uma cidadezinha de uns 50.000 habitantes. Nos surpreendeu a quantidade de gente que viaja de trem. Estes são bons. Duas horas de viagem. Região agrícola. Vimos ao longo de toda a viagem plantações de frutas( parreiras, pessegueiros, pereiras, macieiras, et ). e vimos plantações de milho e sorgo.
Fomos "hablando" sobre o Chile com chilenos. Falamos sobre educação, saúde, economia.
Conversamos com imigrantes da República Dominicana (negros), que buscam trabalho e fugir da pobreza.

São Fernando é uma cidade de casas baixas (não vimos nenhum prédio alto). Casas feias, com raras exceções, com alguns prédios antigos (esses são bonitos). Muitas construções danificadas pelo terremoto, como a maior Igreja, toda rachada, interditada.
Como em Santiago, os restaurantes são verdadeiras tocas, cavernas labirínticas (os populares, é claro), feias, escuras e não muito limpas, mas foi onde conseguimos comer com fartura e barato. Comemos, pela primeira vez o feijão e arroz chileno: um mingau, mas gostoso. Usam pouco sal. Sempre pouca carne e pouca verdura.Não usam toalhas nas mesas e quando usam, são de plástico e de mau aspecto.


Também em São Fernando vimos e ouvimos artistas (músicos) de rua, com música chilena, tocando e vendendo seus CDs. Compramos um.

Durante os 9 dias que vivemos no Chile vimos alguns problemas também: revolta dos carcereiros, alguns protestos e reivindicações salariais, algumas manifestações de rua, acidente em que morreram 14 jovens, a maioria da cidade de Rancágua (passamos de trem pela cidade). Esse acidente provocou muita comoção e manifestações de rua por todo o Chile. Pelo visto acidentes por lá são mais raros que aqui.

A enchente no Atacama também teve diversos reflexos em Santiago em relação ao abastecimento de água e transporte de mercadorias.
Os chilenos fumam muito e naqueles dias o Congresso aprovou uma lei anti-fumo mais rigorosa, proibindo fumar em locais públicos (bares, restaurantes e teatros).

Tornamos a visitar a Casa Londres 38 Espaço de Memórias. Perguntamos sobre a situação do Chile. Relato de alguns chilenos: pouca luta social, soluções personalistas e corporativistas. Querem consumir. Setores mais produtivos, que geram crescimento, como o cobre, o vinho, a construção civil, são majoritariamente privados, bem como a educação e inclusive a básica. Também a saúde, a assistência social e aposentadorias  são privadas.
As pessoas, na medida que melhoram de renda, buscam o privado, que segundo relato de um professor, não são melhores que os públicos. A escola é um exemplo, tanto pública quanto privada "resumem-se em transmissão e cópia".

A economia familiar rural foi desmantelada e por isso a tristeza dos vendedores de frutas, quase todos antigos pequenos proprietários e agora empregados mal pagos. A maioria das frutas são para exportação. A população fica com os refugos e se puder comprar. Toda a vida "está mercantilizada" (palavra dos chilenos).
A alternativa apontada pelas esquerdas é estatal. A Frente Popular (da ex Presidente Michele) não produziu mudanças significativas.
Hospitais e postos de saúde são pouquíssimos. Não há SAMU,  UPA ou algo semelhante por lá. Soubemos que no Chile não tem sistema como o nosso SUS. Pronto atendimento e seguridade social são pagos.
Assistimos a uma mobilização contra a proposta de ampliar para 65 anos a idade mínima para a aposentadoria das mulheres. Proposta da maior seguradora social privada.
Um professor chileno, idoso, nos disse:" quem manda no Chile são 3 setores: o Estado (com suas forças repressoras), o empresariado e a Igreja.
De fato, a quantidade de igrejas e de museus da Igreja Católica é impressionante. Nos altares principais das Igrejas, junto aos santos fica a bandeira chilena, demonstrando essa conjugação de poderes.

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