segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Passione

Terminou a novela Passione, da TV Globo. Não me contenho, preciso fazer alguns comentários.
Gosto de novela, gosto de ver interpretar e de uma boa história.

Mas gosto de histórias bem contadas, que não subestimem a inteligência da gente e que as cenas, que querem imitar a realidade, sejam bem feitas: produzam prazer, tenham beleza, poesia, instiguem nossa imaginação.

Mas faz tempo que as novelas são uma constante improvisação, repetitivas e que usam de artifícios escabrosos para obter audiência. Pensando assim, repetem chavões tristes e macabros: cenas de brigas, mulheres mesquinhas, fúteis, disputando machos também medíocres. Suspenses que depois revelam bobagens, como a "tara" do personagem Gerson. Ou o velho esquema: Quem matou...? Dessa vez, foi quem matou Saulo, até o final.

Herói, que no último capítulo, encontra um romance compensando todas as babaquices que fez na vida: nessa história foi o Totó, que levou chifre da vilã Clara e pra não ficar no prejuízo, arrumou uma agrônoma "brasiliana" lá na Toscana, na última hora.
Aliás, com esse apelido de cachorro guaipeca, o pobre infeliz até que se deu bem, no final.

E tem mais do mesmo: Dondocas, mal amadas, desastradas, sem caráter, como a personagem Melina, que para fugir das barbaridades que cometeu, foi dar uma voltinha em Paris e, pronto, voltou madura, equilibrada, bondosa, altruista. E acabou ficando com o disputado Mauro, enquanto a personagem que tinha dignidade, morre e deixa uma filhinha e o marido para a vilã.

Assassinatos, traições, bigamia, falta de diálogo, mentiras...e tudo mal feito, mal explicado, improvisado.

Aquela metalúrgica Gouveia, era mesmo um fiasco, as pessoas faziam tudo, menos trabalhar. E quanto dinheiro produzia, para tantos roubarem e viverem na ostentação, mesmo tendo vendido seu melhor produto, que foi sabotado. Como é possível?

Fora isso o final foi um tremendo mau exemplo:

O personagem Berilo fica, ostensivamente com duas mulheres;
A avó Gouveia, matriarca moralista, casa com um e se faz amante do outro: o motorista e o jardineiro. O que o autor quis com isso: fazer rir? Não achei graça. Mostrar uma idosa pós-moderna? Ridículo! Poderia ter sido uma ótima amizade de três idosos que se admiram, se respeitam, se divertem e não escondem nada. Afinal, o que será possível realizar, de outra forma, com a idade avançada dos personagens?

Quanto à Clara, a vilã maior e que cometeu quase todos os assassinatos, foge e se dá bem.
Um exemplo de impunidade e de cenas mal resolvidas!

A mãe, abnegada, que saia à caça de amantes, se consola com um quase garoto (é quase uma pedofilia)! Falo da personagem Stela, muito mal interpretada por Maitê Proença, cujo cabelo esteve horrível durante toda novela (parecia uma vassoura).

Formadora de opinião?

Se considerarmos que a TV Globo fez o maior escarcéu quando o Lula falou que o povo não precisa de ninguém que lhe " forme opinião", reivindicando o papel de formadora de opinião e considerando que, no período eleitoral, a emissora protagonizou, de diversas formas, ataques à candidata Dilma, na questão moral, fica incoerente esse canal de Tv, que se diz formador de opinião, defender tanta liberalidade nas questões morais, como infidelidade conjugal, bigamia, por exemplo, impunidade e outros absurdos.

Sem falar na falta de estética e de ética, com episódios como o investigador transar com a investigada, como método de obter informações e como os episódios macabros protagonizados pela avó asquerosa das personagens Kelly e Clara.

Cenas grotescas, diálogos pobres, cenas mal feitas, como a simulação da morte do Totó.
Até a atriz Fernanda Montenegro, que é divina nas suas interpretações, teve momentos ruins, talvez por conta dos textos ruins e medíocres, que tinha que interpretar. Pena!

A TV Globo, que sabia fazer boas novelas, agora apresenta grandes porcarias para o público brasileiro. Quem sabe acerta uma hora destas! Mas precisa repensar a contratação do autor Silvio de Abreu, como novelista: Ruin, ruin, seus textos.

sábado, 15 de janeiro de 2011

TRAGÉDIAS: TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS


Nossos grandes meios de comunicação tem tido, nestes últimos dias, muita matéria para fazer sensacionalismo com a dor provocada pelas enchentes no Rio. Nem é preciso explorar o corpo da mulher, nem inventar fofocas sensacionalistas, nem matar mais personagens nas novelas, em busca de audiência.

Entre propagandas de bebidas, carros, celulares, etc., as câmaras saem a buscar as imagens mais trágicas, mais horripilantes, os rostos mais desesperados, a imagem mais chocante. E aí fazem um texto superficial, melodramático, derrotista, rancoroso, chutando informações e hipóteses, contabilizando números de vítimas, repetindo imagens, mostrando duas, dez, vinte vezes...É a "alegria dos homens tristes"!

E procura-se culpados: "o governo federal nos últimos anos só tem prometido recursos, que chegam astrasados e pela metade do que foi previsto, etc..."


É verdade que os governos, nas três esferas tem sido incompetentes, não tem tratado desses problemas como se faz necessário, com urgência. As tragédias se repetem.

No entanto, é de se perguntar: Quem são os responsáveis, além dos governos? Onde estão as causas? Por que as pessoas constroem nas encostas? O que isso tem a ver com a ocupação do solo urbano, com o êxodo rural, com a reforma agrária, com a reforma urbana, com a monocultura, com a criação de gado extensivo, com o modo de produção e de vida de todos nós?

É preciso nos perguntarmos sobre a relação que existe entre as tragédias ambientais, com o nosso modo de vida e de produção. Porque não é só enchentes que nos assolam, temos, ao mesmo tempo as regiões de SECA terrível, de falta de água, temos as queimadas, os grandes e constantes desmatamentos, os assoreamentos dos rios, o aterro definitivo das fontes e dos pântanos, o desaparecimento de espécies, as pragas, as epidemias... Que relação existe entre esses diferentes fenômenos?

Como é possível, a qualquer governo, conter isso? Que legislação temos sobre os crimes ambientais?

Toda a agricultura não deveria ser orgânica e sustentável? Hoje paga-se caro para ter o privilégio de comprar alimentos orgânicos. Isso significa que nossa legislação permite o envenenamento, a má qualidade dos alimentos. Sem falar na forma devastadora do meio ambiente para produzi-los.

Todos somos responsáveis. Urge uma legislação mais rigorosa sobre o uso do solo, das águas. Temos que pagar aos pequenos agricultores para deixarem de cultivar suas terras nas encostas, nas beiras de rios, nos morros. Que eles recebam para cuidar e plantar vegetação! Isso custa caro. Temos que pagar por isso.

Que tal uma CPMF para a sustentabilidade?

Fazer reforma agrária, desconcentrando a terra, exigir que a produção preserve, de fato, as condições ambientais, sem popuir as águas e os alimentos.
Investir pesado no tratamento dos esgotos, construir moradias, subsidiadas a todos que estão em áreas de risco. Proibir construções, de qualquer espécies em áreas que devem ser preservadas, subsidiar o transporte dos trabalhadores que tiverem casas distantes de seu trabalho, não permitir produção agrícola e industrial que polua, etc. etc.
Isso precisa ser pago por todos.

E punir com multas, confisco de bens e cadeia para quem descumprir as leis ambientais (madeireiras, grandes criadores de gado, etc. )

É fácil fazer isso? É óbvio que não, uma vez que os interesses do Capital e do lucro sempre são os que orientam os legisladores, os governantes e a sociedade de um modo geral.

Em síntese, me parece que há, de fato, uma complexidade, que deveria ser considerada pelos que se apressam em achar que só os governos são os responsáveis. Isso nos retira todo o compromisso.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

REVELAR, PUNIR, PERDOAR OU INDENIZAR?


Revelar, através da Comissão da Verdade, punir, perdoar ou indenizar. Esses são os verbos utilizados quando se lê ou se ouve comentários sobre os crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos ocorridos no período da ditadura civil-militar, instalada, no Brasil, a partir de 1964 e que perdurou 30 anos.

Falo em CIVIL-MILITAR porque, se bem me lembro, o golpe militar de 31 de março de 1964, foi precedido de uma fanática propaganda contra o comunismo, contra a Reforma Agrária, na defesa intransigente, da propriedade privada, mesmo quando ela tenha sido fruto de saques de terras griladas e roubadas de índios e posseiros, num verdadeiro rio de sangue.
Lembro, também, que um setor da Igreja saía às ruas e subia nos púlpitos, rezando, pregando e amedrontando as familias em relação aos "perigos" do comunismo. Ainda me lembro da sensação de medo e desconforto emocional quando alguém mencionava a palavra fatídica. Sou capaz de sentir a repreensão dos olhares, o medo.

Saia às ruas, também, a TFP (Tradição, Familia e Propriedade), contra qualquer medida do Estado, que concedesse benefícios sociais à população, que propusesse medidas de distribuição da terra e da renda.
Foram responsáveis, também, pelo clima de aceitação do golpe militar, a Grande Imprensa, que era contra reformas sociais e vociferava contra o comunismo e taxava de governo comunista o gov. de João Goulart. Lembro, também, que empresários, mais tarde contribuíram, inclusive financeiramente, com a operação Bandeirantes, responsável por mortes e desaparecimentos de lutadores contra a ditadura.
Manipulado ou não, doutrinado ou oportunista, um grande setor da sociedade, foi conivente.

PUNIR?

É por por tudo isso que, talvez, seja preciso refletir quando se fala em punir. Afinal, punir quem exatamente, para que se faça justiça? Quem dava as ordens? Quem alimentava o apoio e a impunidade? De onde vinha a autoridade? Quantos precisariam ser responsabilizados e punidos? Que forma de punição, atribuir, por exemplo, aos meios de comunicação, que ajudaram a alimentar, a ideologizar as ações do governo militar e das forças de repressão? Censura, silêncio conivente! E hoje são histéricos contra qualquer medida de controle social sobre a imprensa. Hipócritas!

REVELAR

É claro, para mim, que tem que ser arrombada a porta dos cofres que guardam esses segredos. Temos, todos, o direito de saber TUDO o que ainda for possível apurar. Que se divulgue, que sejam feitas manifestações de repúdio, que se dê nome aos bois, a todos, que colaboraram com aqueles eventos tão deploráveis, que sirvam de motivo de reflexão, de repúdio, de revisão jurídica e institucional, para que nunca mais se repitam.

INDENIZAR?
É outra questão complicada. Indenizar quem? Como avaliar, monetariamente, sofrimento, perda de vidas?
Quem precisa ser ressarcido? O que ressarcir?Não foi uma geração inteira silenciada, sonegada da liberdade, da palavra, da livre manifestação? Como indenizar o medo, o silêncio, as possibilidades negadas? A voz reprimida? O talento esmagado?Os currículos deformados, dentro das escolas?
Claro, não se pode negar que alguns foram mais brutalmente atingidos, de forma irrecuperável. Pode-se recuperar a vida? Há como pagar por ela?Em que casos deve-se indenizar?

Tenho certeza de duas coisas:
Primeiro: deve haver radical apuração e revelação de TUDO o que ainda não sabemos.
Segundo: Todas as medidas tomadas não devem ser pautadas pelo ódio e pelo ressentimento. É preciso olhares e atitudes generosos e propositivos, no sentido de fazer crescer a humanização, a fraternidade e a paz.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

POSSE DA PRESIDENTE DILMA


Dia primeiro de janeiro de 2011, tomou posse da Presidência da República do Brasil, a primeira mulher eleita democraticamente.
Dilma Roussef, como muitos da minha geração, foi militante, radicalmente engajada na luta contra a feroz ditadura civil-militar que o Brasil viveu, a partir de 1964.

Torturada, resistiu, reconstruiu sua vida, estudou, não abandonou a luta. Foi para a institucionalidade, fez sua trajetória com competência técnica, serenedidade, respeito às divergências, disciplina e tenacidade. Mulher forte, determinada e coerente.

Dilma vai implantar o socialismo? Não.
Vai conseguir acabar com a corrupção da máquina capitalista e/ou estatal?

Ela vai se esfoçar, mas não vai acabar, porque o capitalismo se nutre da corrupção. Está presente, primeiro no Capital, no sistema monetário (na usura), nas empresas ( nas suas mais-valias e na exploração do trabalho).
A corrupção contamina todo o modo de vida, no cotidiano de cada um.
Esteve presente, na máquina estatal, desde o Império, na Primeira República, no Estado Novo, no governo de Juscelino (no superfaturamento das obras de Brasília, por exemplo), no período da ditadura (lembram do adubo papel, dos cargos indicados, nos favorecimentos, nas torturas...?), nos governos pós-ditadura ( escândalo da Pasta cor-de-rosa, Sinvan, dos sangue-sugas das ambulâncias), até o Mensalão do governo Lula.

LAMENTÁVEL, sim!
Mas por que carimbaram só o governo Lula de corrupto?

Na verdade, o que irrita os preconceituosos, fascistas, racistas...é que no governo Lula muitos pobres chegaram às Universidades, vão aos centros comerciais, andam de avião, frequentam restaurantes, cinemas... compram carros, motos...misturam-se aos elitizados, com seus modos populares, suas crianças, suas falas, seus ruídos, suas diversidades culturais, suas linguagens..."contaminaram a cultura nobre", tida como a correta.
Isso, para alguns, é insuportável.
Talvez por isso, alguns não aceitem que a presidência, que saiu das mãos de um operário, agora vá para as mãos de uma mulher, para dar continuidade à opção de governo implementada por Lula.

Vi no TWITTER, manifestações de intolerância, que literalmente, clamavam pela eliminação física de Dilma.
Um sujeito chegou a escrever:

"será que não vai aparecer nenhum atirador de elite para alvejar a cabeça ou o coração da Dilma"?

E foi seguido por diversas pessoas, que se manifestaram apoiando esse criminoso desejo.
Claro que não é contra a pessoa de Dilmna, mas contra o que ela significa.
Tem um setor da sociedade brasileira, jovens inclusive, que não tem tido nenhum pudor em manifestar seus pensamentos (e até ações concretas) de violência contra homossexuais, negros, pobres, favelados e índios.
Infelizmente esses pensamentos e ações de discriminação e violência, tem adeptos e, parece, crescem em ousadia, nas suas práticas violentas.

Precisamos de ações e manifestações públicas, educacionais, culturais e sistemáticas, num processo de formação permanente, contra toda forma de intolerância. Não basta esperar pela educação escolar para isso. A escola não dá conta dessa tarefa e, não raro, até permite a reprodução desse tipo de pensamento e de conduta.

A paz precisa ser construída cotidianamente e é tarefa de cada um de nós.
Quanto ao que é corrupto e ao que é ético, precisamos ir fundo, ir às raízes de nossa humanidade, talvez sob novos paradigmas, mais humanizados, mais solidários e menos moralista.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

RINCÃO DE LURDES

Rincão de Lurdes e o rio Picó em Caçapava do Sul. Se o Picó falasse iria dizer que foi "perturbado" com a cantoria, os banhos de rio, o consumo de água, das dezenas de Dalmasos (em torno de 50 pessoas), acampadas na antiga casa em que os 10 irmãos foram criados, filhos de Aquiles e Lúcia Dalmaso.

Tinha, no mínimo, três gerações acampadas, colorindo o gramado e as sombras das árvores de barracas coloridas e circulando pela velha casa. Casa até bem equipada, com tudo o que é preciso para oferecer tudo o que pode ser gostoso. Fogão de chapa, geladeiras, freezer, forno de tijolos, churrasqueira, varanda com amplas mesas, bancos, espetos, bacias, gamelas, panelões de ferro. E quanta coisa boa se faz! Todo mundo se movimenta, lavando, descascando, cortando, espetando, amassando...todo mundo sabe receitas ótimas.

E come-se e bebe-se, e rola os grupinhos de conversas e brincadeiras. E alguns botam as histórias em dia. E fazem-se as rodas de cantoria. Gaita, violão, percussão...tem tudo!
Dos dez irmãos, quatro já não estão mais neste mundo. Claro que o pessoal lembra, cai alguma lágrima, rola alguma história.
Tem os mais idosos, que são mais poupados do serviço, mas estão por perto orientando e também rindo, brincando.

É o encontro que celebra a vida, resgata a história, chora os que se foram. Mas este ano o choro foi em forma de canto e de riso.
A familia é tão grande, tem tantos jovens e a cada ano a gente descobre um pouco mais sobre alguns, que nos anos anteriores não estavam ou não se conseguiu observar e conversar. São, sempre, dias de descoberta.
E descobre-se, também, os que já estão a trinta, quarenta anos, na familia, mas sem se revelar. É necessário décadas de encontros para que algumas coisas sejam reveladas e esclarecidas.

Bons momentos acontecem nesses 4 ou 5 dias que a gente passa juntos.
E no dia primeiro do ano, chegam os que só ficam nesse dia. A data começa com um grande foguetório, depois rola música até o amanhecer. Dorme-se pouco. O sono é ambalado pelo som dos sapos da lagoa e a gente desperta, muito cedo, com a histeria dos galos e pássaros. Depois vem o café coletivo, o preparo do churrasco, das saladas, as falas e agradecimentos, o almoço, as deliciosas sobremesas e os bate-papos até tarde.

É para lavar a alma e lembrar o ano todo.
Obrigada a todos pela alegria e pela energia que recebi. Sinto-me recompensada pelas limpezas, trabalho e desconforto da barraca. Valeu! Não pudemos assistir as posses de Dilma e Tarso, a despedida de Lula, eu as vi depois no twitter. Li diversos comentários e isso já é assunto para outro momento.