segunda-feira, 29 de março de 2010

Ando cansada

Ando cansada da politicagem. Fui vereadora uma vez, candidata a prefeita outra vez, candidata a deputada estadual duas vezes. Na última vez, fiz quase 15 mil votos. Sem dinheiro,sem militantes pagos, sem mídia. A garra da juventude, das mulheres e do trabalho junto às lutas sociais,junto com compromissos claros, definidos na base, é que renderam tantos votos. Não me elegi, porque a lógica da nossa democracia requer dinheiro e para isso, ou a gente se individa, ou aceita patrocínios, que comprometem a liberdade do eleito realizar aquilo que ele acredita. Deixei de ser candidata.Talvez tenha sido uma atitude equivocada, talvez moralista, pois não quis abdicar de determinados princípios.

Não me iludo que na frágil democracia brasileira, o processo eleitoral tornou-se uma guerra suja, corrompedora, quase sem exceção.
É o que estamos vendo com a imprensa golpista e com os Institutos de Pesquisa (desta vez o Data Folha, que não tenho dúvida, fraudou a última pesquisa,com o surprendente crescimento repentino do Serra).

Estou cansada de mediocridade nos noticiários, que só divulgam catástrofes, que são sensacionalistas, tendenciosos, superficiais, denuncistas, que promovem atitudes pró-linchamento, como ocorreu com o julgamento do casal Nardoni.Esse sensacionalismo que incita o desejo de vingar com as próprias mãos, instigam apelos pela pena de morte e outras barbaridades. É preciso fazer justiça, mas dentro dos mecanismos institucionais. Agressões a crianças, infelizmente, acontecem todos os dias, e com mortes. Por que esse caso foi escolhido para provocar comoção nacional?

Outra coisa que cansa é o denuncismo, só coisas ruins, só erros e suspeitas sobre os governos, autoridades, profissionais, instituições. Isso gera sentimento de derrota absoluta da sociedade humana. Temos inúmeras ações culturais e humanitárias, ações de governos que são acertadas, criativas e resultado da mobilização das lutas sociais.
Claro que muitas coisas andam mal, mas tem muitos acertos nas políticas públicas. Por exemplo, nos Territórios da Cidadania: regiões mais pobres do país, em que o Indice de Desnvolvimento Humano (IDH) é baixo,recebeu investimento de 37 bilhões para 135 ações de desenvolvimento regional e de garantias de direitos sociais, objetivando melhorar a vida das pessoas, na agricultura familiar, nos assentamentos, indígenas, quilombolas, pescadores, etc. Sobre isso, Toda a imprensa se cala.

Por fim estou cansada dos domingos nos meios de comunicação. Se a gente precisa ficar em casa, mesmo tendo televisão a cabo e outras tecnologias, não temos opção.São muuuuito ruins as programações de todos os canais aos domingos. De que adianta tecnologias, se nos oferecem tanto lixo, acompanhado de tantas propagandas? Me enchi! Ainda bem que a gente pode fazer outras coisas, como cantar. Foi o que fizemos no domingo que passou. Como eu estava feliz, com minhas filhas e seus companheiros, cantando, conversando e rindo. Disso não canso nunca..Não canso de fazer comida boa, de costurar roupas para minhas filhas, de receber visitas, de visitar amigos, de ver bons filmes.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O pensamento dói


Pensar, estudar, tentar conhecer e entender, dói muito. Dói a cabeça, as costas, o pescoço...são nódulos de tensões,provocados pelas crises de compreensão, de dúvidas, de caos, nas nossas supostas certezas.

Hoje sinto o meu corpo um monumento de dor.
E quanto mais eu penso, mais me dói a cabeça. Passei a noite pensando e dormia e sonhava com os mesmos pensamentos: a complexidade e a incompreensão da doença e da dor humana.

Lembrei-me do que Franco Berardi fala da empatia, de nosso corpo erótico, capaz de sentir, de colocar-se no lugar do outro e sentir alegria, dor e prazer porque o outro sente alegria, dor e prazer. Ele fala que corremos o risco de nos deserotizar e, portanto, de perder a capacidade de sentir o que o outro sente e então, de sentir compaixão, de agir solidariamente.

A enfermidade de minha cunhada, que tem a minha idade, tem me feito sofrer, pensando nos planos que ela tinha, nas alegrias que ela ainda queria viver, na sua luta para se manter viva. E me faz crescer um desejo enorme de lhe dar parte de minha própria vitalidade.
A dor, que compartilho com ela, não é só uma dor espiritual, ela é sentida no meu corpo.

Somos seres sensíveis, capazes de empatia. Os nossos neurônios espelhos nos permitem entender e sentir, mesmo sem ter vivido diretamente algumas experiências.
Não sei se só os humanos são assim, mas isso é fundamental para viver intensamente e solidariamente.
Dor é vida, pensar, amar, estudar, conhecer, descobrir, viver dói, dói muito.

Espero, desejo e tenho fé que a medicina racional e pragmática, incapaz de curar determinadas enfermidades, possa compreender melhor o ser humano em toda sua complexidade e seu potencial. Tenho fé que minha cunhada resista e responda a outras terapias que lhe deem capacidade de cura.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cursos da UFSM em Silveira Martins em crise.


A Unidade Descentralizada da UFSM em Silveira Martins, que teve cinco cursos aprovados pelos Conselhos da UFSM está em crise.
Os cursos foram analisados, debatidos,tiveram algumas manifestações contra a aprovação dessa unidade, mas foram soberanamente aprovados. O MEC também aprovou, porque as propostas eram inovadoras e preenchiam as características das exigências do REÚNE.
Objetivo dos cursos: capacitar recursos humanos para ajudar a fomentar desenvolvimento sustentável, a partir do potencial econômico e cultural da região da 4ª Colônia de Imigração Italiana e demais municípios, onde predomina a agricultura familiar, a partir da constatação de que, após mais de 50 anos da existência da UFSM na região, esses municípios não foram beneficiados com a contribuição da Universidade e perderam população e renda.

Os cursos foram aprovados para desenvolver proposta pedagógica, que fugisse ao modelo tradicional de ensino, transmisor de conteúdos teóricos pré-concebidos e pouco significativos para os objetivos propostos. Na proposta dos novos cursos, deveria acontecer ensino, pesquisa e boas práticas de forma concomitante.
As transferências de professores, os concursos realizados, tinham essa concepção e os candidatos aprovados e transferidos para a unidade, assumiram essa proposta.

Foi garantido e conquistado, uma área de terra para construção do prédio,para comportar laboratórios, salas e todas as condições necessárias ao pleno funcionamento dos cursos, dentro da proposta aprovada. Os projetos para construção estavam prontos e chegou a sair o edital para licitação, já com verba liberada.
Os curso iniciaram, provisoriamente, em prédio da Prefeitura.

Mas o que está acontecendo agora?
1 - Foi cancelado o edital de abertura da licitação para construção da obra.
2- A Universidade corre o risco de perder o terreno, por não construir a tempo, uma vez que os recursos, que haviam sido liberados, foram destinados a outras prioridades da UFSM, pela reitoria. O Convenio com a Prefeitura de Silveira Martins estabelece que, se a construção não se efetivar,dentro de 3 anos, se não me engano, o terreno volta para a Prefeitura.É bem verdade que a Reitoria está propondo alguns remendos no local onde estão funcionando os cursos.
3) O prédio provisório, ocupado pela Unidade, não comporta a instalação de todos os equipamentos e laboratórios necessários, além de não ser possível garantir refeitório e alojamentos, necessários para viabilizar a frequencia de muitos alunos.
(tudo estava previsto e havia verbas).
4 - Alguns professores, com transferência garantida e chamados por concurso, começam a questionar o Projeto, pressionam para se acomodarem nos tradicionais modos de ser professor público universitário: despejar conteúdos teóricos, não cumprir com o regime de 40 horas, disputar cargos em Comissão, etc. Outros, parecem torcer para o curso não dar certo e assim serem transferidos para S.Maria. A maioria não se faz presente na Comunidade e não conhecem a realidade e nem se esforçam para tal.
5 - O atual reitor, em suas falas e visitas, demonstra não conhecer a proposta ou não acreditar nela e não considera as opiniões da comunidade, manifestadas em audiência pública.
De forma autoritária, determinou que só doutores podem ser diretores pedagógico ou administrativo. Isso complica porque a elaboração dos Projetos Pedagógico e Administrativo, aconteceu sob a coordenação de Mestres e doutores, antes mesmo desse reitor se eleger e antes da chegada de alguns doutores. Com essa determinação ficam fora pessoas, que embora não sejam doutores, são profundos conhecedores do Projeto e da realidade.
É lamentável constatar tudo isso. Espero que algumas pessoas que lá estão, tenham força e coragem para segurar a Proposta e os cursos. Tomara que eu me engane, mas esse relato baseia-se em informações de pessoas da comunidade de Silveira Martins, que estão acompanhamdo os acontecimentos referentes ao funcionamento da Unidade.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Corrupção

Não tem um dia sequer que o PIG (Partido da Imprensa Golpista), nos seus meios de (des)informação e seus noticiários, não apresentem casos de corrupção, sempre envolvendo pessoas(que eles gostariam de detonar) ligadas à política. Claro que nos deixam indignados. Roubar o dinheiro do povo é mesmo de emputecer.
Minha indignação, é que esses meios de comunicação são parciais (quando não são mentirosos), pois deveriam ser mais sérios na análise da corrupção existente na sociedade.( e nem falo das "pequenas" corrupções nos modos de vida de todos nós).

Quase NUNCA se tem a oportunidade de conhecer os casos cotidianos e sistemáticos de corrupção de setores como as EMPRESAS, OS RICOS, os EMPRESÁRIOS.
O sistema capitalista só é como é, calcado na corrupção. Essa palavra vem do latim: Cum-Rumpere (rompimento, fragmentação). É rompendo com o tecido social, com a ética da vida, que os lucros crescem. Atrás de uma fachada de competência,propagandeada como se o lucro e a acumulação viessem de forma legítima, limpa e decente, fruto da coragem e do empreendedorism, esconde-se a natureza corrupta das fortunas e dos lucros. Vou explicar e exemplificar.
O noticiário divulgou o crescimento da fortuna de EIKE BATISTA, do grupo EBX e MMX, mineração LLX (energia, estaleiros, usinas, etc.)No portal Terra há informações que o tal empresário sozinho, é mais rico que os 6,2 milhões de paraguaios. Sua fortuna é de 27 bilhões de dólares. Imaginaram o que é isso? Ninguém acumula tamanha fortuna trabalhando, apenas.
A siderúrgica MMX de Corumbá,por exemplo, é cliente de carvoarias, que submetem familias inteiras a trabalhos insalubres e quase escravos, incluindo crianças. Jogam fumaça e poluição na atmosfera, poluem as águas inviabilizando a vida de muitas familias e ameaçando paraísos ecológisos como o famoso BONITO. E o lucro do Sr. Eike, aumenta e ele jamais chega perto da fumaça, dos estrondos, do desmatamento, da sujeira e da falta d'água, provocados pelas carvoarias.

Carvoarias ilegais, desmatamento ilegal, trabalhadores irregulares, sem carteira assinada, poluição de águas e nascentes, etc. são alguns dos crimes desse senhor, que responde diversos processos.
Sua riqueza é fruto de constantes corrupções que ameaçam a vida.Seus lucros roubam a saúde de muitos. Sua acumulação e seu lucro deixa rastros de destruição e joga sobre todos nós, as externalidades negativas(água podre, barulho ensurdecedor de suas usinas, desmatamento, etc.). Ele fica com os lucros e todos nós pagamos pelos seus danos.
Esse tipo de corrupção, que polui, explora, rouba no peso na qualidade, na informação mentirosa sobre o produto, na exploração ilegal do trabalho e da natureza, envenena água, joga venenos sobre os produtos de nossa alimentação (herbicidas, glifosatos, etc.) ninguém aponta e, certamente, causam estragos muito maiores do que o dinheiro nas meias (que é um fiasco revoltante).Nem é preciso observar que essas práticas empresariais acontecem em todos os setores da economia e tem milhares de Eikes por esse Brasil afora, por esse mundo afora, infelizmente.

Parece que todo mundo aceita a desonestidade do Capital, ela vai desde coisas simples, como por exemplo, a indicação da quantidade de um fermento ser menor do que é indicado na embalagem ( dei-me ao trabalho de conferir, um dia destes). Pior ainda: armarem-se guerras para manter os lucros dos donos de indústrias bélicas. A guerra, a poluição, o roubo e a morte, são ingredientes da acumulação.

terça-feira, 16 de março de 2010

Alegria e coragem de ter neném

Várias pessoas que conheço estão tendo bebês. Fico muito feliz, por elas. E fico pensando: como será que estão se saindo?
Tem tido muitas teorias sobre os cuidados com os bebês. Por exemplo: sempre soube que os nenês devem ser deitados de lado, e trocar de lado seguidamente para não deformar a cabecinha, cuidar das pequenas orelhas, e tal. Agora a orientação é deitar de costas. Será?

Tudo isso deve deixar os jovens pais atrapalhados. Teve um tempo que a moda era adotar formas de cuidados que contribuissem para o desenvolvimento da autonomia, desde bebês. E, então, os nenês não deveriam ficar no quarto do casal, mas bem longe, nos seus quartinhos, e com babás eletrônicas, que acusassem o choro do bebê. Deveriam ganhar muito pouco colo, etc. etc.
Também não era conveniente pronunciar a palavra NÃO, mas adotar sempre, palavras afirmativas. E outras tantas informações.

Quanto a mim, lembro muito bem de alguns aprendizados que fiz, na marra, sem orientações. O Irineu e eu líamos muito, ouvíamos os mais velhos, nem todos, é claro, mas algumas pessoas valia a pena serem ouvidas, nossas mãe, por exemplo. (porque nossas mães sabiam das coisas mesmo).Aprendi muito com elas.
Sobre amamentação, a mãe do Irineu me ensinou tudo o que eu precisava, e, com isso recuperei o leite após dois dias sem leite e amamentei meus 4 filhos até um ano e dois meses. Esse aspecto é muito contraditório: alguns falam em amamentar até 2 ou 3 anos. Outros até 6 meses. Fiz minha própria teoria, até um ano, porque depois a criança fica muito dependente e vive grudada na mãe, não quer aprender a comer outros alimentos, etc. Deu certo. Creio.

Minha mãe falava, por exemplo, que as crianças precisam tomar banho de sol (por causa da vitamina D) na primeira hora da manhã, e peladinha, sobre a cama, ouvindo a voz da mãe ou do pai, a conversar carinhosamente, ou a cantar suavemente.
Massagem, sol, água, são fatores de saúde.Quando está chorando, inquieta e a gente não sabe o que tem, pelar, deixar à vontade, dar um banho morno, ajudam a acalmá-la e continuar observando seus movimentos.Dor de barriga tem um movimento, dor de ouvido tem outro, febre alta pode ser garganta. Febre é perigoso dar convulsão, é preciso dar medicação indicada pelo médico, mas enquanto não faz efeito, é bom ajudar com banho na temperatura adequada (não fria nem muito quente), para evitar convulsão.
Com essas avós aprendi que não se dá chá, nem mamadeira durante a amamentação, pois a criança pode deixar o peito(pelo menos até os quatro meses).
Segui meus instintos de fêmea: Aconchego físico, colo, voz, beijos, massagens, são fundamentais. O nenê acostomou-se ao útero, ouvia nossa voz, nosso calor, como deixá-lo sozinho e distante? Deitar de costas ou de lado? O importante é estar por perto e observá-lo, ele gosta da nossa voz.
Dar de mamar, é um prazer para ambos: nenê e mãe. Deve ser sempre, sem pressa, sem estar agitada ou suada, atenta e focada no bebê.
Ele é gente, é um"animal da natureza", precisa do contato, dos cuidados, do calorzinho de nosso corpo.

Ah, como é bom! Ah, como aprendemos, como nos faz bem! E não é de merengue, não se derrete fácil, mesmo sendo frágil. É sempre válido o carinho, a conversa, a consideração sobre sua legitimidade. A observação, o conhecimento, o amor. A gente se prepara para tudo, para ser pai e mãe também requer pesquisa, leitura, observação.
Lembro que no primeiro mês, o nenêm faz um gesto de querer MAMAR, ABRINDO A BOQUINHA. fAZ ISSO A TODA HORA E A GENTE PENSA QUE É FOME. e ELE FAZ ISSO PARA MANIFESTAR DOR, DESCONFORTO, SONO, QUALQUER COISA. É PRECISO TER ATENÇÃO, OBSERVAR. CADA NECESSIDADE TEM UM CHORO ESPECÍFICO. SÓ A OBSERVAÇÃO VAI NOS DAR SABEDORIA.

Essa lembranças são tão boas. Mas sei que quando for avó, as pessoas não vão querer saber de nossa experiência, tem outro modismo agora: não deixar os avós dar palpite. Com certa razão, mas não deveria ser excluída a experiência.
Saudades dos nenês. Se alguém ler esse blog e tiver nenê: Curtam que esse tempo é breve. Estar com vossos filhos não é perder tempo, é ganhar tempo de vida, tempo rico e feliz, que é tão breve, nos humaniza e deixa saudades.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A feminização do Trabalho

"Na sociedade pós-moderna a mulher se torna modelo para as formas de produção" (Negri)

Durante séculos os trabalhos relativos aos cuidados com a reprodução e manutenção da vida eram atribuições das mulheres. Cuidar de crianças, de idosos, dos doentes, dos portadores de deficiência: tarefas de mulher; Cozinhar, lavar, passar, costurar, limpar, ensinar, educar, lidar na horta e com animais domésticos: tarefas de mulher. Tarefas não remuneradas, desvalorizadas, invisíveis econômica e socialmente.

As mãos femininas, o corpo da mulher,foram treinados para servir, fazer as tarefas cotidianas, repetitivas, cansativas, em duplas ou triplas jornadas. Corpo para reproduzir, cuidar, acolher, nutrir. Corpo, historicamente, usado, explorado, manipulado, muitas vezes golpeado e morto.

Mas a mulher agigantou-se, conquistou legalmente acesso a todas as profissões.Ressalto, que falar legalmente, não significa ter superado as desigualdades, a violência e a exploração.
O que quero destacar neste texto, é que todos os fazeres que eram destinados à mulher, que envolvem cuidados, afetos, linguagem, enfim, que criam relações sociais e que foram historicamente desprezados, são hoje capturados pelo Mercado, pelo Capital e fazem parte do processo de valorização da Produção, da nova natureza do trabalho, cada vez mais conectado à produção de conhecimento, à dimensão linguistica e comunicacional, portanto, social, intelectual e afetivo.

O Mercado invade o setor de serviços: educação, saúde,cuidados com a infância e com idosos, intretenimento, cultura, cuidados com a vida em geral.
O verbo trabalhar conjuga-se mais no feminino que no masculino, segundo Negri.
O mencionado filósofo italiano, afirma que a sociedade mais rica, é a que consegue explorar, mais intensamente, os processos de reprodução social da vida,responsáveis por aumentarem a inteligência e potencializarem as capacidades de comunicação.

A matéria-prima que cria modos de vida, agregando valor aos serviços e às mercadorias, é a produção de subjetividades.
E quem estaria no centro da produção social da vida e, portanto, na produção de subjetividades, senão as mulheres?
Quem, majoritariamente, educa para valores da vida relacional e afetiva, senão as mulheres?
Quem organiza os serviços da vida social? No geral são as mulheres.
O trabalho se feminizou, não porque as mulheres estão massivamente presentes, mas porque " os próprios homens para produzir têm, de algum modo, que se feminizar" (Negri).
Diversos autores concordam que na sociedade pós-moderna (e pós-fordista) o trabalho produtivo dos serviços, ganham relevância e tornam-se cada vez mais "mulher". Finalmente as mulheres são maioria no modo de ser do processo produtivo: sensibilidade, comunicação, afeto, emoção e acolhimento: componentes imateriais, femininos, presentes no processo produtivo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

8 de março: Dia Internacional da Mulher

Sempre me ocorre questionar, as razões pelas quais temos que ter um dia para nós(só um dia?) e por que os homens não tem o seu dia? ( porque eles acham que tem todos?).

Bem, mas isso não interessa agora. Na verdade, durante décadas estive envolvida na comemoração desse dia, que as mulheres transformaram, quase sempre, num dia para dar visibilidade às lutas sociais, não só as essencialmente feministas.
Testemunhei muitas denúncias e depoimentos de opressão e de violência contra as mulheres. E não faz muitos anos (eu me lembro, e olhe que não sou tão idosa assim), as mulheres eram proibidas e barradas pela Lei e pelas práticas culturais, de terem acesso igualitário, em relação ao trabalho e à cidadania, de modo geral. Era grande o número de mulheres sem documentos, sem conta bancária, sem renda, sem acesso à saúde, à previdência, à educação, ao sindicato, ao partido,a serem chefes de família, a terem título de propriedade de terra nos assentamentos, etc.

Hoje é difícil encontrar alguém, que não reconheça as conquistas, frutos de lutas, durante séculos. Não foram presentes ou concessões. Participei ativamente de muitas delas, como, por exemplo, da aposentadoria da trabalhadora rural. Quantas vezes acampamos, fomos a Brasília, pegamos milhares de assinaturas... Conquistamos esta e muitas outras, que todos conhecemos.

As lutas não se extinguiram, porque ainda não estão superadas as discriminações e a violência contra as mulheres. Todas as semanas vemos nos jornais, notícias de agressões, estupros, abuso sexual, assassinatos de mulheres, porque, infelizmente,ainda vai demorar, para que se supere a cultura da propriedade e a idéia de direito de vida e de morte, sobre as mulheres e as meninas.

No entanto, hoje, pode-se dizer, vivemos o pós-feminismo, o que significa reconhecermos o êxito do feminismo, mas olharmos em direção ao presente e não ao passado. Ao dizer "SOU MULHER" significa reconhecer a conquista de minha subjetividade, livre, responsável, não mais carregada de significado vindo de fora, imposto e controlado.
Ao refletirmos sobre igualdade e diferença em relação ao homem,assumimos nosso direito de ser mulher e, principalmente, de dar a essa condição, o conteúdo que escolhermos, livremente, a partir de nossa capacidade de nos definir, de nos valorizar, em relação a nós mesmas.
Parece, que nós mulheres, cada vez menos, nos definimos em relação aos homens. E isso é bom e saudável. Nossa transformação não se opõem aos homens, mas concretizamos o desejo de afetar e de sermos afetadas por eles.

Entretanto, o inimigo principal continua sendo o ESSENCIALISMO, a ontologização sobre a natureza própria da mulher e do homem. Determinista, dualista: ou é isso ou é aquilo: ou é hetero ou é homossexual, por exemplo. Por que não os dois? É uma possibilidade, sem dúvida, assumida por muitas mulheres e homens e legítima. O determinismo essencialista, que defende uma essencial diferença entre a psicologia masculina e a feminina, não se sustenta mais, embora exista por aí,causando muito sofrimento, mas implodindo a cada dia. Hoje, é possível implodir todas as imagens de mulher e do homem. A construção de si é construção também de uma sexualidade, a partir da experiência do corpo, enquanto singularidades,capazes de construir nossas subjetividades, de nos tornarmos cada vez mais humanos.
Somos abertos:sujeitos a construir. Não às determinações externas, não ao UNO. Sim à diversidade, ao múltiplo.
O que importa, na verdade, não é definir nossa diferença em relação aos homens, mas entender que somos uma multiplicidade de corpos, de singularidades, de pessoas com capacidade de se construirem e de se individuarem. Mas precisamos continuar atentas, cada vez mais livres e felizes.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Com que roupa...

Qual a roupa que um "nobre edil" deve usar? Sobre isso, o Diário de hoje publica uma matéria, com destaque nas páginas principais. O traje foi motivo de debate do legislativo santameriense e ficou votado no novo regimento interno, que o mesmo deveria ser "a passeio". Agora eles fazem "profundas reflexões" sobre o que cada um entende, por traje a passeio. Só quatro vereadores afirmaram (segundo publicação do Diário) que o principal não é a roupa, mas o trabalho que o vereador ou vereadora realiza.
As afirmações de diversos vereadores, revelam que realmente eles precisam tentar maquiar a aparência, porque o conteúdo que sai pela boca é muuuuito pobre. Vale reproduzir algumas frases proferidas por alguns Edis, sobre vir de gravata ou Blazer (no caso das mulheres): "Acho ótimo, qualifica o trabalho", "Acho interessante porque dá uma impressão formal, e a gente vem melhor apresentado", "É importante, afinal nós representamos uma parcela grande da comunidade. Quanto melhor alinhado, melhor", "...é uma demonstração de respeito e educação à comunidade", "e não tem outra conotação, a não ser exaltar o Parlamento", "...e a gente ter uma postura melhor".
Ora, depende da roupa a qualificação do trabalho? Nem precisa comentar as frases. Fica evidente a preocupação de produzir impressão, exaltar a posição. É óbvio que o que qualifica o Parlamento é a sintonia com a infinidade de questões relativas à vida das pessoas, nas suas comunidades, nas suas necessidades. A participação efetiva dos vereadores intervindo nas questões de saúde, educação, transporte, cultura, lazer, etc. é que vão qualificar o Parlamento. Com tantos problemas nas escolas municipais,neste início de ano letivo,por exemplo, os vereadores vão debater o traje que devem usar? Me poupem!
Mas bem feito, vão morrer de calor de gravata, nos dias de calor tropical desta Santa Maria, que sabe ser quente e abafada. Castigo que eles mesmos se impõem.
Ah, ia esquecendo: Atenção mulheres, querem se tornar sedutoras irresistíveis? Querem comemorar o Dia Internacional das Mulheres? então não percam palestra da consultora Rita Rostirolla.Ela trata de coisas absolutamente fundamentais como "evitar lingerie bege - isso é mortal". Vou por fora as minhas, urgentemente.
Ah e se alguém deu calote na Prefeitura, deixando de pagar impostos, agora vai ser perdoado.Menos 15 milhões nos cofres da Prefeitura. Bem feito pra quem pagou!
E pra terminar ontem peguei um ônibus, já entrando pela porta da frente e com a nova pintura. Fundamental para o conforto dos passageiros! Pena que o calor era insuportável e desci com dor na bunda, tal o conforto dos bancos.
Ah sim, o Diário esqueceu de lembrar que a falta de professores nas escolas de Santa Maria, tem responsável: A governadora Ieda, que enturmou, fechou escolas, coloca alunos em escolas de latas, arrocha salários e se exibe proclamendo o Déficit Zero.Vou parar, porque teria mais uma porção de barbaridades, que os jornais publicam ou deixam de publicar, que me irritam muito.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Não se assustem, mas é sobre a Morte

Acabei de ler um livro do Saramago sobre a Morte: "As intermitências da Morte". Esse escritor tem um modo estranho de escrever, não usa parágrafos e segue um português, digamos, bem português: formal, gramaticalmente rico. O autor brinca com a morte, fantasia situações, para fazer reflexões sobre a morte, para que se faça reflexões sobre a vida. Ele refere-se à morte, seguindo a crendice popular de que que há um destino predestinado para cada humano. Cria uma personagem feminina (uma velha senhora) dona da morte. Cria uma situação hipotética, que no romance acontece, de ninguém morrer, de pessoas que irão viver eternamente: não haverá mais mortes. E durante 8 meses ninguém morre em um determinado país. Aí ele descreve o caos que isso vai ocasionar. Mas o que me tocou foi a dificuldade das pessoas lidarem com o fato de que terão que cuidar de idosos e doentes. As pessoas usam até a Máfia para se livrarem dessas criaturas "incômodas" e as remetem a outros países em que se continua morrendo.
O romance faz-nos perceber o quanto existem estruturas em função da morte: parece que vive-se em função dela.
A leitura, embora romanceada, me fez refletir que vivemos com medo da morte, da nossa e da dos outros e, por isso, reduzimos nossa potência de viver plenamente.
E quando alguém muito próximo a nós adoece, aí sentimos pânico e a urgência de viver melhor: de curtir os familiares, de cultivar as amizades, de demonstrar amor em nossas atitudes.De amar,com abundância, com generosidade, de perdoar e buscar o perdão, de corrigir injustiças, de aceitar e valorizar a abundência de vida que temos.