segunda-feira, 1 de março de 2010

Não se assustem, mas é sobre a Morte

Acabei de ler um livro do Saramago sobre a Morte: "As intermitências da Morte". Esse escritor tem um modo estranho de escrever, não usa parágrafos e segue um português, digamos, bem português: formal, gramaticalmente rico. O autor brinca com a morte, fantasia situações, para fazer reflexões sobre a morte, para que se faça reflexões sobre a vida. Ele refere-se à morte, seguindo a crendice popular de que que há um destino predestinado para cada humano. Cria uma personagem feminina (uma velha senhora) dona da morte. Cria uma situação hipotética, que no romance acontece, de ninguém morrer, de pessoas que irão viver eternamente: não haverá mais mortes. E durante 8 meses ninguém morre em um determinado país. Aí ele descreve o caos que isso vai ocasionar. Mas o que me tocou foi a dificuldade das pessoas lidarem com o fato de que terão que cuidar de idosos e doentes. As pessoas usam até a Máfia para se livrarem dessas criaturas "incômodas" e as remetem a outros países em que se continua morrendo.
O romance faz-nos perceber o quanto existem estruturas em função da morte: parece que vive-se em função dela.
A leitura, embora romanceada, me fez refletir que vivemos com medo da morte, da nossa e da dos outros e, por isso, reduzimos nossa potência de viver plenamente.
E quando alguém muito próximo a nós adoece, aí sentimos pânico e a urgência de viver melhor: de curtir os familiares, de cultivar as amizades, de demonstrar amor em nossas atitudes.De amar,com abundância, com generosidade, de perdoar e buscar o perdão, de corrigir injustiças, de aceitar e valorizar a abundência de vida que temos.

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