quinta-feira, 4 de março de 2010

8 de março: Dia Internacional da Mulher

Sempre me ocorre questionar, as razões pelas quais temos que ter um dia para nós(só um dia?) e por que os homens não tem o seu dia? ( porque eles acham que tem todos?).

Bem, mas isso não interessa agora. Na verdade, durante décadas estive envolvida na comemoração desse dia, que as mulheres transformaram, quase sempre, num dia para dar visibilidade às lutas sociais, não só as essencialmente feministas.
Testemunhei muitas denúncias e depoimentos de opressão e de violência contra as mulheres. E não faz muitos anos (eu me lembro, e olhe que não sou tão idosa assim), as mulheres eram proibidas e barradas pela Lei e pelas práticas culturais, de terem acesso igualitário, em relação ao trabalho e à cidadania, de modo geral. Era grande o número de mulheres sem documentos, sem conta bancária, sem renda, sem acesso à saúde, à previdência, à educação, ao sindicato, ao partido,a serem chefes de família, a terem título de propriedade de terra nos assentamentos, etc.

Hoje é difícil encontrar alguém, que não reconheça as conquistas, frutos de lutas, durante séculos. Não foram presentes ou concessões. Participei ativamente de muitas delas, como, por exemplo, da aposentadoria da trabalhadora rural. Quantas vezes acampamos, fomos a Brasília, pegamos milhares de assinaturas... Conquistamos esta e muitas outras, que todos conhecemos.

As lutas não se extinguiram, porque ainda não estão superadas as discriminações e a violência contra as mulheres. Todas as semanas vemos nos jornais, notícias de agressões, estupros, abuso sexual, assassinatos de mulheres, porque, infelizmente,ainda vai demorar, para que se supere a cultura da propriedade e a idéia de direito de vida e de morte, sobre as mulheres e as meninas.

No entanto, hoje, pode-se dizer, vivemos o pós-feminismo, o que significa reconhecermos o êxito do feminismo, mas olharmos em direção ao presente e não ao passado. Ao dizer "SOU MULHER" significa reconhecer a conquista de minha subjetividade, livre, responsável, não mais carregada de significado vindo de fora, imposto e controlado.
Ao refletirmos sobre igualdade e diferença em relação ao homem,assumimos nosso direito de ser mulher e, principalmente, de dar a essa condição, o conteúdo que escolhermos, livremente, a partir de nossa capacidade de nos definir, de nos valorizar, em relação a nós mesmas.
Parece, que nós mulheres, cada vez menos, nos definimos em relação aos homens. E isso é bom e saudável. Nossa transformação não se opõem aos homens, mas concretizamos o desejo de afetar e de sermos afetadas por eles.

Entretanto, o inimigo principal continua sendo o ESSENCIALISMO, a ontologização sobre a natureza própria da mulher e do homem. Determinista, dualista: ou é isso ou é aquilo: ou é hetero ou é homossexual, por exemplo. Por que não os dois? É uma possibilidade, sem dúvida, assumida por muitas mulheres e homens e legítima. O determinismo essencialista, que defende uma essencial diferença entre a psicologia masculina e a feminina, não se sustenta mais, embora exista por aí,causando muito sofrimento, mas implodindo a cada dia. Hoje, é possível implodir todas as imagens de mulher e do homem. A construção de si é construção também de uma sexualidade, a partir da experiência do corpo, enquanto singularidades,capazes de construir nossas subjetividades, de nos tornarmos cada vez mais humanos.
Somos abertos:sujeitos a construir. Não às determinações externas, não ao UNO. Sim à diversidade, ao múltiplo.
O que importa, na verdade, não é definir nossa diferença em relação aos homens, mas entender que somos uma multiplicidade de corpos, de singularidades, de pessoas com capacidade de se construirem e de se individuarem. Mas precisamos continuar atentas, cada vez mais livres e felizes.

2 comentários:

  1. É, mãe, infelizmente ainda nos sobra a rotulação ao nos permitirmos viver nossa sexualidade com liberdade e autonomia. Ao mesmo tempo, os jovens tem se tornado cada vez mais conservadores nos últimos anos, com valores extremamente moralistas e preconceituosos, apesar de muitos se permitirem viver sua sexualidade.Hoje, o se sentir mulher,se sentir afetada e afetar,como tu colocas, parece simples, mas às vezes parece que nos é colocado barreiras intransponíveis.Acho que tudo ainda um resultado de sentimentos de culpa que a religião católica nos transmitiu. Gostei do teu texto!

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  2. Bom o teu comentário e verdadeiro também;. É claro que meu texto fala de algo tendencial, de modo geral, sem que tenha deixado de existir a opressão. Por isso é que temos que continuar na luta. Que bom que comentastes. mandei um resumo para o Diário. Beijos

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