
Revelar, através da Comissão da Verdade, punir, perdoar ou indenizar. Esses são os verbos utilizados quando se lê ou se ouve comentários sobre os crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos ocorridos no período da ditadura civil-militar, instalada, no Brasil, a partir de 1964 e que perdurou 30 anos.
Falo em CIVIL-MILITAR porque, se bem me lembro, o golpe militar de 31 de março de 1964, foi precedido de uma fanática propaganda contra o comunismo, contra a Reforma Agrária, na defesa intransigente, da propriedade privada, mesmo quando ela tenha sido fruto de saques de terras griladas e roubadas de índios e posseiros, num verdadeiro rio de sangue.
Lembro, também, que um setor da Igreja saía às ruas e subia nos púlpitos, rezando, pregando e amedrontando as familias em relação aos "perigos" do comunismo. Ainda me lembro da sensação de medo e desconforto emocional quando alguém mencionava a palavra fatídica. Sou capaz de sentir a repreensão dos olhares, o medo.
Saia às ruas, também, a TFP (Tradição, Familia e Propriedade), contra qualquer medida do Estado, que concedesse benefícios sociais à população, que propusesse medidas de distribuição da terra e da renda.
Foram responsáveis, também, pelo clima de aceitação do golpe militar, a Grande Imprensa, que era contra reformas sociais e vociferava contra o comunismo e taxava de governo comunista o gov. de João Goulart. Lembro, também, que empresários, mais tarde contribuíram, inclusive financeiramente, com a operação Bandeirantes, responsável por mortes e desaparecimentos de lutadores contra a ditadura.
Manipulado ou não, doutrinado ou oportunista, um grande setor da sociedade, foi conivente.
PUNIR?
É por por tudo isso que, talvez, seja preciso refletir quando se fala em punir. Afinal, punir quem exatamente, para que se faça justiça? Quem dava as ordens? Quem alimentava o apoio e a impunidade? De onde vinha a autoridade? Quantos precisariam ser responsabilizados e punidos? Que forma de punição, atribuir, por exemplo, aos meios de comunicação, que ajudaram a alimentar, a ideologizar as ações do governo militar e das forças de repressão? Censura, silêncio conivente! E hoje são histéricos contra qualquer medida de controle social sobre a imprensa. Hipócritas!
REVELAR
É claro, para mim, que tem que ser arrombada a porta dos cofres que guardam esses segredos. Temos, todos, o direito de saber TUDO o que ainda for possível apurar. Que se divulgue, que sejam feitas manifestações de repúdio, que se dê nome aos bois, a todos, que colaboraram com aqueles eventos tão deploráveis, que sirvam de motivo de reflexão, de repúdio, de revisão jurídica e institucional, para que nunca mais se repitam.
INDENIZAR?
É outra questão complicada. Indenizar quem? Como avaliar, monetariamente, sofrimento, perda de vidas?
Quem precisa ser ressarcido? O que ressarcir?Não foi uma geração inteira silenciada, sonegada da liberdade, da palavra, da livre manifestação? Como indenizar o medo, o silêncio, as possibilidades negadas? A voz reprimida? O talento esmagado?Os currículos deformados, dentro das escolas?
Claro, não se pode negar que alguns foram mais brutalmente atingidos, de forma irrecuperável. Pode-se recuperar a vida? Há como pagar por ela?Em que casos deve-se indenizar?
Tenho certeza de duas coisas:
Primeiro: deve haver radical apuração e revelação de TUDO o que ainda não sabemos.
Segundo: Todas as medidas tomadas não devem ser pautadas pelo ódio e pelo ressentimento. É preciso olhares e atitudes generosos e propositivos, no sentido de fazer crescer a humanização, a fraternidade e a paz.
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