sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

REVELAR, PUNIR, PERDOAR OU INDENIZAR?


Revelar, através da Comissão da Verdade, punir, perdoar ou indenizar. Esses são os verbos utilizados quando se lê ou se ouve comentários sobre os crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos ocorridos no período da ditadura civil-militar, instalada, no Brasil, a partir de 1964 e que perdurou 30 anos.

Falo em CIVIL-MILITAR porque, se bem me lembro, o golpe militar de 31 de março de 1964, foi precedido de uma fanática propaganda contra o comunismo, contra a Reforma Agrária, na defesa intransigente, da propriedade privada, mesmo quando ela tenha sido fruto de saques de terras griladas e roubadas de índios e posseiros, num verdadeiro rio de sangue.
Lembro, também, que um setor da Igreja saía às ruas e subia nos púlpitos, rezando, pregando e amedrontando as familias em relação aos "perigos" do comunismo. Ainda me lembro da sensação de medo e desconforto emocional quando alguém mencionava a palavra fatídica. Sou capaz de sentir a repreensão dos olhares, o medo.

Saia às ruas, também, a TFP (Tradição, Familia e Propriedade), contra qualquer medida do Estado, que concedesse benefícios sociais à população, que propusesse medidas de distribuição da terra e da renda.
Foram responsáveis, também, pelo clima de aceitação do golpe militar, a Grande Imprensa, que era contra reformas sociais e vociferava contra o comunismo e taxava de governo comunista o gov. de João Goulart. Lembro, também, que empresários, mais tarde contribuíram, inclusive financeiramente, com a operação Bandeirantes, responsável por mortes e desaparecimentos de lutadores contra a ditadura.
Manipulado ou não, doutrinado ou oportunista, um grande setor da sociedade, foi conivente.

PUNIR?

É por por tudo isso que, talvez, seja preciso refletir quando se fala em punir. Afinal, punir quem exatamente, para que se faça justiça? Quem dava as ordens? Quem alimentava o apoio e a impunidade? De onde vinha a autoridade? Quantos precisariam ser responsabilizados e punidos? Que forma de punição, atribuir, por exemplo, aos meios de comunicação, que ajudaram a alimentar, a ideologizar as ações do governo militar e das forças de repressão? Censura, silêncio conivente! E hoje são histéricos contra qualquer medida de controle social sobre a imprensa. Hipócritas!

REVELAR

É claro, para mim, que tem que ser arrombada a porta dos cofres que guardam esses segredos. Temos, todos, o direito de saber TUDO o que ainda for possível apurar. Que se divulgue, que sejam feitas manifestações de repúdio, que se dê nome aos bois, a todos, que colaboraram com aqueles eventos tão deploráveis, que sirvam de motivo de reflexão, de repúdio, de revisão jurídica e institucional, para que nunca mais se repitam.

INDENIZAR?
É outra questão complicada. Indenizar quem? Como avaliar, monetariamente, sofrimento, perda de vidas?
Quem precisa ser ressarcido? O que ressarcir?Não foi uma geração inteira silenciada, sonegada da liberdade, da palavra, da livre manifestação? Como indenizar o medo, o silêncio, as possibilidades negadas? A voz reprimida? O talento esmagado?Os currículos deformados, dentro das escolas?
Claro, não se pode negar que alguns foram mais brutalmente atingidos, de forma irrecuperável. Pode-se recuperar a vida? Há como pagar por ela?Em que casos deve-se indenizar?

Tenho certeza de duas coisas:
Primeiro: deve haver radical apuração e revelação de TUDO o que ainda não sabemos.
Segundo: Todas as medidas tomadas não devem ser pautadas pelo ódio e pelo ressentimento. É preciso olhares e atitudes generosos e propositivos, no sentido de fazer crescer a humanização, a fraternidade e a paz.

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