quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PONTO DE CULTURA


Sábado, dia 6, estive em Caçapava do Sul-RS, num encontro de professores.
Fazia parte da programação do encontro um "relato de experiência". O referido relato foi uma agradável surpresa. Lá, na periferia de Caçapava do Sul está operando, a todo vapor, um Ponto de Cultura.

Caçapava tem, pelo menos, dois CTGs (Centro de Tradições Gaúchas). Um deles, fundado e freqüentado praticamente por uma comunidade negra: CTG Clareira da Mata. Aí está funcionando um Ponto de Cultura, aliás, transformou-se nisso.

A partir do desejo de mães, que reclamavam ser o CTG um lugar em que só os homens tinham atividades ( jogo de bochas e de cartas), algumas pessoas passaram a pensar em movimentar o CTG, ampliando-lhe as possibilidades. As mães falavam em atividades para toda a família e, de preferência, que a família pudesse compartilhar.
Foi aí que duas professoras negras (que segundo dizem não são do Movimento Negro mas são Negras em Movimento)ouviram falar nos Pontos de Cultura do MINC. Informaram-se, fizeram Projeto para o Ministério da Cultura, foi aprovado, vieram os recursos.

As professoras, que haviam feito pesquisa na comunidade sobre os desejos e necessidades, buscaram parcerias e iniciaram o trabalho. Inicialmente com danças gaúchas com jovens e crianças e Coral para as mães. Depois, sempre a partir da demanda, foram melhorando as atividades e ampliando: Biblioteca - ponto de Leitura - ; Encontro de Raízes Gaúchas; Artesanato - em couro, tecido, palha e madeira, inclusive redescobrindo o artesanato em couro crú, já conhecido por antigos moradores, denominado de Guasqueiro, muito procurado e aceito, inclusive pelos jovens.

Ampliaram para culinária gaúcha (Receitas no Ponto) e o mais procurado pelos jovens: comunicador de rádio. Nesse último, eles se preparam para produzir programas de rádio e encenar lendas da região, estilo das antigas novelas de rádio. Fora isso tem ainda música, teatro e outras atividades pontuais. Algumas oficinas os alunos só podem participar se apresentarem boas notas e freqüencia na escola. Questionável isso, mas eles acham válido.

Não é preciso nem dizer que algumas pessoas já produzem renda, a partir da ampliação da culinária e artesanato. Claro que junto vem aquele discurso de "retirar os jovens das ruas, dos perigos, do crack", etc. Falo discurso porque não sei se isso é, realmente, uma realidade da comunidade em questão.
Segundo as professoras, existem ainda muitas outras demandas da comunidade, mas não conseguem dar conta. São infinitas possibilidades! Nos encantou o entusiasmo!

Tomara que o próximo governo acerte na escolha do ministro ou ministra da Cultura e que se aperfeiçoe, ainda mais, esse processo de democratização dos recursos, para possibilitar muitas outras atividades populares de cultura.

Ao final do relato fiquei me perguntando: Por que só fora dos espaços institucionais da escola, é possível realizar atividades de interesse, livres de notas, de hierarquias, de conteúdos homogênesos, da fragmentação dos tempos? Por que as atividades que dão prazer, quase nunca, são possíveis na escola? Quantos Projetos e "experiências pedagógicas" são realizadas fora da escola ou no turno inverso ao das aulas? Já ouvi muitos relatos! É como se paralelo à escola as comunidades estivessem inventando outras formas prazerosas e criativas de realizar educação. Quando vamos ter coragem de "explodir ou implodir" a escola tradicional e transformar num espaço em que as gentes gostam de estar?

2 comentários:

  1. Pensando no teu belo relato, penso que a missão que a sociedade estipulou para a escola e ainda determina, é para fragmentar ,esquartejar a vida, os tempos e os espaços tornar tudo separado desligado. São trezentos anos da criação da escola moderna, que serviu por muito tempo mas chega se arrastando até nós, e ainda serve para um modelo de sociedade que ainda tem muita força.O espaço e os tempos escolares com as pessoas que as frequentam constituem uma esfera, uma bolha esteril e esterelizaqnte, um vácuo que não tem vida. Um professor(a) dentro de um ponto de cultura é capaz de não perceber aprendizagem neste espaço, e que tudo o que vê não tem a importãnsia da escola, que a escola é que ensina coisas importantes para a vida.Já esta aí o tempo em que os próprios jovens e crianças esplodiraõ a escola e correrão para as ruas , as praças, os pontos de cultura, os circuitos fora do eixo, para fazer artes teatro, o escambal, inventar novos mundos e novas relações...te asseguro.

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  2. Bom teu comentário. Esse tempo chegou e as manifestações de mal-estar aparecem com abundância, mas o sistema insiste em não ver.

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