sábado, 7 de abril de 2018

A prisão de Lula

    Hoje, 8 de abril, Lula se entregou à Polícia Federal.  Preso após  um processo capenga, recordista em celeridade e com provas muito frágeis e muito questionáveis. Lula percorreu o país em caravanas, olhando nos olhos do povo e reafirmando sua inocência. Foi acolhido por multidões que receberam o afeto sincero de Lula, sempre carinhoso com todos e muito carismático, principalmente com os mais pobres.

 O PT e os movimentos sociais representantes dos trabalhadores, das mulheres, dos sem-terra, da comunidade LGBT, dos negros, dos quilombolas, acreditam na inocência do Lula e reconhecem o quanto tiveram, pela primeira vez na história dos governos do Brasil, atenção especial dos governos Lula e Dilma e por isso multidões o acolheram nas caravanas.

Abraçaram a ideia de eleger Lula, que lidera as pesquisas de intenções de voto, e "salvar"  o Brasil do processo de entrega do país aos Mercados em busca de Lucros e da retirada de direitos e conquistas sociais, com as reformas de "saneamento" fiscal.

O PT e os partidos e movimentos apoiadores de Lula, assumiram que a condenação política de Lula foi, além de injusta, parte do golpe que retirou Dilma da Presidência da República.

A possibilidade de Lula ser candidato e se eleger, acirrou  a raiva das elites, temerosas de interromper as façanhas do governo golpista. Era preciso condenar e prender Lula para segurar a grande força de mobilização da liderança de Lula: desmoralizar e calar Lula, seu seguidores e qualquer proposta de interrupção das "reformas" do novo neoliberalismo, que estamos sentindo e acompanhando.

Como estou sentindo isso tudo? Apesar de minhas avaliações críticas em relação aos rumos do PT e do último governo Dilma, faço parte dessa história. Já era militante antes do PT, no seu nascimento e durante toda a maior parte de minha vida.
Dói muito, sinto uma grande tristeza.É como se uma parte de minha vida fosse também encarcerada. Dói pelo que Lula representa, pelo que ajudamos a construir, pelo que não conseguimos evitar e pelos equívocos, em nome da governabilidade.
Dói porque eu pessoalmente entendo que o PT vinha cometendo equívocos nos últimos anos.  Dói porque não consegui me convencer  da absoluta retidão do PT e do Lula, quando tínhamos como uma de nossas bandeiras a transparência e o respeito pela coisa pública. Não acredito nas razões que condenaram Lula.

Para mim a culpa dos governos do PT e suas alianças para governar, a nível nacional, não foi por aceitar alguns favores (embora não devesse) mas esteve em negligenciar, se omitir, talvez, em relação a práticas daqueles que eram governos muito antes do PT se constituir e pior, insistir nas alianças e assimilar práticas e modos de governar que não eram do programa original do PT.
Modo de governar da quadrilha que hoje governa o país (Temer e seus comparsas).

Opção que desconstituiu o Movimento de 2013, que lutava por novos rumos  para melhorar o transporte, a saúde e a educação. O PT não conseguiu decifrar os enigmas que se apresentavam e preferiu optar por desqualificar aquele movimento que acabou por ser capturado pelas elites.

Optou por não radicalizar a democracia e as reformas de base, no sentido de empoderamento das potências de base produtivas, de baixo para cima, na grande diversidade natural, cultural e social existente no país, o que Lula fez principalmente no seu primeiro mandato.

Abandonou, portanto, seu projeto e sua base de sustentação originária, fragilizou a participação dos movimentos e das ruas e governou a partir das cúpulas que se distanciaram de suas bases.
Por fim, na crise, não fez uma sincera e ampla autocrítica e muito menos debateu com as bases e apresentou à sociedade, programa alternativo ao que os golpistas estão implementando, para tirar o país da crise.

O que fez o PT? Optou por recorrer a Lula e saiu às ruas com o slogan "pelo direito de Lula ser candidato e na defesa da democracia". Personalizou a luta num salvador: Lula. Jogou Lula contra a fúria de uma elite violenta, preconceituosa, que odeia pobre, racista, escravagista e que nunca aceitou as modestas mas importantes conquistas dos mais pobres, que Lula representa.

Dói, sim, a possível injustiça feita contra Lula, mas dói muito mais a ausência de debate e construção de alternativas populares que sejam construídas com a população.
Dói ver um líder de dimensões mundiais como Lula, de representação dos povos empobrecidos, de representação das lutas sociais e das conquistas sociais, achincalhado, condenado como criminoso, levando consigo a desmoralização de todos que durante décadas lutaram por justiça, igualdade e liberdade.Estamos fragilizados. Parece que escapa de nossas mãos a força para dar continuidade à luta, tão necessária para acabar com a barbárie da violência, da fome, da pobreza, do atraso, das perda de garantias de vida digna para as multidões, que o atual governo tenta implementar.

Sinto-me estonteada. Com quase 70 anos, vejo desmoronar muitos sonhos, muitas conquistas sociais, humanas, éticas, que construímos durante nossas vidas, fruto de nossas opções, para as quais dedicamos nosso tempo e o melhor de nossas vidas.
Certamente não teremos tempo de vida para ver como reconstruir e recomeçar novas lutas, com novos sujeitos e com novas formas de viver, de agregar e de resistir.
O PT não me parece disposto a mudar algumas práticas nefastas que vinha praticando. Me refiro à grande parte das cúpulas dirigentes.
 Sinto minha parte de culpa e talvez eu não esteja conseguindo ver claramente o que está acontecendo e por isso não consigo me motivar para alguns chamamentos do partido.

Choro o luto, as perdas, que são de grande dimensão e que temos imensa responsabilidade.
Penso em como e porque fazer campanha eleitoral, embora reconheça ótimas pessoas que valem a pena serem eleitas.
Mas não acredito mais nesse modelo de democracia. Que democracia é essa? A democracia das oligarquias, das corporações, da propriedade Privada, das intervenções, das arbitrariedades, dos fisiologismos, da delegação de nossa potência humana.
A democracia do poder sobre nossas vidas.

Estou extenuada, mas a dor me deixa evidente que ainda arde uma chama que insiste em não se apagar. Quero ir à luta, mas como? Como fazer a luta?
Choro e tenho um grito engasgado. Vejo o ódio manifestado em diversas  vozes e me dói constatar a intolerância, o racismo, o preconceito que se escancara e é isso mesmo:" fala para que te conheça".
É preciso escuta, tentar entender o silêncio de milhões de pessoas que foram beneficiadas com os governos populares de Dilma e Lula e que estão estupefatos diante do que a mídia fala, bombardeando os corações das multidões do Brasil profundo.

Não será fácil mas tenho certeza de que vamos encontrar os caminhos.



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