Fui
contadora e professora de economia, mas dou início a este balanço como cidadã
comum, mulher, mãe, avó, assalariada e dona de casa.
Derrubaram
a Presidente Dilma por causa das “pedaladas”, desculpa ridícula e mentirosa. O
povo foi instigado a ir às ruas por causa do descontrole das contas públicas,
porque estava incomodado com os aumentos dos combustíveis, da luz, do gás, porque
algumas medidas haviam cortado gastos públicos e porque ela fez algumas
alterações na legislação da seguridade social, na previdência e...? Por que
mais?
Também
diziam que a inflação estava subindo, a recessão aumentando, o crescimento
econômico muito baixo, o desemprego crescendo e que eram necessárias medidas
duras de ajuste fiscal e uma efetiva reforma trabalhista para atrair
investidores e ofertar mais empregos.
Hoje é possível analisar como estamos vivendo nos governos do MDB. Meu salário não teve reajuste, recebo parcelado, tenho que controlar muito onde e em que gastar porque empobreci: os combustíveis, o gás, a luz, a água, os medicamentos, os alimentos, as roupas, tudo está mais caro, apesar de dizerem que a inflação baixou. Sim, inflação baixa com preços altos. Por quê? Porque estamos vivendo uma brutal recessão. Não se pode gastar.
Hoje é possível analisar como estamos vivendo nos governos do MDB. Meu salário não teve reajuste, recebo parcelado, tenho que controlar muito onde e em que gastar porque empobreci: os combustíveis, o gás, a luz, a água, os medicamentos, os alimentos, as roupas, tudo está mais caro, apesar de dizerem que a inflação baixou. Sim, inflação baixa com preços altos. Por quê? Porque estamos vivendo uma brutal recessão. Não se pode gastar.
Mas eu ainda tenho a garantia do
salário mensal. Muitos perderam os empregos, muitos desistiram de procurar.
Eu
me pergunto: quais foram as medidas saneadoras do governo golpista? Das leituras
da Carta Capital, do Le Monde Brasil, e das notícias oficiais, mesmo como
cidadã comum, algumas a gente já pode apontar e analisar.
Dá
para afirmar que as medidas saneadoras não sanearam nada e não trouxeram nada
de bom para a população. Funcionaram ao contrário. A aprovação da Emenda Constitucional(EC) 95 (Teto de Gastos) fez e continuará fazendo por 20 anos, cortes
orçamentários em políticas públicas essenciais, que são básicas para a proteção
social, ou seja, impactam os salários indiretos e acontecem sobre o lado mais
fraco da população (saúde, educação, seguridade social, habitação popular,
saneamento, transporte, etc.). O governo não cortou nas despesas financeiras
que em 2018 têm dotação de 53% do orçamento de União (o lado mais forte). Qual
o resultado disso? Aumento do desemprego, fechamento de postos de trabalho (apesar
da reforma trabalhista), queda no salário mínimo e, de modo geral, ampliaram-se
as desigualdades.
O pequeno crescimento
no PIB não tem refletido no aumento de oportunidades de empregos, talvez porque
o crescimento tenha ocorrido no setor agroexportador, extremamente mecanizado
que não aumenta a oferta de empregos, até desemprega na medida em que avança em
tecnologias, seguindo uma tendência mundial em relação às modificações nas
formas de trabalho contemporâneo.
Outros cortes foram no combate à
violência de gênero. O Programa de acolhimento às mulheres vítimas de violência,
que previa a construção das Casas da Mulher, parou e algumas foram fechadas por
falta de recursos.
Institutos de Pesquisas como o INESC
(Instituto de Estudos Socioeconômicos) calcula que a EC 95 que corta gastos
primários, gastos em programas sociais, responsáveis pela proteção social ao
cidadão, cairá de 20% do PIB para 12%. Isso significa aumento significativo da
pobreza extrema. O governo não considerou alternativas como o combate à evasão
fiscal que deixará de arrecadar 160,4 bilhões de dólares (quatro vezes o
déficit federal de 2016), não revisou os incentivos fiscais, muitos sem comprovarem
os efeitos positivos para o país e que giram em torno de 250 bilhões de reais
anuais (5% do PIB). Sem falar na reforma fiscal, que deveria tributar lucros e
dividendos e não o faz.
Ademais, outras perguntas se fazem
necessárias:
Por
que dolarizar os preços dos combustíveis? Com a descoberta do Pré-Sal, e
considerando a comprovada capacidade técnica da Petrobrás de realizar
prospecção e refino, pois temos capacidade de refinar 90% dos combustíveis e
gás que precisamos (segundo informações dos petroleiros), por que pagamos tão
caro pelos combustíveis?
A Petrobrás tem como
objetivo em seu regimento atender às necessidades de abastecimento em
combustíveis do povo brasileiro, sem deixar de realizar bons negócios. No
entanto, as notícias que temos é que estamos importando os produtos refinados de
fora do país enquanto temos 70% de nossas refinarias ociosas. É preciso isso? A
quem interessa a dolarização dos preços dos combustíveis?
De modo geral todas as medidas do atual
governo pesam sobre os ombros da população. Inclusive as medidas de combate à violência.
Estão morrendo mulheres, jovens e crianças, numa guerra sem fim. Na verdade, as forças de segurança lá estão
para proteger as propriedades, sem preocupação com as vidas que quase
diariamente são ceifadas.
Nosso povo é inteligente e
trabalhador, mas precisa de moradia, alimentação, transporte barato,
comunicação, educação de qualidade, saúde...para ser produtivo. Sem
acessibilidade ninguém é produtivo. Sair
da crise é aumentar a produtividade da população, garantindo-lhe condições para
a vida e para o trabalho.
Mas
o golpe não foi feito para contemplar a maioria da população. O golpe não teve
apenas um caráter econômico, teve inspiração racista, fascista, de
intolerância. Instigou o ódio, adubou o machismo, a homofobia, a rejeição ao
negro, ao índio, às mulheres, principalmente as mulheres negras. Entre outras
formas de discriminação.
O mesmo Congresso golpista aprova
leis terríveis que atacam a vida. Refiro-me à liberação de venenos na
agricultura, não mais tolerados no resto do mundo. O Brasil vai se afirmando
como o país paraíso dos lucros, sem barreiras à expansão do Capital que ataca a
saúde e a vida de forma geral.
As medidas de ajuste fiscal são
certamente recessivas, antidemocráticas e aprofundam cada vez mais a pobreza e
a dependência. A água, a energia, as sementes, o conhecimento, o solo, são
fundamentais para a manutenção da vida e da soberania e não podem servir aos
propósitos dos lucros e da acumulação.
Um governo popular tem que garantir
as medidas de proteção à vida (alimentos, saúde, cuidado com os alimentos, com
a defesa do meio ambiente).
Tem
também que preservar da ganância do Mercado e do lucro aquilo que deve ser
comum da humanidade: a energia, as águas, as sementes, os solos urbanos e
rurais, os conhecimentos, o saneamento, etc.. As pessoas precisam morar,
transitar, estudar, cuidar da saúde, ter segurança alimentar, livre dos
venenos.
O
processo eleitoral não dará conta dessa complexidade de problemas, só a luta
popular e a resistência solidária poderão construir emancipação. Para sair do
cansaço e desânimo temos que começar a investir emocionalmente nos outros, na
amizade, na solidariedade, no amor.
“Se
não formos capazes de sentir empatia, o futuro não existe. São os outros que
nos validam que nos conferem humanidade” (BIFO).
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