segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pobre Líbia!

Temos ouvido falar da Líbia. Primeiro sobre a reação da população contrária à ditadura de Muammar Gaddafi, aproveitando a onda de movimentos na região contra as ditaduras, principalmente o bem sucedido movimento que derrubou o ditador egípcio.

Muito embora tenhamos que reconhecer que a ditadura significa alguém arrogar-se o direito de deter todo o poder, sem se submeter à vontade popular pelo voto, tem muita coisa assustadora nessa guerra e na intervenção da OTAN. Como no nosso conceito de democracia a ditadura é inconcebível, nem nos perguntamos muito sobre como vive o povo Líbio e tendemos a apoiar as forças de oposição a Gaddafi.

Depois soubemos que as forças da OTAN/EUA, Inglaterra e França, apoiados pela ONU invadem a Líbia, matam soldados e civis e sem preocupação de apresentar nenhum acordo de paz. Aí a gente começa a fazer perguntas.

Primeira pergunta: Os rebeldes líbios não teriam oportunizado um excelente pretexto para justificar uma invasão armada, pelo Ocidente, na Líbia?

Segunda pergunta: Que interesses EUA, França, Inglaterra, Itália, teriam nessa invasão?

Terceira pergunta: A guerra na Líbia tem alguma coisa a ver com a crise econômica do Ocidente (EUA e Europa)?

Na verdade os EUA e seus aliados costumam invadir e provocar guerras, fora de seus territórios, para resolver os seus problemas. É um negócio que gera muito lucro para a indústria bélica, na reconstrução dos países arrasados e no domínio sobre a exploração do petróleo e seus derivados.

Para legitimar as invasões é sempre pertinente algum pretexto: armas de destruição em massa, que Sadan teria no Iraque, caça ao Bin Ladem no Afganistão, defesa da democracia, etc. Hoje sabemos da farsa desses argumentos. O resultado disso? Bem, no Iraque sabe-se que tudo piorou para aquele povo, mesmo após os enormes sacrifícios: milhares de mortos, destruição de de moradias e prédios, milhares de refugiados de guerra, contaminação ambiental, doenças degenerativas, entre outras.

Sabe-se que Gaddafi não se submetia servilmente ao Ocidente, não quis fazer parte do Diálogo Meditarrâneo, junto com países como a Jordânia, Israel e outros, que, na verdade, formam uma aliança para explorar a África, proteger Israel. Isso significa também que grande parte de recursos de petróleo e gás ficam fora dos planejamentos de exploração ocidentais.

Gaddafi recusou-se a privatizar seus poços de petróleo. Os países da OTAN temem também que a abertura a empresas estrangeiras, proporcionada por Gaddafi, possibilite a entrada da China nos negócios da Líbia, o que ameaçaria a segurança dos interesses econômicos do Ocidente e isso apesar de ser uma economia majoritariamente estatal.
E mais, Gaddafi ousou ter autonomia financeira, não tomou empréstimos e não se submeteu ao FMI, o povo tem índices de qualidade e expectativas de vida altos, equivalentes aso chamado primeiro mundo, apoiou o Fundo Monetário Africano, tem altos investimentos na África, retirando dinheiro dos bancos americanos e aplicando-os em investimentos naquele continente.Tudo isso é muito difícil de ser digerido pelos EUA e seus aliados.

A Líbia derrotada será submetida à pobreza e humilhação. Vai ter que privatizar seus recursos naturais, abrir sua política econômica e fiscal, indenizar os prejuízos de guerra (a altíssimos preços) e pagar caro a reconstrução, desempregar milhares, inclusive de africanos.
Os prejuízos já se apresentam: existem cerca de 200 mil cidadãos do Niger, que trabalhavam na Líbia, desempregados.
Serão milhões de desempregados em toda região e de refugiados a espalharem-se pelo continente e fora dele.

Há um plano de ação proposto pela União Africana para o imediato cessar-fogo, que os rebeldes e a OTAN recusaram-se a examinar, porque não há interesse sincero na paz.

O plano propõe: Imediato cessar-fogo, intervenção humanitária por força externa ao conflito, governo de transição constituído de representantes dos dois lados em luta, cronograma para que formem partidos políticos, eleições, processo legal para investigar, identificar e punir os crimes de guerra.

Por que não se fala e se investe nesse plano? Porque a guerra é plano para extorção e dominação do povo Líbio, para dobrá-lo, faze-lo privatizar o petróleo e submeter todo o país ao sacrifício. É triste a indiferança do mundo.Cadê os Direitos Humanos? Os pacifistas e religiosos, tão militantes quando se trata de questões moralistas? É assustador que ninguém tenha considerado crime de guerra o que foi feito com o Iraque e Afganistão e o que continua acontecendo com os Palestinos. Quem será responsabilizado por tantas mortes e destruição?

Hoje é uma noite muito fria e fico pensando o que um dia foi um slogan:" o frio gela, a indiferença mata".

5 comentários:

  1. Parabéns Tereza!! Tenho pensado sobre essa questão e como é repassada pela mídia!!! E dizer que temos liberdade de imprensa! Liberdade de ser tendenciosa, lá isso , temos.
    Ninguém fala sobre esse horror que os países ricos continuam fazendo!Mas o comando do pensamento da maioria é feito pela imprensa que aí está. "Essa é a verdade!!!!" Como fazer para mudar isso? Até já imagino a resposta da maioria: através da educação. Mas quem educa pensa ou fala sobre isso? Quantos professores seguem teu blog? Ou qualquer outro, que questione e faça pensar.
    Me perdoa, hoje estou um tanto pessimista com a categoria. Aliás, há bastante tempo!!

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  2. Postei como anônimo porque não consigo postar de outra forma, não sei 9o que faço de errado!!!

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  3. Oi anônimo, que bom ler teu comentário, já vale a pena ter me esforçado. Quanto à educação, tenho andado por aí a conversar com professores. Tem muita gente boa, se esforçando, mas nossa estrutura é desanimadora e a instituição escolar, enquanto lugar especial, é reprodutora e domesticadora, mesmo. Mas eu não desanimo, faço o pouco que posso.Abraços. Ah, clica em selecionar perfil, escolhe o perfil e põe o teu nome e depois clica em postar comentário.

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  4. Esta é a Teresa Dalmaso que conheci e aprendi a admirar!Grande abraço professora!

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  5. Muito bom o texto. Merece ser divulgado.
    Beijos

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