domingo, 6 de fevereiro de 2011

APOSENTADO TEM FÉRIAS?

Estar aposentado da profissão não significa estar desocupado. As possibilidades se multiplicam e o desafio é conseguir, finalmente, autonomia para gerir o próprio tempo.

Durante décadas não fui dona do meu tempo: crescer, estudar, trabalhar, obedecer os ditames institucionais e submeter meu tempo de vida.
Estar aposentada, para mim, é poder fazer tarefas e projetos que não foi possível realizar antes, pelos compromissos com o trabalho, com a criação e educação dos filhos.

O bom é realizar projetos e tarefas no tempo que decido, mesmo assim tem compromissos com data e prazo determinados pelo Sistema: pagar impostos e taxas, frequentar eventos eticamente obrigatórios, fazer consultas e exames referentes aos cuidados com a saúde, cuidar de idosos e doentes, que acaba sobrando pra gente, etc.

Os lado bom é poder visitar pessoas, receber visitas dos filhos, sobrinhos, irmãos, amigos e acolher bem, curtir sem pressa. Fico feliz quando algum sobrinho (grande ou pequeno) nos visitam!

Mas, aposentado tem férias?
A vida dos aposentados, tem uma relação inevitável com a dos não aposentados. A gente se insere em grupos, participa de eventos, faz visitas, participa de cursos e seminários, etc., que têm, quase todos, os tempos ditados pelo ritmo de atividades e de férias sob os quais a sociedade está organizada.
Ajudar e frequentar festivais de música, ir a teatros, frequentar bar, são atividades que só agora estamos podendo realizar. Quantos prazeres estamos descobrindo!
Novas aprendizagens, fazem parte dessa nova etapa da vida. Novos ambientes, outras pessoas, outras relações.

Um dia destes fomos ao Boteco do Rosário, com a mãe, de 85 anos. Ela gostou, não quis tomar cerveja e nem refri, mas apreciou uma boa caipira. Adoramos! Com exceção da fumaça dos cigarros,que nos fez sair antes, pois era difícil suportar a ardência nos olhos e garganta.
No bar, é bom constatar o prazer de estar juntos, ao redor da mesa, comendo, bebendo e principalmente conversando, trocando informações. As pessoas se curtem, namoram, trocam idéias, se articulam e estão aí pelo prazer do encontro.
Claro que tudo isso é bom se ninguém abusar da bebida. O que vi é que o bar é um local de encontro e que muitos se articulam para irem no mesmo dia, para conversarem. Isso significa que não estão reféns do lixo cultural que as televisões tem apresentado, tipo Big-Brother.

É bom estar em casa, melhor ainda com os filhos chegando, convivendo.
Nestes dias estamos tendo o prazer de ter a presença da Silvana conosco, trabalhando na finalização da Dissertação de Mestrado. Procuro caprichar na alimentação.
Junto com tudo isso, rola leituras, debates familiares, comentários sobre os acontecimentos da realidade.

Ando impressionada com o que está acontecendo no Egito e mundo árabe. Que gente corajosa!
Temo pela população. Se Mubarak não sair e o exército abandonar a praça, os manifestantes terão de voltar para suas casas e aí, muitos serão capturados, torturados e mortos, não há dúvida. O mundo precisa pressionar. A causa é justa, aquele povo, principalmente os jovens, não tem mais saída, com o atual regime, que até agora foi patrocinado pelos Estados Unidos. É hora do Obama, finalmente, ter uma atitude que mostre que ele é diferente do Busch.

Não é possível ficar indiferente ao que está acontecendo, lá e aqui. Todos somos atingidos e todos somos responsáveis.
Gostaria que todos pudessem viver a vida que eu vivo: simples, confortável, amorosa. Não é possível a gente se conformar com a fome, a dor, a violência.

No mais, estamos viajando na madrugada de amanhã, para o Uruguai, num seminário internacional de educadores para planejar mais um ano de luta, no sentido de contribuir com a melhoria e humanização da educação no Brasil e no Continente. Voltaremos dia 14. Até lá.

Um comentário:

  1. Eu diria, que de um certo modo ninguém tem férias no sentido de estar livre do trabalho, inativo, no puro ócio, no "dulce far niente". Devido que no atual novo modo de acumulação do capital, tooa a vida foi posta a produzir. Principalmente naqueles espaços e tempos que eram digamos improdutivos, ou reprodutivos: estar em casa, o lazer, a comunicação a educação dos filhos, preparar alimentos, passear, jogar etc.Todos estes tempos são repletos de custos, se tornam acumulação de valores econômicos no presente ou num futuro próximo para o capital.Não é só no assalariamento que se dá a mais valia,digamos, cada vez menos, e cada vez mais nas máquinas sociais da educação, saúde, previdência, comunicações lazer, entretenimento, cultura etc. Então aposentado não tem férias, estamos sendo sempre produtivos e mais produtivos do que nunca pois estamos nos lugares e tempos que a indústria tem mais retorno. Gastos com viagens, com encontros com lazer, que produzem subjetividades, criações, novidades que o sistema corre atrás para aprisionar. Como sair desta?? aí é que a porca torce o rabo E lá vamos nós pra o Uruguai visitar o Mugica....

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