quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tristeza e perplexidade

Fiquei imensamente triste com as tragédias no Japão, com a gravíssima situação das usinas nucleares de Fukushima, de saber que milhares de corpos se deterioram nas redondezas das usinas sem que possam ser retirados, chorados e sepultados, por causa do altíssimo risco de contaminação fatal. De saber que milhares ainda vão morrer contaminados, afetados por câncer em decorrência da inevitável contaminação.

Fiquei comovida com o necessário heroísmo dos técnicos que trabalham para desativar os reatores, já condenados a morte, já com sinais de enfermidade.
Mas quase tudo por conta da força da natureza, dos terremotos que o Japão tem sempre que enfrentar.
Mas minha tristeza é grande também pelas estúpidas mortes na Líbia e em outras guerras de baixa e de alta intensidade, estas sim, possíveis de ser evitadas. Acontecem pelo fracasso do diálogo. São mortes movidas pela ganância, pelo lucro e pelo poder.

No entanto a tristeza e as lágrimas são inevitáveis diante da estupidez do assassino na escola do Rio de Janeiro. Isso é inexplicável, é loucura pura. Não há explicação! É um tipo de loucura que arrasta consigo além das vidas, de crianças, a maioria meninas e, por si só já é medonho. Mas a tristeza aumenta porque significa um enorme retrocesso, pois vai gerar mais medo, mais grades, mais repressão, menos liberdade, menos confiança no ser humano.

É de uma estupidez tão grande e deixa-nos a pergunta: esse aluno ali esteve, anos a fio, comportado, enquadrado e eu me pergunto: o que faltou no nosso fazer de educadores, que não conseguiu chegar ao coração deste ser humano? Quantos passam por nós e viram assassinos, ou suicidas, como já aconteceu em Restinga Seca, onde fui educadora a maior parte de minha vida.
Fica uma dor imensa e uma enorme frustração enquanto educadora.
Que fazemos por e com essas pessoas? Anos na escola e saem desconhecidas, ficam invisíveis, quietas e loucas no seu canto, no seu silêncio. Silêncio tão apreciado pela maioria dos professores.

Ouvi nos depoimentos sobre esse rapaz: "ele era tão calmo, tão bem comportado".
Prefiro os maus comportados. Esses se revelam.
Coloco-me no lugar dos pais, meu Deus, que dor! Certamente não há consolo, é uma dor para toda a vida. Sinto-me solidária e hoje quero fazer silêncio no meu coração e sintonizar minhas energias na solidariedade a todos os que perderam seus filhos, colegas e amigos.

2 comentários:

  1. Viver neste mundo de tantas tragédias realmente tem sido muito difícil, principalmente, quando nos deparamos com a dura realidade de sabermos que somos professores e educadores que temos muito poder de mudar e dar sentido a muitas vidas e, muitas vezes, por inúmeras razões não o fazemos. Compactuo com tua ideia de preocupar-me com alunos que são muito silenciosos ou dificimente se expressam porque jamais saberemos se não criarmos estes espaços em sala de aula quem são e o que passa pelas suas cabeças. A educação, a escuta e a relação entre os alunos e entre professor e alunos precisa urgentemente ser revista. Nossas crianças, jovens e adolescentes estão vivendo enclausurados em seu mundo e no mundo virtual onde tudo é possível e fácil de acontecer o que lhes dá uma sensação de poder indescritível. em função disso pensam que são tudo e podem tudo, não se relacionam, não respeitam limites dos outros, não respeitam ninguém. Fico me perguntando onde vai acabar tudo isso com tanto desrespeito á vida e à natureza. Fico feliz por estares tão atarefada trabalhando na formação de professores. Eu gosto muito de trabalhar nesta área e, mesmo que pouco se consiga, penso que algumas sementes são lançadas e que de alguma forma conseguimos contribuir para que reflitam sobre práticas petrificadas na escola de reprodução e manutenção do sistema. Aguardo novas postagens. Abraço forte amiga querida. Sou tua Fã. Maribel.

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  2. Maribel querida, te forneci meu telefone, liga uma hora pra me dizer onde moras, como a gente faz para se encontrar. Obrigada por postar comentário. Qualquer hora escrevo mais alguma coisa. Beijo.

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