quarta-feira, 25 de maio de 2011

PROBLEMAS NA EDUCAÇÃO? A GLOBO TEM A SOLUÇÃO

Na maior pantomima a TV Globo, no Jornal Nacional, anunciou que a bordo do avião do JN, o jornalismo global, acompanhado de um "especialista", iria a quatro regiões do Brasil visitar a melhor e a pior escola do Ensino Fundamental, de algum município sorteado no Jornal Nacional, para verificar porque essas escolas seriam as piores ou as melhores.

A escolha da pior ou da melhor seguiu o critério da nota, na avaliação do Ministério da Educação. ( IDEB). O primeiro município sorteado, na região sul, foi Novo Hamburgo.
Duas escolas municipais: uma, a de melhor nota, apresentava um ambiente escolar bem equipado, escola bem cuidada. Os jornalistas mostraram atividades pedagógicas diversificadas, aulas em que cada aluno operava num computador, instalações bem montadas, jogos e atividades lúdicas.
Segundo o especialista em educação, o bom desempenho dessa escola deve-se à participação dos pais e à boa disciplina dos alunos.

O especialista não explicou como é essa participação dos pais e nem o que ele entendia por disciplina, numa escola que tinha condições de oferecer estímulos e desafios interessantes aos alunos e nem fez menção às condições sócio-econômicas dessas famílias e, portanto, desses alunos, como se todos os alunos chegassem à escola com as mesmas condições de aprendizagem e, por outro lado, encontrassem as mesmas condições pedagógicas necessárias à aprendizagem.

A Glogo não entrevistou nenhuma autoridade educacional do município para explicar, por exemplo, porque a escola de melhor desempenho tinha condições tão excelentes para acolher os alunos e a outra, de pior desempenho, tinha instalações tão precárias, chegando a faltar até os vidros de algumas janelas.
A reportagem mencionou o fato de que o salário das professoras entrevistadas era praticamente igual. Por que, então o desempenho era tão diferente? Não estaria justamente nas condições de trabalho (recursos pedagógicos) e instalações adequadas? Ou seria a necessidade de uma proposta pedagógica adequada aos sujeitos concretos que chegam à escola? Essa reflexão não foi feita.

Será que a diferença estava na disciplina e na família, como foi apontado pelo "especialista"? Por que uma escola tinha excelentes condições de funcionamento e a outra, do mesmo município, tinha condições tão precárias? Quem, efetivamente, mantinha e pagava pelos ótimos recursos pedagógicos e administrativos da escola "rica"?

Em nenhum momento houve nenhum tipo de análise sobre a situação familiar e sócio-econômica dos alunos da escola de desemprenho precário: será que os pais desses alunos têm condições de sair de seu trabalho para participar da escola? Que tipo de família têm esses alunos? Em que condições vivem? Tem eles condições de estudarem em casa?
Alguns não são até forçados a terem de ajudar os pais a ganhar a vida?

Nas outras regiões observações simplistas também ocorreram, quando, por exemplo, uma escola interiorana, de instalações muito modestas, apresentou um alto desempenho, o "especialista" concluiu que a palavra chave do sucesso era "comprometimento" dos professores e da direção.
Em todas as regiões visitadas, o "especialista" conclui que três fatores são decisivos para melhorar a educação: DISCIPLINA, COMPROMETIMENTO DOS PROFESSORES e FAMILIA.
Ora, até pode ser importante, mas é muita simplificação.

Em nenhum momento ele levanta a hipótese, mesmo que remota, de que a escola estaria defasada em relação às mudanças que ocorreram no mundo. Mudanças em relação à infância e juventude, às novas tecnologias de informação e comunicação, à situação de precarização dos trabalhadores em educação, entre outras.

O formato da instituição escolar pouco tem se alterado: escola que prioriza a informação (que os alunos tem muito mais acesso que a algumas décadas atrás), uma escola que prima pelo monólogo, pela exigência de silêncio dos alunos, que exige memorização. Coloca os alunos um atrás do outro, numa clara demonstração de uma disposição individualista, quando toda a sociedade caminha para a comunicação grupal, em rede.

Hierarquia, subordinação, disciplina, controle, confinamento, repetição, monólogo unilateral, falta de diálogo. Esse é o formato da maioria das escolas. Esse formato tem se mostrado falido.

A Globo escolhe cada especialista! Poderia ser um pouco mais crítico, entrevistar a comunidade e gente que pensa a educação e que é sujeito do processo. Mas não, eles se acham os especialistas em tudo. Que arrogância! A meu ver foi um desserviço.

3 comentários:

  1. Quando eu conseguir superar o nojo que estou sentindo com tamanho amadorismo desta semana que, infelizmente, tivemos que acompanhar alguém que se diz doutor no assunto referir-se de maneira tão superficial e simplista e retorno para deixar alguns registros. Até, Maribel.

    ResponderExcluir
  2. Oi amiga, por hora entra na rede e curte a Marcha pela Liberdade em São Paulo. Sinais dos tempos! Abraço.

    ResponderExcluir
  3. Olá, gostaria de saber o link do perfil de Maribel Selli, de Porto Alegre. Sou filha de uma ex-colega dela. Obrigada.
    Abraço.

    ResponderExcluir