domingo, 12 de junho de 2011

FORMAÇÃO DE PROFESSORES


Por que a preocupação com a formação de professores?

Certamente é por causa da necessidade de superação de uma perceptível crise e inadequação da escola, percebida nos constantes conflitos e fugas dos sujeitos do ambiente escolar.

Os paradigmas que sustentam e formatam a escola foram estabelecidos para um tipo de produção e de sociedade: a Sociedade Industrial.

Subordinação hierárquica e fragmentação dos conhecimentos foram e são processos para atender à produção em série, à linha de montagem, à Missão Civilizatória – capitalista, ocidental-cristã, eurocêntrica, antropecêntrica, racional , produtivista e cientificista e, é claro, positivista. A lógica era e ainda é: transmitir, submeter, reproduzir, perpetuar, submeter, disciplinar.

Na Sociedade Industrial,o conhecimento, o saber, os gestos humanos, foram cristalizados na máquina e, portanto, reproduzidos na dependência do ser humano à máquina: o trabalho Morto.

Na escola, o saber “acumulado” pela humanidade, transmitido na forma de verdades prontas e pré-estabelecidas, pré-concebidas, também se constituíram e se constituem em conhecimento Morto.

Hoje o processo produtivo modificou-se radicalmente. Hoje a Máquina depende da inteligência e conhecimento humano: é o domínio do trabalho Vivo. Até o Mercado Capitalista reconhece isso e passa a demandar sujeitos inventivos. No entanto, a escola não se transformou e continua com sua formatação e com seus processos de transmissão e assimilação.( não cognitivos, mas recognitivos). No máximo, reconhece a necessidade de maior “criatividade,” e promove treinamentos para isso.

Antes, e ainda hoje, formação de professores significava adotar técnicas e dinâmicas que facilitassem a assimilação, tentando superar o monólogo, melhorar as capacidades de memorização, assimilação e a criatividade, sem abandonar a “Missão Civilizatória” antes mencionada.

A formação de professores transitou por muitos teóricos e linhas psicológicas, entre os teóricos estiveram Piaget, Wallon, Vigostski, entre outros, sem, no entanto, alterar os paradigmas tradicionais da RECOGNIÇÃO (Kastrup, 2007).

Aos que compreendiam a necessidade de uma escola que contribuísse para processos de transformação da sociedade, a formação de professores era concebida a partir de processos que contribuíam para a “conscientização crítica”. Nesse sentido autores como Paulo Freire foram muito importantes.

No entanto, percebe-se que a formação de professores continua no sentido de manter a educação na sua função de assimilação, apesar da falácia da “construção do conhecimento” e de criatividade crítica, buscando galgar níveis cada vez mais altos de escolarização, mas sempre mantendo o processo de Recognição.

Arriscamos afirmar que os velhos paradigmas estão tão sedimentados, ao ponto de formarem uma dura couraça, impedindo o surgimento de novos entendimentos e novas práticas que permitam, de acordo com Kastrup(2007), a manifestação da potência cognitiva e inventiva. A autora considera que o dinamismo principal da cognição é a criação, a invenção, a constituição de problemas, pois a invenção consiste num movimento de problematização das formas cognitivas constituídas.

Acreditamos que é fundamental reinventarmos a vida. Invenção de si e do mundo. Necessitamos de uma educação para a invenção e não para a recognição. No mundo afloraram e afloram múltiplas lutas, em todo mundo, por novos modos de vida e isso requer novos processos em educação.

Rompe-se, cada vez mais, com os modos de vida impostos pela sociedade industrial e aparecem, desde a metade do século XX, novos sujeitos protagonistas e novas subjetividades. São os negros, os índios, as mulheres, os jovens, os gays e lésbicas, os movimentos contra as guerras, os verdes, entre outros, que pressionam e tentam romper com a tradicional subordinação à sociedade fragmentária, hierárquica e disciplinadora. Estes, com as novas tecnologias de Informação e Comunicação, põem a boca no mundo e produzem um grito constante por novos modos de vida: de produzir, distribuir, comunicar, afetar e ser afetado, e, portanto, de novas subjetividades, individuais e sociais.

Frente a toda essa complexidade e hibridização da sociedade atual, há uma urgente demanda por transformações nos processos de aprendizagens, na escola e fora dela.

Frente a isso, na formação de professores, para uma educação inventiva, não bastam os discursos de consciência crítica. Fazem-se necessários processos de sensibilização, de perturbação do senso comum, da objetividade, da racionalidade. Processos de quebra, de rachadura nas práticas e concepções da recognição, da “missão civilizatória” antes referida. Processos de individuação, que ajudem na produção de novas subjetividades, fundamentais para a invenção de si e do mundo.(este texto é fruto de reflexões e leituras em conjunto de Tereza, Irineu e da mestranda em educação Alice Dalmaso).

2 comentários:

  1. Belo texto tereza, irineu e alice. concordo em tudo que falastes. realmente nao precisamos de mais discursos, teses. será que nao existe exemplos palpáveis dessa realidade alternativa? onde está sendo produzido essa realidade de resistencia, que seria tao importante para contaminar mais e mais outras pessoas. vivemos grandes crises e nao só na educaçao, mas em outros setores. para ser verdadeiros, diria que em todos os setores. me pergunto se essa sociedade em conectividade que nos falam é verdadeira. se estamos produzindo um futuro melhor, de respeito, igualdade, liberdade.a democratizaçao da informaçao e da comunicaçao ou é mais uma propaganda de consumo? vejo uma sociedade do medo. homens que tem medo de homens. crianças que tem medo de viver, sofrem de doenças psicologicas. vejo uma sociedade que nao enxerga que estamos cada vez mais distantes de outros seres humanos. leiam os facebooks, os twitters. a carencia que as pessoas tem, fazem das suas vidas um livro aberto. abrem suas vidas a estranhos, na esperança de mostrarem uma vida fantastica, produtiva.vou ao banheiro. vou comer, agora estou indo para o banho. onde estao os bons livros? as boas musicas? a boa e velha cultura se resume a cultura de resistencia. elas existem mas estao cada vez mais resumidas a lugares alternativos. a crise que vivemos é silenciosa..dolorosa, mas sabemos muito bem onde vai acabar. a história já nos mostrou. mas nunca fomos 7 bilhoes de pessoas. necessitando de comida, agua, educaçao, saude, respeito, igualdade, liberdade....e amor!!!

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  2. Tua reflexão é dolorosa e tens muita razão, mas eu sou uma otimista. Vejo reação e resistência, sim e não é protagonizada por líderes partidários ou sindicais. Veja o a resitência dos jovens na Espanha, na Grécia, no Egito. Foram contatos realizados pela rede social. É claro que mudaram os paradigmas e muito do que dizes parece ser verdade, mas as coisas não são como parecem ser. Há contradição. Estamos sem saber como interpretar. Concordo contigo sobre os besterol que circula na rede, mas é pela rede também que sabemos muitas coisas que jamais saberíamos pelos tradicionais telejornais. Há muita coisa boa na rede. Estamos vivendo grandes desafios. Estou atenta, procurando entender. Obrigada por escrever no meu blog. Sabes que não sou boa para escrever, mas tento. Abraços fraternos e paz.

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