quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A EDUCAÇÃO NOS PROGRAMAS ELEITORAIS

Não se percebe muita diferença nas propostas dos programas eleitorais dos candidatos. Para saber a diferença a gente precisa conhecer o que eles fizeram nas suas atividades políticas, em seus cargos, antes de serem candidatos.

Mas, como ia dizendo, quase todos falam em escolas de tempo integral. Não explicam para fazer o que e como. Dizem que, para melhorar a qualidade. Mas como fazer isso? O modelo de escola que temos, ( com classes uma atrás da outra, em períodos de 50 minutos, fragmentando os conhecimentos, com avaliações classificatórias..., enfim, escolas tradicionais), amplificado em mais um turno, será a fórmula para qualificar a educação?

Escolas sem práticas concretas, com nada ou pouca tecnologia, defasadas e inadequadas para as necessidades e demandas das crianças e jovens que chegam à escola. É preciso reconhecer, com seriedade, que as crianças e jovens que chegam à escola são MUITO diferentes daquelas que chegavam à escola a 10, 15, 20 anos atrás. E não bastam ações simplistas do tipo: "mais hierarquia, mas controle, mais disciplina, mais limite..." Pode ser necessário, efetivamente, em situações específicas, algumas dessas medidas, mas são absolutamente equivocadas, diante do grau de mudanças que ocorreram com a infância e juventude, sem que a escola tenha apresentado nenhum tipo de mudança substancial. Ou seja: os tempos mudaram, o mundo mudou e a escola não se renovou.

A escola tradicional é uma instituição em crise, um lugar de sofrimento. Basta conversar com professores, alunos e pais para constatar isso. Claro que as opiniões sobre o que fazer são as mais variadas e polêmicas que se possa imaginar, mas há um consenso sobre a crise na escola.

Os programas não fazem esse debate, não são claros sobre os professores: sua remuneração, suas condições de trabalho, e principalmente sua formação acadêmica. Esta, a meu ver, defasada e inadequada à sociedade pós-industrial. Valorizam-se títulos acadêmicos, em quantidade, e não em saber-fazer, em qualidade, no processo de seleção de professores. E não se proporciona, aos docentes, de forma sistemática, adequada formação continuada e em serviço.

Os programas (quase todos) falam em muuuuitas escolas técnicas. Não esclarecem porque são tão necessárias. Para saber fazer? Mas o que é saber fazer, hoje, com as fantásticas transformações tecnológicas no mundo do trabalho? Para serem empregados? Ou para serem empreendedores? Percebe-se que se tornou um refrão: "vamos fazer escolas técnicas". "vamos fazer escolas em tempo integral". Que proposta têm para efetivá-las, quem será consultado? Como saber sobre as suas necessidades e que demanda real existe em cada região?

Avançamos muito em universalização do ensino fundamental e há muito mais ofertas de ensino superior. Mas não basta fazer chegar aos bancos escolares. A escola não é um lugar sagrado que opera milagres. Precisa ser repensada e para isso é fundamental a participação ampla da sociedade. É preciso valorizar o magistério, demandar dele mais compromisso e dar-lhe condições dignas. E é preciso muito mais recursos, para que aconteça processos de efetiva aprendizagem.

Novas aprendizagens, novas formas de organizar a comunidade para a participação e para o conhecimento. Não qualquer conhecimento, mas um novo tipo de conhecimento: muito mais humano, ecológico, tecnológico,cooperado, comunicativo e solidário. E o principal: COMO fazer acontecer a aprendizagem. Certamente não mais centrada no professor e muito menos em REPASSAR informações. Muito mais pesquisa, autonomia e iniciativa protagonista dos educandos, que já fazem isso naturalmente. É um desafio e talvez por isso os candidatos NÃO ousam apresentar propostas.

Concluo dizendo que, se depender dos governos, em qualquer instância, não vão operar transformações estruturais. A educação só vai se transformando se houver muita mobilização dos sujeitos do processo: alunos, professores e pais. Como de resto, na agricultura familiar, na reforma agrária, na reforma urbana, na saúde, precisamos exercer a verdadeira cidadania, a democracia verdadeira: ações diretas, pressão e reinvenção dos modos de viver e de participação. A tão propalada democracia do voto é muito insuficiente para operar mudanças. Os governos, por mais boa vontade que tiverem, dependem da pressão social, para que o controle das questões sociais estejam sob o controle dos muitos. Somos os muitos.

2 comentários:

  1. Bom texto, mãe. E só pra meter o bedelho, escola de tempo integral é somente mais uma forma de aprisionar, e não oferecer oportunidades de lazer e cultura aos jovens e crianças que possuem tempo livre. Mete dentro da escola, fecha lá dentro por oito horas, que os professores dão conta...que coisa mais linda,né???

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  2. Pobre professores e pobres alunos também. Isso é que me assusta. Escrevi sobre isso em diversos blogs de políticos. Vamos ver! Bom que escrevestes, obrigada.

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