domingo, 25 de outubro de 2009

Escolas Conflagradas?

Tenho lido as matérias que são divulgadas na imprensa (jornais) sobre educação entre elas a série de reportagens denominadas de “Escolas Conflagradas” que Zero Hora tem divulgado.As matérias tratam da violência que ocorre nas instituições escolares, da perda da autoridade dos professores e educadores em geral e dos efeitos devastadores que isso vem produzindo, principalmente na vida dos professores, que recorrem a psicotrópicos para enfrentar a frustrante e “perigosa” atividade de ser professor. A matéria aponta causas como a droga, a falta de limites, a impunidade e sugere, sem afirmar explicitamente, a necessidade de maior rigor disciplinar e punitivo em relação aos alunos.

A primeira coisa que me chamou a atenção é a generalização: parece que em geral os professores ingerem medicamentos estimulantes e antidepressivos (que são drogas) e que o ambiente escolar é um caos. É preciso salientar que a própria matéria fornece dados elucidativos apontando que são 17% dos pesquisados que fazem uso de medicamentos. Um índice alto, mas 83% não fazem uso de medicamentos desse tipo. E será que a escola é a única causa? Por outro lado, é preciso dizer que existem nas escolas muitas práticas de solidariedade, de alegria, de celebração, de convivência afetiva. A escola não é uma ilha e nunca foi. É ilusão pretender que aquele ambiente esteja preservado em relação ao modo de vida e aos problemas da sociedade.

Creio que outro aspecto que chama a atenção nas matérias é a idéia que elas passam que os problemas apontados sejam, apenas, problemas de conduta dos alunos, deixando de questionar a própria instituição, como se nela nada precisasse ser modificado. Aí é que está, a meu ver, o grande nó da questão. A instituição escolar está em crise, assim como outras tantas instituições da Modernidade: a família, o Estado, a política, etc.

Pensar em resolver a complexidade dessa crise, com medidas disciplinares, certamente os resultados não serão duradouros e eficazes. É preciso, talvez, de imediato algumas medidas nesse sentido, mas é muito mais urgente que se repense todo o funcionamento da instituição escolar, que se repense a própria instituição. Instituição que mantém há séculos a mesma forma de funcionamento. A geração que nos chega às salas de aula não tem as mesmas características e formas de perceber a realidade que a nossa geração. Essa geração que chega às salas de aula, denominada por alguns pesquisadores de “geração celular-conectiva” tem outra forma de leitura de realidade (é imagética), outra forma de se comunicar, de se auto-apresentar, não quer ser representada, não legitima a hierarquia, tem uma linguagem própria, diferente da nossa geração. Para essa geração, que tem acesso amplo a informações, que se criou em outro ambiente familiar, com outras formas de aprender a linguagem, às vezes com pouca atenção, pouco afeto, pouca presença paterna ou materna. Enfim, a instituição escolar, com o caráter disciplinador e de confinamento, desejada por muitos, é rejeitada, por vezes odiada e a reação é a fuga, a agressão. São aspectos que precisam ser considerados.

Mas não poderia deixar de lembrar que no caso do Estado do RS, a própria SE e governadora tem contribuído para agravar a situação e depreciar a importância social dos educadores, prendendo, processando seus dirigentes, na sua legítima luta para melhorar a educação. Além de assoberbar o trabalho dos educadores com determinações de enturmamento, falta de condições de trabalho, redução de carga horária para estudo e formação continuada, ameaças ao plano de carreira, precarização nas formas de contratação, entre outros aspectos que provocam insegurança, frustração e desrespeito à comunidade escolar. Isso as matérias omitiram. Por que será?

Um comentário:

  1. Não se pode esperar muito de matérias sobre educação da ZH ou do DSM. São, na maioria das vezes,superficiais e não problematizam. Gostam de falar de uma crise e apontar soluções práticas como o rigor disciplinar que agora volta a ser o discurso dominante. triste...

    ResponderExcluir