quarta-feira, 4 de agosto de 2010

REFLEXÕES


Tenho lido e acompanhado alguns documentários sobre a sociedade norte-americana e sua atual crise econômica e social. Hoje, enquanto cozinhava o pão integral que fiz (e ficou muito bom: pão com mistura de farinha de linhaça), eu pensava nas mudanças que ocorreram na minha cabeça em relação aos Estados Unidos.

Houve um tempo em que eu tinha quase aversão àquele país. Combatia o que costumava chamar de país imperialista e, sempre que possível, eu denunciava as práticas imperialistas, belicistas e opressoras, em relação, principalmente, ao terceiro mundo.

Continuo sendo crítica às ocupações militares, às bases militares em todo mundo, etc., mas hoje eu procuro não difamar a população norteamericana. Sei que há muita luta e resistência por lá.
No entanto, esta semana dois momentos me fazem falar dos Estados Unidos.

Um é um texto da internet que li sobre o sistema de ensino implantado pelo governo Bush e seguido e elogiado por Obama. A professora americana que comenta, foi uma espécie de ministra da educação (desculpem não lembrar o nome, perdi o texto na rede, tentei encontrá-l0 e não consegui). Ela afirma que achava, com honestidade, que o sistema de avaliação externa, que servia de base para a meritocracia, era a melhor forma de melhorar o ensino. A ênfase do ensino era matemática e linguagem. Desprezavam disciplinas como filosofia, história, sociologia. Os recursos para as escolas eram proporcionais aos desempenhos da mesma, avaliados por provas do governo e a remeneração aos professores, da mesma forma.

Hoje ela avalia que o sistema gerou uma série de desvios e corrupções no sistema e que o ensino não melhorou e defende a volta das disciplinas humanas e sociais e o fim da meritocracia. Isso é preocupante, porque o modelo americano tem inspirado governos por aqui e até o MEC tem copiado algumas iniciativas, entre elas a avaliação externa.

Outro evento foi um documentário que vimos, sobre o sistema de saúde americano. Um documentário de Michael Moore. A ausência de um sistema público de saúde e a total privatização do setor, voltado exclusivamente aos objetivos de lucros, levou as pessoas ao desespero. A doença deixou muitos na miséria, sem casa, sem nada. As seguradoras de saúde, negam tratamento. Os médicos só atendem com a autorização das seguradoras e estas tem uma lista infinita de doenças e condições que impedem o atendimento. Os doentes são descartados pelos hospitais nos meios-fios das calçadas (jogados na rua para morrer).

Michael Moore, vai à Inglaterra e à França para ver como funciona os sistemas públicos de saúde e verifica que por lá o atendimento é integralmente gratuíto, de boa qualidade e inegociável, com cobertura total, sem restrições. Médico e enfermeiros ganham muito bem e trabalham exclusivamente no setor público. Cabe a pergunta: Por que uma nação tão rica e poderosa não pode oferecer o mesmo aos seus cidadãos? Jogar pessoas na rua, desamparadas, sem atendimento para morrer? Que civilização é essa que quer se apresentar ao mundo como defensora da democracia e dos direitos humanos, deixando morrer por falta de atendimento? E, notem, isso não é crime nos Estados Unidos, não dá processo. E o brutal é que muitos médicos (conforme depoimentos deles mesmos) trabalham, ou trabalharam, para seguradoras com a finalidade de negar atendimento a pessoas que estão condenadas a morrer de câncer, diabetes e outras doenças graves. Revelaram isso, com vergonha e remorço.

E, no final, o jornalista leva um grupo de pessoas que contraíram graves enfermidades, no trabalho de socorro às vítimas do atentado de 11 de setembro, a Cuba e lá, totalmente de graça, os cubanos tratam dessas pessoas, com carinho e solidariedade. Comovente! Cheguei a ter pena da população dos Estados Unidos, tão desamparadas, no quesito doença! Claro que aqui a barra é pesada, e sinto indignação com a situação de precarização na saúde, mas apesar de nossa pobreza, ainda nosso povo é bem menos abandonado do que os cidadãos norteamericanos.
O documentário serve para que a gente não caia na besteira de implantar aqui nenhum modelo de saúde copiado dos Estados Unidos. É bom, nesse caso, copiar a França. Mas aqui, a saúde precisa entrar pela boca, pela moradia e saneamento, principalmente.

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