sábado, 8 de maio de 2010

"À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS"

Um dia fui contadora e encarregada de efetuar os pagamentos para os empregados da empresa em que eu trabalhava. Década de 70. Faz tempo e eu tenho saudades.

Dia 30 de cada mês. Sempre tinha alguém a me perguntar: _ Já veio a grana? A que horas sai?
Eu respondia: _ Estou fazendo os envelopes, antes das 6, sai.

E saia. A gente entregava ao empregado um envelope. Do lado de fora estavam os cálculos: valor bruto, mais as horas extras, menos o INPS, menos os adiantamentos, mais o Salário Familia e o valor líquido. Mais ou menos isso e dentro o pagamento, em cédulas. Uns envelopes mais pesados, outros mais leves, conforme o salário e os adiantamentos.

Alguns, com remuneração mais elevada, podiam optar se queriam o pagamento em espécie, ou se preferiam que o dinheiro fosse depositado em sua conta bancária. Estes, recebiam apenas o envelope com os cálculos. O Dinheiro estava disponível no banco e o empregado sabia, que para retirá-lo, deveria ir até o Banco, em dia útil, no horário de expediente, fazer um cheque para sacá-lo, diretamente no caixa.

Hoje tem os caixas eletrônicos e pode-se sacar valores, inclusive nos finais de semana e após o horário de expediente. Que beleza! A gente é obrigado a ter conta bancária, pagar taxas compulsórias e não há opção. Tem que ser assim. É mais seguro e cômodo.
Será mesmo?

Não foi o que aconteceu hoje. Fui ao Banrisul, retirar a aposentadoria da minha mãe. 520,00.
Havia filas de gente "tentando " sacar. Olhares perplexos, caras contrariadas, cochichos discretos mas irritados.
Pensei: _ que gente mal humorada!
Postei-me frente a máquina, certa de que sairia com a aposentadoria. Fiz isso na Caixa Federal e tudo deu certo, por que no Banrisul não daria?
Teclei ENTER, passei o cartão, digitei a senha, cliquei o numero 6, para sacar qualquer valor, mais senha e o aviso: valor solicitado indisponível. Tentei diversas vezes em mais meia dúzia de máquinas, NADA. Tecla de novo, tudo de novo, tecla, tecla, tecla...
Outras pessoas faziam o mesmo. Por que os valores não estavam disponíveis? Havia saldo, tinha olhado o valor. Tentei valores menores, NADA. Acima de 100,00, ninguém retirava. Ninguém para explicar, nem um avisinho que seja.

Por que não se pode retirar o que lhe é de direito? E se a pessoa precisa muuuuuuito desse dinheiro? Quem decidiu que 100,00 é suficiente?
A quem recorrer?
Por um instante me invadiu uma fúria! Olhei ao redor e se encontrasse ali uma marreta, um machado, uma foice, uma barra de ferro, uma cadeira...Ah, eu até poderia ir presa, mas eu ia desfechar golpes e fazer em pedaços a máquina eletrônica. Quem sabe outros me acompanhavam! Resmunguei, suspirei fundo e sai. Paciência! Sei que me irrito à toa.

Pouco antes havia passado numa farmácia: medicamento para minha mãe.
Dei o nome, a vendedora abaixou-se, olhou na parte de baixo da prateleira, não achou, voltou ao computador, bem ali: tecla, tecla, tecla, tecla...ah, agora sim, abaixou-se novamente, no mesmo lugar de antes e achou. Que bom! Ela já havia me advertido que achava que não tinha mais. Ufa, que alívio!
Voltou-se para mim e falou: _ A senhora não que aproveitar nossa promoção e levar paracetamol? Pensei: que promoção! Não, afirmei. _ Tem certeza, está com bom preço.
Pensei: _ comprar só porque está na promoção? Repeti: _ Não estou precisando, obrigada.
Ela me olhou e disse: _ Feliz Dia das mães!
Pensei:
sabe ela se sou mãe! Sorri e disse: _ para você também!
Por que será que me senti desconfortável?

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