quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Eu vi o deboche ao grito dos pobres

Quarta-feira de manhã, ao cruzar a Praça Saldanha Marinho, deparei-me com uma mobilização de moradores das vilas periféricas de Santa Maria, clamando por melhor atendimento à saúde. Estavam com um caminhão de som e um coordenador explicava os motivos da manifestação. Moradores seguravam faixas, queixando-se da falta de médicos nos postos e de outros tipos de negligência, com o atendimento à saúde pública. Estavam presentes pessoas que fazem tratamento contra a Anseniase, conversei com algumas. Haviam muitas mulheres e crianças.
As alegações dos moradores eram muito pertinentes. Pareceu-me uma justa e digna mobilização por um direito fundamental, garantido em Lei.
Sobre isso, li no jornal de hoje (Diário de Santa Maria), que o Secretário de Saúde e vice-prefeito José A. Farré, recusou-se a recebe-los, alegando que não era uma manifestação séria.
Pergunto-me: por que não era séria? Será por que, visivelmente era uma manifestação de gente pobre, modestamente vestida, composta, na sua maioria, de mulheres e crianças?
O que me espantou foi a reação de populares que passavam: Houve gente que desviou o caminho para não passar pelos manifestantes. Dois guardas municipais comentaram com uma senhora e comigo, que aquelas crianças deveria estar na escola e "não aprendendo a fazer baderna". Outro senhor que varria a rua, falou em voz alta, para quem quisesse ouvir: "daqui a pouco esses vagabundos vão acabar presos". As pessoas que passavam, estudantes, senhoras, senhores (gente bem vestida) passavam, riam, sacudiam a cabeça de forma negativa e alguns criticavam a manifestação.
Pensei: O que há de errado com a manifestação? Ou há algo errado com esses populares, tão indiferentes às causas de defesa da vida? A que grau de desumanização ou de decepção se chegou para que uma reivindicação tão pertinente, tão necessária, seja percebida como baderna de gente desocupada? Continuo pensando e ainda não entendi. Alguém pode me ajudar a entender?

Um comentário:

  1. Muito triste teu relato...as pessoas olham essas manifestações como algo completamente alheio a elas...Estão ali andando pela praça e achando que os manifestantes é que "não tem o que fazer". É ridículo.

    ResponderExcluir