domingo, 24 de janeiro de 2010

Envelhecer é um desafio.


Em cada fase da vida a gente tem algum tipo de insegurança, tanto nos aspectos profissionais, quanto nos relacionamentos inter-pessoais. No entanto, para mim, nada se compara com a insegurança de envelhecer, não só porque é chato mesmo percebermos o declínio de nossa corporalidade. Não há como manter o mesmo vigor, a mesma força, já nem falo em beleza, porque essa é muito subjetiva. Mas o avançar da idade nos coloca limites sim: uma luta cotidiana para nos manter caminhando, trabalhando, pensando, produzindo...
A matemática é cruel com quem já passou dos sessenta anos. Coisas do tipo:
- você não é mais convidado para ser padrinho de criança, porque, é provável, a pobrezinha, não vai ter dindos por muito tempo;
- Você pensa em fazer um curso e logo reflete sobre a idade que vai ter quando concluí-lo. Será que vai valer a pena? Por quanto tempo vai aproveitar?
Administrar o provável tempo que resta é um problema: fazer opções, se possível, sem errar porque o tempo urge, é preciso aproveitá-lo bem. Agora, há tempo, ainda, para viajar e realizar algum projeto que antes não foi possível, por causa dos cuidados com a familia ou dos deveres com o trabalho.
Ainda há desejos de fazer muitas coisas que os jovens gostam: sair para um evento, para um festival, para danceterias, bares,participar de lutas diversas, etc. E aí vem a sensura explícita ou implícita. Explícita: "não é lugar para a idade de vocês" ou a implícita que se manifesta no esquecimento para os convites, nas escolhas dos lugares, as vezes sonsos, apropriados aos velhos.
E o sentimento de ridículo então? Entre tantos, demonstrar que ainda há sexualidade ativa...é difícil!
Eu, quase sempre, me sinto ridícula nas festas familiares, na hora das dançar, mas eu danço mesmo assim.
Opinar? Também é complicado. Percebe-se que perdemos a autoridade para falar e ser ouvidos, porque nossa época foi outra. Já criamos filhos, mas a experiência já é passado. Já fomos profissionais, mas agora estamos aposentados,...é a idade do fui, do fiz...Mas, que pena, a humanidade perde porque temos tanta potência de vida, tanta experiência e sabedoria!
Contar histórias? A gente gosta, mas percebemos que começamos a repeti-las e sempre tem alguem para "sutilmente" nos lembrar: "Ah não, pode parar, de novo não"!
E nós, idosos, ainda temos a temperatura alterada, principalmente as mulheres. Sempre com calor, a maquigem escorrendo, o rosto húmido. O que afasta os jovens de nos beijar, nos afagar.
E tem mais: não sei porque, quase sempre, destinam à nossa faixa etária a tarefa de cuidar dos mais idosos que nós. Deveria ser os mais jovens a fazer isso, já que alguns anos "perdidos" não vão retirar o tempo de vida, tão precioso para viajar, sair. Para nossa faixa etária, cinco ou seis anos são, talvez, os anos possíveis para ainda realizar algum sonho, pois temos pouco tempo para realizar essas atividades. Depois vem a doença e a "passagem".Pelo menos as tarefas de cuidados com familiares idosos, deveriam ser compartilhados.
Fora tudo isso nos desafiamos: como nos tornarmos agradáveis, criativos, alegres, bem humorados, engraçados, divertidos, bonitos, interessantes...? Esse é o desafio para que não reste, apenas, concorrer a raínha de algum grupo de terceira idade.
Vou me esforçar para, talvez, não passar pela solidão, que percebo todos os dias, os velhos são submetidos. É depressivo? É a vida como ela pode ser sentida. Mas, no meu caso, sou dura para constatar, mas esperneio, luto e tenho muito ainda para aprontar.
Bem, ajudada pelo meu querido Irineu, vai uma reflexão mais filosófica.
Somos enquadrados a viver nos esquemas da sociedade moderna, que disciplina a todos a ainda disciplina o viver dentro de esquemas pré-estabelecidos e estanques: infância, adolescência, maturidade (tempo produtivo) idoso (aposentado). Ou infância, escola, universidade, trabalho assalariado público, privado, aposentadoria.
Esta sociedade está indo pelos ares, tendencialmente se desmanchando no ar. Todos nós somos produtores de riquezas, através de nosso viver, desde crianças, até morrer.
A vida, desde a infancia, necessita de água, energia, moradia, alimento, comunicação, transporte, cooperação, afeto, acolhimento. E tudo isso acumula riqueza para o capital. O sobrevalor está saindo, principalmente, dos serviços básicos e cada vez menos das fábricas de mercadorias.
As crianças e os idosos sofrem muito mais a opressão das pessoas e do sistema: nos tratam como improdutivos.
Ora, improdutivo, parasita e vampiro é o Capital e as pessoas que assim se comportam e assumem esses enquadramentos.

2 comentários:

  1. E tem mais...O que nós idos0s, aposentados fazemos com a criança e jovem que moram em nós e insistem se mostrar e não se aposentar. Eu sei que nós mesmos reprimimos estas forças ajudados pelas pessoas e regras.Eu luto pára ser esta "metamorfose abulante", um continuo vir-a-ser, embota não pareça, embora naõ consiga ...Sigamos em frente...

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  2. Nossa!!! É isso aí...tem que se libertar das convenções...boa reflexão, dona Tereza. Mas não acho que você sejam censurados, de forma alguma. Vocês tem procurado participar das coisas e acho isso bem legal. Do jeito que tu falas, parece que já tem 90 anos. E tu não é a única que se sente ridícula em formaturas. Nessas festas, todos são ridículos na minha opinião. Quanto a deixar de ser madrinha ou padrinho, grandes coisas né.
    Não pensem que vocês são os únicos a terem que se enquadrar na regras da sociedade moderna. Todo mundo tem que se enquadrar; eu tenho vontade de fazer coisas que quebrariam as regrinhas da moral familiar; não faço ou faria escondido porque sei que poderia ser censurada também. é questão de ponto de vista

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