sábado, 9 de janeiro de 2010

Sobre as pontes que caem

Temos sido bombardeados com notícias de tragédias, que parecem naturais. Perder familiares afogados, soterrados, prensados nas ferragens nos acidentes, não é natural e é, sim, doído e trágico.
Morte natural é morrer de doença, de velhice...Tento me colocar no lugar das pessoas que perdem familiares de forma trágica, ou mesmo imaginar a casa inundada e perder tudo, inclusive coisas que não há dinheiro que recupere, como fotografias e outras coisas pessoais, que guardamos e prezamos. Nosso povo anda sofrido. Devemos, sim, realizar gestos de solidariedade e, principalmente, não acostumar,não perder a sensibilidade.
A imprensa tem exagerado na dose, banalisado a dor, explorado o sofrimento. Não creio que isso ajuda, parece que vai tornando corriqueiro e natural, aquilo que é tragédia.
Mas o que precisamos é que se conheça melhor os acontecimentos. Divulga-se, repetidas vezes, a imagem de um determinado prefeito, chorando a morte do seu vice e não se divulga, quase nada, sobre as medidas, as responsabilidades, as providências que serão tomadas.
Sempre cruzei pontes, com tranquilidade, porque confiava nas tecnologias da engenharia, na competência dos encarregados de vistoriar, na certeza de que os órgãos responsáveis, realmente estavam fazendo seu serviço.
Acreditava, que nos orçamentos públicos, houvesse recursos previstos, para reformas e construções,aquilo que contabilmente chamamos de Reservas. Imaginava que haveria planilhas eletrônicas, com o mapeamento de pontes e com suas respectivas idades e características, situação, estado de conservação, etc. e com a previsão de reformas e reconstruções.
Todos nós somos fiscalizados no trânsito, pagamos taxas, multas, anuidades, pedágios, impostos...acreditando que essas mesmas autoridades que cobram, garantem nossa tranquilidade, pelo menos no que se refere a riscos tão grandes,como o de ruir uma ponte. Os buracos no asfalto a gente tem aguentado.
Ninguém nos conta direito o que os governos fizeram, deixaram de fazer ou farão. Ninguém nos esclareceu se alguma comporta de barragem estourou ou foi aberta. Vivi muitos anos lá perto da ponte do Jacuí. Vi muita enchente, muita inundação de lavouras. O que teve de diferente, dessa vez,que fez a ponte ruir? Qual era a situação dessa ponte? Quando foi vistoriada por técnicos competentes? Queremos saber, temos esse direito.
É certo que o rio está quase sem leito, e muito arrozeiro sabe das causas.
Claro que nos interessa saber da dor das vítimas e queremos todos manifestar nossa solidariedade, mas queremos muito mais, é que os órgãos competentes façam funcionar as estruturas estatais, para que não voltem acontecer tragédias.
Quanto aos cuidados com o rio, todos somos um pouco responsáveis e creio que urge outro tratamento em relação aos rios.
Quanto a construções nos morros, é outro assunto urgente. Olho pros morros de Santa Maria e vejo que já existem construções nos morros. Onde estão os encarregados de fiscalizar e de licenciar? E não são só casas de pobres, são mansões. Já não tem tragédias suficientes para demonstrar os perigos? Estou farta de notícias pobres e apelativas. Notícias que entristecem e que só deixam o medo e a incerteza.

2 comentários:

  1. Assoreamento, erosão do solo, desmatamento, efeito estufa...a natureza tem sua resposta a tanta modificação humana,tanta exploração inadequada dos recursos.

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  2. Isso é interessante Alice, mas a imprensa fanfarrona nunca deu espaço para nenhuma análise séria com esse tipo de conteúdo. Com todo respeito à dor dos familiares, enjoei de saber, em detalhes, a dor do Prefeito de Agudo, pela morte do seu vice.Respeito a dor de quem quer que seja, mas creio que isso é de foro pessoal e não deve ser tão banalisado! O que cabe, no caso, é a preocupação, os cuidados com as vidas que,se continuarmos a tratar tão mal a natureza e se a desatenção e irresponsabilidade continuarem, vão continuar a correr riscos enormes.

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