quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SOFRIMENTO

Fico me perguntando: por que sofro tanto no atual processo eleitoral?
Sob o aspecto da vida particular das pessoas, parece que nada vai se alterar. Não se perde e não se ganha nada. Para mim, não há preocupações com vantagens ou desvantagens pessoais.

No entanto, sei que esse processo faz parte de minha história, da história de minha geração. Não tem como não sentir responsabilidade e apreensão com o que possa acontecer, em decorrência da escolha equivocada para Presidente.
Minha geração viveu uma dramática história, que, em alguns aspectos, reaparece no presente processo eleitoral.

As novas gerações: jovens e adolescentes não viveram, (porque eram crianças ou nem haviam nascido) os enfrentamentos ( e as utopias) que minha geração viveu.
Sou da geração que viu e viveu a extrema pobreza, a dependência, o colonialismo, o preconceito, o machismo, a ditadura militar, a repressão, o medo. Inspirados na utopia socialista ou na teologia da Libertação, nossa geração foi à luta: nas ruas, no enfrentamento à repressão, nas mobilizações gigantescas; viu a construção das Estatais, que criaram a infraestrutura para o país crescer e viu e sentiu o custo pago por toda a sociedade, a imensa dívida externa, a dependência ao FMI.

Veio o Neoliberalismo e vimos e protestamos contra a venda, a preços vis, do Patrimonio Nacional ( a Vale do Rio Doce, a Telefonia, as grandes ciderúrgicas, as distribuidoras de energia) etc.
Diga-se, de passagem, que os investimentos básicos de telefonia foi o Estado que fez e até hoje é o Estado que faz e onde ele não fez ou não faz, não tem telefone.

O neoliberalismo transferiu muita riqueza do povo ao Grande capital, a pobreza cresceu, o desemprego chegou a patamares dramáticos, a desigualdade aumentou. O neoliberalismo expropriou, axauriu, saqueou, traficou, corrompeu, favelizou, desmatou... A crise está aí, no mundo (vejam a crise nos E. Unidos e na Europa, com grandes convulsões sociais).
A América Latina tenta se levantar, e está conseguindo, soberanamente.

O governo Lula não foi o franciscano governo dos nossos sonhos socialistas. Foi o governo possível, de opção pelo social, nas brechas do capitalismo. Compondo com a diversidade da política e com seus grandes e pequenos vícios e desvios, infelizmente. Mas avançamos, reduzimos a fome, democratizamos a cultura, as instituições, o acesso à educação. Estamos crescento a 7%, o que para nossos dias é fantástico. Ainda é pouco, precisamos avançar, superar problemas, melhorar o controle sobre o Estado.

Não podemos recuar. E conhecemos quem foram as forças protagonistas de cada lado. É isso que está em jogo. Uma opção pelo lado errado, significa dependência, repressão à luta social, sofrimento e fome.
Não mudei de lado, como o Helio Bicudo e muitos outros mais chegados a minha vida. Ele, Bicudo, que defendia os presos pela ditadura, os torturados e perseguidos, agora apóia o candidato que trata os movimentos sociais a cassetete.

Não basta não privatrizar, pois os recursos, mesmo das estatais, precisam ser canalizados para o social. Governos pressionados pela luta social (como Lula e Dilma), pela primeira vez na história, começam a destinar, democraticamente, para o social ( não só aos ricos, aos grandes empresários), parcela significativa da riqueza nacional. Isso incomoda a elite, representada pelo Serra.
Há quem reclame que o pobre não é mais submisso, ficou cheio de argumentos, que os pobres agora têm carro e tumultuam o trânsito, que agora se vê negros e favelados na Universidade... Muitos se incomodam com isso, eu vibro com isso!

Faço críticas ao Lula porque quero mais, quero que distribua mais renda, tribute mais as fortunas e os altos salários. Quero mais em relação à democratização da riqueza, da cultura. Quero mais em relação à educação, à saúde, às questões ambientais. Mas creio que é com Dilma que vamos encontrar mais sensibilidade social e mais permeabilidade à pressão social. Se me enganar, deixo aqui o registro e vou me submeter às crítica e às cobranças e vou cobrar também.

5 comentários:

  1. MUITO pertinente o que escreveste.Só quem assistiu de perto a repressão militar, consegue avaliar o que seria o Serra na presidencia!Mas não nos assustemos nós teremos a Dilma lá, se deus quizerAvante com DILMA.

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  2. Minha fiel comentarista. Tu me motivas a escrever. Beijos, te amor! Lembra a música do nosso fiel Chico Buarque? "A minha gente sofrida, despediu-se da dor, para ver a Dilma e o Lula passar, cantando coisas de amor..."

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  3. Imagina!!!!Não comento mais porque tenho vergonha , não sei escrever a tua altura, mas gosto muito de ler os teus questionamentos,tuas análises tenho atérepassado alguns textos para algumas pessoas!
    Continua escrevendo, a gente precisa de opiniões inteligentes.
    Um grande beijo

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  4. infelizmente é preciso optar pelo menos ruim(como fiz qdo ajudei a eleger collares governador e deu no que deu,nem gosto de lembrar).nao votei em dilma(sou simpatizante do psol)mas ver serra na presidência não dá!ainda assim respeito quem pensa diferente.

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  5. Também respeito mas meu relato é para ajudar a entender porque faço campanha. No mais entendo que se Dilma se eleger ou se Serra se eleger, não dá para deixar de fazer luta social. Só a mobilização social, é capaz de, no jogo de forças que ocorre sempre, fazer transformações sociais.Abraço Coia e bom final de semana.

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